Carlos Cardoso 6 anos atrás
O bicho está pegando no Oriente Médio. Eu sei, você está se contorcendo de surpresa com essa informação, mas agora vimos algo raro, depois de tantos anos acostumados com a bananice ocidental.
No começo de junho de 2017 vários terroristas do ISIS atacaram o parlamento iraniano e o mausoléu do Aiatolá Khomeini. Depois de horas de tiroteio o ataque terminou com 18 mortos e 42 feridos. Os 4 terroristas foram devidamente peneirificados.
Depois de botar a culpa nos sauditas, o Irã identificou de onde realmente eram os terroristas, e zerou sua base na região de Deir Ezzor, no leste da Síria. Aí entra o general Amirali Hajizadeh, comandante das forças aeroespaciais da Guarda Revolucionária Islâmica, que é como o Irã chama suas forças armadas:
“Nosso inimigo precisa saber que Teerã não é Londres ou Paris, e se eles continuarem com suas ações, o resultado custará muito caro”.
Custou. Foram 6 mísseis, lançados a mais de 600 km de distância.
Na cidade próxima os populares (adoro essa expressão) capturaram o lançamento:
24 Resistance Axis — IRGC launches 6 ballistic missiles on ISIS HQs in Syria
O Irã usou o Shahab-3, um MRBM, míssil balístico de alcance médio, capaz de levar uma ogiva de uma tonelada e voar por 1.930 km. Foi a primeira vez que ele foi utilizado em combate, demonstrando que já está operacional.
O ISIS foi avisado que isso foi apenas o começo, e o que é deles está guardado.
Ali perto, outro arranca-rabo. Como todos sabem ninguém se entende na Síria, russos apóiam o governo de Assad, que apóia alguns grupos rebeldes. Os americanos apóiam outros grupos rebeldes, que atacam Assad. O ISIS não apóia ninguém e ninguém apóia o ISIS mas nem sempre ele é o alvo. Para dar uma idéia do rebuceteio, esta é a página da Wikipedia que lista os grupos armados envolvidos na Guerra Civil da Síria:
Um desses grupos são as Forças Democráticas Sírias, apoiadas pelos EUA. Eles fizeram avanços importantes contra o ISIS, inclusive tomaram Tabqah, cidade sob controle do ISIS, a menos de 100 km de Raqqa, “capital” do Estado Islâmico. O governo sírio então atacou as FDS, e no dia 18 de maio um comboio do governo foi avistado por um F-15E americano.
Alertas foram feitos, os sírios continuaram em direção a Tabqah. O F-15E então atacou, destruindo um tanque e vários caminhões. Em 6 de junho um drone sírio armado atacou as forças rebeldes das FDS, e foi destruído por outro F-15E.
Os sírios tinham desistido mas agora voltaram a atacar Tabqah, dessa vez com um caça Su-22, a versão de exportação do Sukhoi 17. Ele lançou bombas sobre a cidade, o que provocou reação imediata dos EUA: um F/A-18E da Marinha explodiu o avião sírio. O destino do piloto é ignorado e fora dos press releases ninguém se importa.
Normalmente eu apóio a doutrina americana de só entrar em conflitos com superioridade de 10:1 mas dessa vez foi (ou seria, se houvesse isso em guerra) covardia.
ISTO é uma bomba síria sendo preparada para instalação:
Este é um Su-22, a versão de exportação do Sukhoi 17:
Se ele te parece um avião soviético da Guerra Fria, que voou pela primeira vez em 1966 e é ridiculamente ultrapassado, com performance risível e cujos manuais devem estar em sânscrito, você acertou.
Já este é um F/A-18E Super Hornet.
O pobre Su-22 não teve a menor chance. Assad não gostou muito, foi chorar pitangas com Putin, e a Rússia emitiu um comunicado dizendo que os aviões americanos passarão a ser considerados alvos.
Um Su-22 depois de um bate-bapo com a antiaérea rebelde. O derrubado ontem não deve ter ficado muito diferente.
Depois avisaram que as missões sírias, de caças ou drones serão escoltadas por caças russos. Isso pegou mal além da conta, e retificaram dizendo que as missões serão protegidas por mísseis antiaéreos russos.
Ou seja: é real a possibilidade de que em um futuro próximo russos e americanos se estranhem no ar, diretamente. Mas calma, isso não significa guerra nuclear amanhã se não chover. Os dois vêm trocando tiros eventualmente faz tempo, e se consultarmos o placar, durante a Guerra Fria os russos ganharam de 15 × 3 em termos de aviões derrubados. São riscos da profissão.
O mais assustador é que esse foi o primeiro avião derrubado por um caça americano desde 1999, o ano em que o Super Hornet entrou em serviço, mas isso é assunto para outro artigo…