Meio Bit » Hardware » TSMC suspeita de abastecer Huawei e infringir sanções dos EUA

TSMC suspeita de abastecer Huawei e infringir sanções dos EUA

Departamento de Comércio dos EUA investiga se TSMC forneceu componentes à Huawei; foundry pode ser proibida de produzir chips para a Apple

18/10/2024 às 11:30

TSMC, fabricante taiwanesa de semicondutores que imprime processadores e SoCs para inúmeros clientes grandes, entre eles a Apple, está sendo investigada pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos (DoC), por supostamente infringir as sanções comerciais impostas à China, que proíbem empresas locais de colocarem a mão em componentes de ponta; no caso, ela teria abastecido a Huawei.

Caso a empresa seja considerada culpada, a TSMC pode ser multada e sofrer sanções, que a proibiriam de trabalhar com tecnologias e designs norte-americanos, como os chips Apple Silicon e AXX, além de ficar igualmente impedida de prestar serviços a companhias como ARM, AMD, Nvidia, Intel, Qualcomm, e várias outras.

Logo da TSMC na sede da empresa em Hsinchu, Taiwan (Crédito: Ann Wang/Reuters)

Logo da TSMC na sede da empresa em Hsinchu, Taiwan (Crédito: Ann Wang/Reuters)

TSMC na mira dos EUA

Não é segredo para ninguém, a essa altura do campeonato, que o principal motivo para as sanções comerciais impostas às companhias chinesas desde 2019, não foi uma retaliação contra espionagem industrial (note, os EUA nunca apresentaram as provas contra a Huawei, foi tudo na base do "confia"), mas conter o avanço tecnológico do País do Meio, de modo a proteger seus interesses.

Claro, ninguém é santo nessa história, e a China vem respondendo na mesma moeda, impondo a setores e servidores públicos, e em breve ao público, que adotem soluções locais em detrimento de produtos de companhias como Apple, Microsoft, Intel e outras; até a Tesla está perdendo espaço para a BYD em carros elétricos, com uma mãozinha (pesada) de Pequim.

Foquemos na Huawei, no entanto. Em 2019, a companhia chinesa havia assumido o segundo lugar no mercado global de smartphones, atrás da Samsung e passando à frente da Apple, e seus dispositivos eram bastante elogiados; vieram as sanções, e a Huawei ruiu como um castelo de cartas, ao ser proibida de operar com tecnologias e serviços oriundos dos EUA.

Na essência, a Huawei não pode ter acesso aos serviços do Google, bem como não pode usar tecnologias recentes desenvolvidas pela ARM, que embora seja britânica, também observa as sanções americanas e europeias. No máximo, a empresa chinesa tem que se virar com componentes locais, e chips com processos de litografia antigos, acima de 7 nm, considerados não-críticos pelo Departamento de Comércio.

Isso até o dia em que a Huawei apresentou o Mate 60 Pro, um smartphone equipado com o Kirin 9000s, um SoC de 7 nm impresso pela SMIC, algo considerado "impossível" sem que a foundry tivesse acesso a tecnologias sancionadas. Outros componentes do smartphone, fornecidos pela sul-coreana SK Hynix, também não poderiam ter sido usados, o que a fornecedora deu uma de João-sem-braço, dizendo "não fazer ideia" de como a Huawei os conseguiu.

Claro que as autoridades norte-americanas ficaram fulas nas calças com o ocorrido, e o Departamento de Comércio abriu uma extensa investigação, no que sobrou para a TSMC. A conclusão preliminar é de que a foundry de Taiwan estaria fornecendo chips de 5G e de IA à Huawei, o que seria uma clara violação das regras; ambas tecnologias estão listadas com um grande "não vender para a China" do lado, e todo mundo é obrigado a seguir, na base do "manda quem pode, obedece quem tem juízo".

Se a violação for comprovada, o DoC, presidido por Gina Raimondo, aquela que puxou a orelha de Jensen Huang, CEO da Nvidia, pode tomar diversas medidas, desde a mais rasa, que seriam multas substanciais, à alternativa final, impor sanções também à TSMC, proibindo-a de colocar as mãos em tecnologias restritas, o que geraria diversas repercussões, nenhuma delas boa.

Como comentado antes, a TSMC hoje concentra poder demais nas mãos, não apenas por ser a única manufatura que atende a Apple, mas por prestar serviços de manufatura a diversas companhias fabless (que não imprimem seus designs), uma lista que inclui, além da maçã, gigantes como ARM, AMD, Qualcomm, MediaTek e Nvidia, além de Broadcom, Marvell, Spectra7 e Spreadtrum; ela também produz parte dos chips de empresas com impressão própria, como Texas Instruments, Samsung, e Intel.

Se sancionada, a TSMC não poderá prestar serviços a nenhuma dessas empresas, o que seria um problema menor para quem tem suas próprias foundries, mas um bem grande para as fabless, especialmente a Apple, que foge da Samsung, antiga parceira na produção de seus SoC, e dispensada anos atrás, como o diabo da cruz, por imprimir chips com menor desempenho quando comparados aos produzidos pela companhia de Taiwan.

Claro, tal movimento seria um golpe mortal contra a TSMC, que ficaria impedida inclusive de operar com designs recentes da ARM, e de adquirir maquinários de ponta da ASML, o que em última análise, reduziria seu valor estratégico para a China, na possibilidade (remota, mas vai que...) de o premiê Xi Jinping cumprir as antigas ameaças, e anexar a ilha à força.

A Apple, que recentemente anunciou o SoC M4 (impresso pela TSMC), pode ser pega no fogo cruzado (Crédito: Divulgação/Apple)

A Apple, que recentemente anunciou o SoC M4 (impresso pela TSMC), pode ser pega no fogo cruzado (Crédito: Divulgação/Apple)

O procedimento provável (e sensato) a ser tomado pelo Departamento de Comércio dos EUA, seria a aplicação de multas e a manutenção dos acordos vigentes, mas visto que o governo Biden não está disposto a ceder de nenhuma forma, chegando ao ponto de mandar a DARPA se virar e desenvolver novos tipos de semicondutores, para não depender dos elementos estatizados pela China, uma nova rodada de sanções não seriam uma surpresa, mesmo se isso signifique prejuízos cavalares para seus clientes, Apple inclusa.

De qualquer forma, só nos resta aguardar pelo desenvolvimento das investigações, mas uma coisa é certa: boa parte dos clientes que poderão ser futuramente afetados, como Cupertino, estão neste momento repensando a estratégia de colocar todos os ovos em uma cesta só.

Fonte: The Information

Leia mais sobre: , , , , .

relacionados


Comentários