Meio Bit » Arquivo » Ciência » Dois brasileiros voadores

Dois brasileiros voadores

Outro padre voador? Sim, mas dessa vez ele tem cérebro, vem construindo seu avião faz tempo, e o bicho é tão bom que voou e pousou. E ele não está sozinho: também tem a história do carpinteiro que só estudou até a 4ª série, mas queria construir um avião. Resultou em desastre? Sim, para os pessimistas…

8 anos atrás

Alberto_Santos-Dumont_with_Demoiselle

Os leitores do MeioBit sabem que não tenho grande apreço pelas patéticas desventuras de nossa Agência Espacial, um órgão tão inovador que tem um datilógrafo em sua folha de pagamento. Ciência no Brasil em geral é algo tratado como problema a ser eliminado, vide um Ministro de Ciência Tecnologia e Inovação que que cria uma Lei punindo Inovação, ou um Ministro da Saúde que diz que vacinar é muito caro e prefere que as mulheres peguem o vírus Zika antes de engravidar. 

Por outro lado adoro iniciativas legais como o Anequim, aquele avião de alta performance da UFMG.

Assim, é ótimo poder contar pra vocês que podemos enterrar de vez as piadas do Padre Voador. Tirem aquele gosto de Monty Python da boca. Se desde Bartolomeu de Gusmão nosso clero sonha em voar, agora conseguiram. Finalmente.

O autor da façanha é o padre Albino Dziadzio, um coroa de 70 anos que comanda a paróquia de Nossa Senhora do Monte Claros, em Ponta Grossa, PR. Apaixonado por aviação desde criança. Como era muito mais inteligente que aquele mané dos balões, padre Albino resolveu pesquisar antes de construir seu avião, o Borboleta Branca 1 (não reclame se ele fosse bom com nomes estaria trabalhando na Polícia Federal). Terminado em 1992, ele não voou.

O padre não quis cometer o erro de Eilmer de Malmesbury, um monge do Século XI que se esborrachou ao testar um planador (calma, ele sobreviveu). Preferiu empregar os conhecimentos que ganhou construindo o Borboleta Branca 2 — A Missão.

foto_principal

Começado em 1996 o avião levou quase 20 anos para ficar pronto, e custou uns R$ 30 mil. Com 7 metros de comprimento e um motor 2,0 L de Santana; foi todo feito com alumínio, madeira, cola e tubos. O padre fez tudo no olho e na mão, com ajuda apenas para instalar a parte elétrica e montar o motor.

Mesmo não sendo um primor de eficiência aerodinâmica, o BB-2 voou algumas vezes, na mão de José Emérico Iansen, um piloto amigo do padre. Em um desses vôos ele percorreu 50 metros a 3 metros de altura.

CO_CB_AviaoDoPadreAlbino-8-960x491

Não é nada não é nada, o primeiro vôo dos Irmãos Wright percorreu meros 36 metros, e mesmo o 14 Bis mal chegou a 60. Foi um feito e tanto, e uma realização para o padre co-piloto, que só voou “uma ou duas vezes na vida”. Que ele sirva de inspiração, principalmente para as crianças.

O outro brasileiro notável é um carpinteiro (não o chefe do padre) nascido em Cunha, cidadezinha de 20 mil habitantes no interior de São Paulo. O cidadão, Jorge Lopes Pereira. Mesmo tendo estudado apenas até a 4ª série, amava aviões e decidiu que construiria um. Baixou planos de um modelo francês da internet, percebeu a complexidade do projeto mas não se rendeu. Ele escolheu o caminho mais longo, mais árduo e mais gratificante: começou a estudar.

Vendo que não compreendia a ciência envolvida, Jorge correu atrás de supletivos. Estudando de noite e trabalhando de dia, ele concluiu o ensino fundamental, fez todo o ensino médio e prestou vestibular para engenharia aeronáutica.

Jorge passou de primeira, e mesmo com todas as dificuldades se formou. Em 11 anos ele saiu de um carpinteiro com ensino fundamental incompleto para um engenheiro aeronáutico.

Hoje Jorge trabalha em uma empresa de Barreiras, BA que constrói e faz manutenção em aviões.

dscn0162_4

Imagem ilustrativa, não é esse o avião que Jorge está construindo.

A empresa está ajudando Jorge no projeto, a estrutura de madeira e tela está pronta, falta motor painel e fiação. O sonho dele é chegar em Guaratinguetá, cidade onde sua família mora, voando. Só que falta um detalhe: aprender a pilotar. Jorge precisa tirar um brevê, mas convenhamos: pra um marceneiro que virou engenheiro por pura teimosia e perseverança, não vai ser um curso de piloto privado que o irá deter.

Fontes: G1 e Paraná Online.

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários