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Você comemorou a aprovação do Brasil no projeto do Supertelescópio?

Lembra daquela situação encruada do Brasil com o ESO, o projeto do observatório no Chile com um consórcio de 15 países? Lembra que foi aprovada finalmente a liberação da verba, pondo fim a um calote de anos? Pois é…

9 anos atrás

despair

A vocação anticientífica do Brasil não é de hoje, nem com um regime militar tocando o barco conseguimos construir um submarino nuclear, projeto que se arrasta até hoje, por falta de verbas. Passamos vergonha repetidas vezes, seja no US$ 1 bilhão que jogamos fora com o tal Cyclone, o foguete que iríamos construir com a Ucrânia, seja com o fiasco de nossa participação na Estação Espacial Internacional, brilhantemente detalhado neste artigo épico do Pedro Burgos.

Um dos grandes fiascos foi o projeto do ESO — European Southern Observatory, que entre outros irá construir o E-ELT, o European Extremely Large Telescope no Chile por um consórcio de 15 países. Em 2012 nós já estávamos dando calote no projeto. Em 2014 ainda nada havia sido decidido, o projeto já trabalhava com plano de contingência se o Brasil não pagasse sua parte.

No começo de fevereiro de 2015 o excelentíssimo deputado Fábio Garcia (PSB) retirou de pauta a votação dos recursos para o projeto no Congresso e discursou:

Solicitamos a retirada de pauta de um acordo que o governo federal fez com a União Europeia que faria o Brasil gastar 800 milhões de reais com pesquisa astronômica. Os astros que precisam ser enxergados no Brasil é o povo brasileiro que sofre com a ausência de saúde, educação e segurança pública de qualidade! Tamojunto!

A reação geral foi surpreendentemente negativa, o deputado explicou que não era bem isso, voltou atrás e a câmara desarquivou o projeto, com as ressalvas de sempre. Em maio as verbas foram aprovadas, YAY, um viva para a Ciência. Nada como um final feliz, certo?

Errado. O projeto foi enviado para a Presidência, para ser sancionado, mas três meses depois nada de a Dilma meter a caneta e dar andamento. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, comandado pelo digníssimo Aldo Rebelo, que criou uma Lei CONTRA inovação avisa que o projeto de adesão do Brasil ao consórcio está em estudo pelo governo federal.

Isso mesmo. O Brasil entrou (como membro interino) no projeto em 2010. As propostas, mais que públicas rodam por entre os envolvidos todo esse tempo, tudo foi mais que discutido. Agora, aos 48 do segundo tempo da prorrogação pós-pênaltis o Executivo resolve que vai ESTUDAR o projeto?

Estudar O QUÊ? Ninguém leu essa merda? O texto foi apresentado pela Presidente da República em 18/2/2013, agora o Ministério que estudar o documento que eles mesmos enviaram? CACETE, a entrada do Brasil pro ESO foi assinada em 2010 pelo Sérgio Rezende, Ministro da Ciência e Tecnologia do então presidente Lula, não exatamente inimigo ideológico do governo atual.

Já é hora de assumirmos que ciência não é nosso forte. Vamos abraçar a meta de nos tornar referência mundial em sandália de pneu, se bem que a meta era 2014. Como a data já foi atingida, vamos dobrar a meta e mirar em 2028.

De resto, se você ainda tem alguma dúvida de que o Brasil odeia ciência… lembra do projeto do Romário, que desburocratizava a compra de materiais científicos como reagentes equipamentos e outros insumos, evitando que por pura lerdeza alfandegária materiais com prazo de validade muito curta chegassem aos cientistas já deteriorados?

Pois é, foi arquivado.

Fonte: Estadão.

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