Carlos Cardoso 6 anos atrás
Nos primórdios da computação, nos tempos dos BBS havia algo chamado FidoNet, uma rede de troca de pacotes entre BBSs, onde em teoria você poderia trocar mensagens pessoais e de fóruns com usuários de outros provedores. Era complicado, quase manual e custava dinheiro, mas quase funcionava.
Nos primeiros dias da internet e suas antecessoras os endereços IP não eram associados a nomes. Logo isso começou a ser feito de forma manual, só foi automatizado em 1984 com a criação do BIND: desde então a gente digita www.google.com e o computador se vira, não precisamos anotar muito menos decorar que na verdade estamos passando para ele o endereço 216.58.202.132.
Os navegadores costumam facilitar mais ainda: se você digita um nome isolado eles tentam as combinações básicas, adicionando .com e similares e testando a existência do domínio. Isso é para suprir a necessidade de retardados como um sujeito que me disse certa vez que não tinha conseguido achar o site da HP. Perguntei se ele havia tentado hp.com. Claro que não.
Achar uma pessoa em uma rede social hoje em dia é facílimo: é possível achar e se comunicar com qualquer pessoa do mundo civilizado, em questão de minutos. Menos por telefone.
Nossos smartphones são máquinas incríveis maravilhosas e complexas mas dentro deles há o lado telefone, com tecnologia e usabilidade da Idade da Pedra. Quem te ligou? De quem é o número? Se não estiver na sua agenda, na formatação exata, ele não sabe. Não existe um catálogo centralizado atualizado, o número piscando em seu aparelho não é acompanhado de informações de quem, de onde, de porquê.
Com toda a tecnologia disponível se uma pessoa que te conhece ligar de um telefone diferente, a ligação se torna anônima. Não há autenticação ou identificação do emissor.
Na internet somos nossos rostos nossos avatares nossos nicknames. No telefone somos um número.
A geração atual trata seus números como descartáveis, são apenas algo que acompanha o chip do celular, que se for o caso é só ir no jornaleiro e comprar outro. O pessoal mais velho ainda lembra da dificuldade em conseguir um número telefônico, como aprendíamos a decorar o número de casa para qualquer emergência, como disputávamos quem tinha a agendinha mais maneira.
Saudosismo é ótimo mas o passado deveria viver no passado. É no mínimo anacrônico e vergonhoso que em pleno 2017 nossos telefones ainda se comportem como em 1936, quando foi feita a transição da ligação via telefonista para a discagem automática, como mostrada neste pitoresco filme de época: