Ronaldo Gogoni 9 anos atrás
Com certeza o ano de 2013 foi um dos mais movimentados no mercado de games. Além de estarmos num momento de transição da sétima para a oitava geração e contemplamos a chegada dos novos consoles da Sony e da Microsoft, a geração de partida, os PCs e os portáteis também receberam uma quantidade muito grande de títulos de qualidade, além do fato de termos diversas declarações atravessadas, fechamentos de empresas, o grande crescimento do mercado de jogos indies e a consolidação do crowdsourcing como um forma justa de financiar games que nunca veriam a luz do dia de outra forma.
Vamos falar um pouco dos principais acontecimentos de 2013 na indústria dos games:
A Nintendo não teve um bom ano. Ela pagou o preço por iniciar a oitava geração antes de seus concorrentes com o Wii U, apostando novamente na fórmula do Wii e investiu tanto no público informal quanto nos fãs de suas consagradas franquias. Os problemas começaram quando as desenvolvedoras começaram a pular fora do console, uma atrás a outra. Da EA à Bethesda, todas foram se afastando por n motivos, desde limitações técnicas à baixas vendas do console, causadas em boa parte por ela mesma, ao não dissociar o Wii U da impressão inicial de que se tratava de um acessório e não um console completo. Isso não impediu a Big N de demonstrar mais uma vez que ela é capaz de arrancar o máximo de seu hardware, como Super Mario 3D World provou no fim do ano. A previsão de 2014 não é muito diferente, com exceção de exclusivos de outras produtoras como Bayonetta 2, além de promessas próprias como o novo Super Smash Bros.
Falando em portáteis, a Nintendo continua liderando o mercado de portáteis com o 3DS, que teve o óbvio boom de vendas tanto de suas versões normal e XL como o controverso Nintendo 2DS graças a Pokémon X e Y, os games que inauguraram a nova geração da franquia dos monstrinhos de bolso, que não mostra sinais de enfraquecimento mesmo tendo mudado pouco em 17 anos de história.
Tanto Beyond: Two Souls como The Last of Us figuram nas listas de muita gente e de sites especializados como os melhores jogos do ano, e arrisco dizer que o último é de longe o melhor da geração e um dos melhores títulos que joguei na vida. Eu ainda não o concluí, mas depois de ver tantas representações de um futuro apocalíptico em games, filmes, animações e livros, talvez o título da Naughty Dog seja o que mais se aproximou de uma possibilidade real do que a Terra pode se tornar, não no aspecto de uma infecção que mataria muita gente mas de como a sociedade humana se degradaria, a ponto de nos fazer externar o pior de nossa espécie.
O console ainda teve uma pequena pérola: Ni no Kuni: Wrath of The White Witch é sobre todos os aspectos uma ode aos RPGs dos 16 bits na mecânica e um trabalho primoroso da parceria entre a Level 5 (da série Professor Layton) e o Estúdio Ghibli de Hayao Miyazaki. Da ambientação à trilha sonora de Joe Hisaishi e a história, é tudo construído de forma fiel às obras-primas do aclamado diretor, ainda que ele não tenha se envolvido diretamente com o projeto.
Já o PS Vita não foi muito bem. A Sony foi obrigada a transformar o portátil numa máquina de indie games, o que não é de todo ruim. Além disso a PS Plus trouxe inúmeros títulos de qualidade para o console de mesa, mas em algumas ocasiões ele privilegiou tanto o Vita que é praticamente inviável comprar um sem assinar o serviço. Ainda assim ele teve títulos muito bons como Soul Sacrifice, Guacamelee! (no caso este é cross-play e depois pulou para o Steam, mas ele brilha no Vita) e Tearaway.
Já a Microsoft preferiu concentrar suas fichas na nova geração. Com exceção de poucas surpresas agradáveis como State of Decay, pouca coisa do Xbox 360 mereceu grande destaque neste ano.
E foi neste ano que a guerra entre ambas esquentou. A Sony deu a largada anunciando o PlayStation 4 em fevereiro, porém perdeu para a Microsoft por preferir revelar a cara e informações completas do console apenas na E3. Já a Microsoft se adiantou em um mês e revelou o Xbox One em maio, reservando a feira para explorar a grande lineup do console, que querendo ou não foi melhor do que a do concorrente. O problema é que devido as decisões de design do console como exigir conexão o tempo todo e restrição a jogos usados a Microsoft foi atacada por todos os lados (inclusive pela Sony, que não perdeu a chance de fazer piadas), culminando com ela voltando atrás em muitas das decisões então tomadas. No fim das contas Don Mattrick, diretor da divisão Xbox e defensor das restrições a ponto de dar declarações atravessadas se mandou, indo para a Zynga.
O lançamento dos consoles foi aquele corre-corre típico, ambos sumiram das lojas e no que tange ao Brasil, os preços praticados foram caros como sempre. A Microsoft ainda conseguiu amenizar o valor fabricando o Xbox One aqui, mas a Sony resolveu cobrar preço Premium de R$ 4 mil, que ficou sem explicação depois que a Nintendo trouxe o Wii U, também importado por R$ 1,9 mil.
O ano foi excelente para quem estava esperando lançamentos multi-plataforma. Começando com DmC: Devil May Cry, passando por Metal Gear Rising: Revengeance, Dead Space 3 e os arroz-de-festa Call of Duty: Ghosts, Assassin’s Creed IV: Black Flag e Battlefield 4, o ano de 2013 viu a esperada chegada do quinto título da franquia Grand Theft Auto, que cresceu tanto que não pode ser mais considerada uma franquia, mas um fenômeno cultural: muita gente que sequer tinha interesse em games do estilo sandbox (eu incluso) mudou de ideia graças às inúmeras novidades que a Rockstar introduziu, num trabalho primoroso. Ele se tornou a obra de entretenimento de maior sucesso da história merecidamente, até para justificar o alto custo, sendo o jogo mais caro de todos os tempos.
Devo fazer uma pequena menção honrosa a um jogo que me deixou curioso em 2013: Remember Me. O game da pequena desenvolvedora francesa Dontnod e publicado pela Capcom chamou muita atenção antes do lançamento, por pegar conceitos tão explorados nos filmes e livros de Philip K. Dick e apresentá-los numa abordagem inovadora. O fato da protagonista Nilin ser uma mulher forte (e mulata, algo raríssimo nos games; a última vez que vi algo assim foi em Papo & Yo) gerou controvérsias quando a produtora declarou que o game foi recusado por várias publishers, por ninguém acreditar na força da personagem e preferir que o jogo fosse protagonizado por um homem (algo parecido também envolveu a capa de The Last of Us). O jogo em si não é memorável, mas a história é sem dúvida muito bem construída e prende o espectador, além da Paris de 2084 apresentada no título ser ao mesmo tempo deslumbrante e pútrida, como todo bom Cyberpunk.
Porém se tem um título multiplataforma que merece destaque, este é BioShock Infinite. Confirmando a maestria que Ken Levine possui para conduzir uma boa história (e nos fazer esquecer do desastre que foi BioShock 2), o FPS que nos coloca na pele de Booker DeWitt, um homem que só deseja "encontrar a garota e se livrar de sua dívida" se mostrou muito maior do que qualquer um poderia conceber. Da ambientação à trilha sonora, passando pelo desafio e história inesquecíveis, tudo neste game é épico. Além disso Levine conseguiu a façanha de fazer os jogadores discutirem por meses questões tão abstratas como manipulação do destino, realidades alternativas, saltos no tempo-espaço, constantes e variáveis.
A Valve pode ter encontrado a fórmula mágica para alavancar o Linux no desktop. Após Gabe Newell declarar guerra à sua antiga casa Microsoft, ele abraçou o pinguim e correu para lançar uma versão do Steam para a plataforma. Tudo bem que poucos títulos hoje são compatíveis com o sistema, mas o anúncio das Steam Machines, que rodarão uma versão dedicada do Linux baseada no Debian pode mudar esse cenário. Como os protótipos são PCs personalizados de US$ 500, qualquer um poderá montar uma máquina equivalente e instalar o sistema operacional (que ainda está em fase beta), bastando apenas adquirir o curioso controle exclusivo.
E 2014?
As previsões para 2014 parecem animadoras. O primeiro ano da nova geração promete jogos ainda mais impressionantes dos que o que vimos até agora, porém é evidente que a sétima geração sofrerá um revés violento. Ainda que ótimos jogos estejam a caminho como Watch Dogs, é regra que nos próximos meses os lançamentos irão rarear, ao contrário do desejo dos fabricantes de manter tanto o PS3 quanto o Xbox 360 por pelo menos mais dois anos. O 3DS continuará firme, assim como o PC, que poderá ver uma grande mudança com as novidades da Valve. Já o PS Vita é um assunto complicado. Embora as vendas tenham aumentado graças ao PS4, a falta de títulos de impacto pode voltar a se tornar crítica e a Sony precisa fazer alguma coisa a respeito.
Enfim, 2013 foi um ano excelente. Feliz Ano Novo a todos e que venham mais jogos incríveis em 2014!