Marcellus Pereira 14 anos atrás
Um pouco de história: há muitos, muitos anos, no começo da era da Informática, havia uma enorme "fauna" de sistemas operacionais, computadores, processadores e linguagem. Um "caldo primordial", chamemos assim. Zilog, Mostek, Inmos, Intel, Motorola, Fairchild, Texas Instruments... todas brigando pela supremacia, tentando ditar o rumo da indústria.
Mas, como diria Darwin, a evolução cuida de tudo. Depois de uma sangrenta batalha, a Intel derrotou um a um seus oponentes no mercado de "desktops": Zilog, Motorola, AMD... e os que restaram, procuraram outros nichos (como sistemas embarcados). Já contei parte dessa odisséia antes.
O sucesso dos microprocessadores Atom (ainda que não vendam nada, comparado aos ARM) foi a gota final para que esta última percebesse que, se não corresse (muito e logo), seria tirada da estrada pelo caminhão Intel. Então, novos núcleos foram desenvolvidos, muito mais poderosos, para brigar "em pé de igualdade" com processadores mais poderosos da linha x86, tendo a vantagem dos muitos periféricos agregados e um consumo de potência baixíssimo.
Até pouco tempo, era fácil comparar os vários núcleos ARM. ARM11 era (e é) mais rápido que o ARM9, que é mais rápido que o ARM7. Por "mais rápido" entenda "núcleo mais novo, melhor rendimento por ciclo de clock etc... mas agora, a coisa mudou um pouco de figura. As novas famílias se chamam "Cortex", identificadas por letras: A ("highend", os topo de linha), R ("midrange") e M (os mais simples).
Os Cortex A8 são ótimos processadores de 32 bits, com pipelines separadas para instruções de processamento de dados multimídia, "branch prediction", dois níveis de cache, controlador de memória e velocidade de até 1GHz. A família Cortex A9 pode ter múltiplos núcleos.
Vejam como a vida é uma roda gigante: a Motorola (hoje Freescale) "perdeu" a briga dos processadores para a Intel, depois de atrasar demais o 68060. Depois, perdeu o bonde dos PowerPCs. E agora, quando a batalha parecia ganha e apenas a AMD dava algum sinal de resistência, eis que surge uma nova possibilidade: retomar o "controle" do mercado, pelo menos o de "nettops" e de notebooks híbridos.
Explico: segundo o presidente e CEO da ARM, Warren East, alguns notebooks como o Dell Latitude ON E4200, têm um Core 2 Duo para rodar o Windows e aplicações "pesadas" e um ARM, rodando GNU/Linux®, para acessar a internet e ler emails, fazendo a bateria durar muitas horas a mais. Palavras dele, não consegui confirmar a configuração no site da Dell. De qualquer forma, "netbooks" muito interessantes têm surgido, como o modelo da Pegatron (subsidiária ASUS), que custa por volta dos US$ 199,00 e cuja bateria dura 8 horas.
A Freescale agora tem "poder de fogo" para brigar (e vencer em vários quesitos) a Intel, nesse nicho de mercado. Seu i.MX51, além de ter um núcleo Cortex A8, tem dois aceleradores gráficos licenciados da ATI (OpenGL e OpenVG) além de uma extensa lista de periféricos, como USB, UARTs, I2C, SPI, SPDIF, Ethernet e por aí vai.
A grande questão é: o público leigo, que não se importa com o fabricante do processador, mas com o software que ele roda, está disposto a sacrificar sua comodidade no mundo Windows por horas de bateria a mais? Sim, porque não há versão do sistema de Redmond rodando em processadores ARM e isso faz toda a diferença.
Se a comunidade fosse mais articulada, se tivesse mais (muito mais) gente com visão de negócio e marketing, poderia lançar uma enorme campanha, alardeando as grande vantagens do sistema do pinguim, a facilidade de uso, qualquer coisa que não envolvesse ideologia. A ARM, certamente, adoraria...