Carlos Cardoso 14 anos atrás
Muitos anos atrás caiu em minhas mãos uma tarefa ingrata: Criar um player Flash para plataforma Palm. Me debrucei nas especificações, mas antes que pudesse começar a me preocupar em como fazer um formato pensado para computadores high-end e 24bits de cor funcionar em um PDA com 4 tons de cinza, 2MB de memória e 16MHz de clock, uma cláusula me salvou:
Era proibido criar versões do Flash Player para Palm. (A Sony tinha um acordo exclusivo, só os Cliés tinham Flash)
Anos depois, no mundo Windows Mobile, o Flash continuou existindo quase como "de favor". A Adobe não tinha o menor interesse em desenvolver uma versão nativa decente. De vez em quando soltava uma migalha. Éramos excluídos, escurraçados, párias do mundo digital. Me sentia um usuário Linux.
Quando o cinto começou a apertar a Adobe saiu criando Flashes decentes para Windows Mobile, e até o Linux conseguiu um player de verdade, e comprometimento da empresa em mantê-lo atualizado. Mas e o iPhone?
O iPhone, assim como o bambu, é um problema. A Adobe com certeza quer colocar Flash no iPhone, não estamos mais nos velhos tempos onde ela podia escolher mercado. O buraco entretanto é mais embaixo. Quem não queria era a Apple.
O Flash no iPhone (assim como no Palm e em outros dispositivos) representa uma outra porta de entrada. Uma outra interface. Com muito pouco esforço é possível criar uma interface própria, um launcher de programas, e transformar o que seria um player de aplicações em um desktop completo.
Um suporte Flash de primeira, no iPhone significa que a App Store pode ser completamente contornada. Lembrem-se, o Flash acessa hardware, Internet, tudo. E Actionscript é muito mais simples de programar do que Objetive C.
Por essas e outras a Apple fugia do Flash como o Stallman do banho. Mas no mundo de hoje você não é mais dono do seu produto, o Mercado falou e no melhor estilo Nelson Rodrigues, quem não dá atenção, gera condição. A condição aqui se Chama Android, o sistema operacional da Google para celulares e afins. Abaixo, um vídeo do mesmo rodando uma aplicação, demonstrada por kevin Lynch, Chefe de Tecnologia da Adobe:
E agora, Bial?
O jeito, já que grandes players do Mercado se juntando aos consumidores criaram uma situação onde NÃO ter Flash é suicídio, é lançar um Player para o iPhone. A Apple diz que é complicado, a Adobe repete o discurso e diz que ambas estão trabalhando em conjunto para agilizar o desenvolvimento.
Será mesmo complicado assim? Hardware o iPhone tem de sobra. Flash roda até no meu HTC Touch velho de guerra. (Pra não dizer no Sony Clié) Então provavelmente a demora não é técnica, e sim política. Eu acredito que a demora envolve longas negociações de como disponibilizar o Flash no iPhone, mas cortar suas presas antes.
Nós TAMBÉM vimos esse filme antes. A Apple, com sua psicótica mania de controle fechou o desenvolvimento de programas do iPhone a ponto de liberar somente aplicações web (a burra da Palm vai tentar o mesmo caminho). Não deu certo.
Se vier um Flash lobotomizado, incapaz de funcionar com as aplicações mais complexas (e legais) Adobe e Apple terão dado o maior tiro no pé de 2009.
Será que a Apple aprendeu com seus velhos erros? Veremos.