Ronaldo Gogoni 9 anos e meio atrás
Quando o Chromecast foi lançado, uma das limitações iniciais era o fato de que ele não foi projetado inicialmente para realizar streaming de mídia armazenada localmente ou na nuvem. Por questões de contrato ele se resume a espelhar as abas do Chrome (o que rendeu uma reação curiosa de executivos de TV) e por uma parceria, a princípio o Netflix é o único serviço de streaming que oferece suporte total, fora serviços do próprio Google, como o YouTube.
Alguns desenvolvedores preencheram essa falta desenvolvendo apps como o AllCast, que permitia fazer streaming de arquivos na Galeria, no Dropbox ou no Google Drive, ou o AirCast, com funcionalidade similar. Entretanto o Google não gostou, pegou a bola e botou ambos pra fora do play com a última atualização do firmware do dongle, que segundo o desenvolvedor do AllCast Koushik Dutta, foi feita de propósito:
“Atenção. A última atualização do Chromecast quebra o AllCast intencionalmente .
Como esta é a segunda vez que eles removem/desabilitam de propósito a habilidade de executar mídia de fontes externas, isso confirma algumas das minhas suspeitas que tenho sobre o programa para desenvolvedores do Chromecast:
A política parece ter uma abordagem bastante seletiva, dentro da qual apenas conteúdo aprovado pode ser executado através do dispositivo. O Chromecast provavelmente não será amigável com desenvolvedores independentes. A equipe do Google TV provavelmente terá uma lista de empresas de mídia liberadas (para usar o dispositivo).
Eu recomendo fortemente que evitem comprar o Chromecast agora, para vermos como o Google vai se comportar com aplicações de terceiros. Há outras plataforma (abertas) que você pode comprar e/ou apoiar, como LeapCast, NodeCast, etc.”
A mudança que o Google fez no SDK se resume a três linhas no código, que dizem respeito à reprodução de vídeo. Agora elas se encontram assim:
if
(
"mirror_tab"
!= a) {
return
null
;
}
Com isso qualquer coisa que não seja mirroring de abas (fora dos apps que já dão suporte) será bloqueado. Não demorou muito e o Google através do The Verge respondeu às acusações de Dutta, dando a entender que o bloqueio realmente foi deliberado (grifos nossos):
"Nós estamos empolgados para trazer mais conteúdo e gostaríamos de suportar todos os tipos de apps, incluindo aqueles que permitem acesso à conteúdo local. Ainda estamos nos primeiros dias do Google Cast SDK, que foi lançado numa versão para desenvolvedores apenas para testes. Nós acreditamos que o SDK vai continuar a mudar até o lançamento oficial, e queremos proporcionar aos usuários e desenvolvedores uma grande experiência, antes de tornar o SDK e apps adicionais conversarem."
E é isso. O recurso de abrir arquivos de mídia diretamente no Chrome e jogar para o dongle funciona normalmente, mas esta é uma gambiarra e está longe de ser o cenário ideal. Não se sabe o que o Google pretende, se limitar o acesso de desenvolvedores apenas na atual fase inicial ou se por força de contratos com emissoras e provedores de conteúdo, manter o Chromecast na rédea curta. E sabendo como os executivos de TV pensam, a segunda opção não é algo tão difícil de acontecer.
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Rapidinha: enquanto desenvolvia este texto, o Google anunciou que o app do Chromecast agora está disponível também no iOS, permitindo o controle do dongle também através de iGadgets. Isso claro, se o dono já não tiver uma Apple TV.
Fonte: Ars Technica e The Verge.