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Flappy Bird, "crypto bros", mentiras e NFTs

Criador de Flappy Bird desmente versão de "grupo de fãs" que anunciou nova versão do game, esta baseada em criptomoedas e NFTs

18/09/2024 às 10:28

De todas as marcas relacionadas a games do passado, Flappy Bird figura entre os cases de "sucesso" mais atípicos. Um simples game móvel programado pelo desenvolvedor vietnamita Dong Nguyen, e lançado em outubro de 2013, o jogo em que você controla um passarinho amarelo para desviar de obstáculos se tornou uma febre no início de 2014, chegando a gerar US$ 50 mil por dia.

Porém, em um ato completamente inesperado, Nguyen removeu Flappy Bird das lojas digitais dias após o boom, por preocupações com o vício que ele poderia causar em jovens, e pelo fato de que o game "destruiu" sua rotina e vida tranquilas. Mais do que rápido, as lojas digitais do iPhone e do Android foram atochadas de clones, que eram exterminados por Apple e Google (esta, principalmente por virem cheios de malware), para deter espertinhos.

10 anos depois, Flappy Bird volta a ser o centro das atenções (Crédito: Reprodução/Flappy Bird Foundation/Gametech Holdings LLC)

10 anos depois, Flappy Bird volta a ser o centro das atenções (Crédito: Reprodução/Flappy Bird Foundation/Gametech Holdings LLC)

Meses depois, em agosto de 2014, Nguyen lançou uma nova versão, Flappy Birds Family, exclusiva da Amazon App Store, com recursos de multiplayer e sem os elementos mais viciantes; o game continua disponível, mas nem de longe foi tão popular quanto Flappy Bird, algo intencional por parte de seu criador.

Por isso, alguns ficaram surpresos com o anúncio de que Flappy Bird voltaria reformulado, por um novo estúdio e com suposto envolvimento de Dong Nguyen, o que ele rapidamente desmentiu, revelando uma história regada a oportunismo e NFTs.

Flappy Bird, agora com NFTs

Na época em que Flappy Bird explodiu, o Dori o descreveu como um game com "gráficos pobres, efeitos sonoros irritantes e uma jogabilidade demasiadamente simples", o que era e ainda é verdade. O que também é verdade, um game de sucesso não necessariamente será aquele com os melhores gráficos, ou trilha sonora épica. Ou seja, boas ideias nascem simples.

O passarinho amarelo conquistou seu público por ser um game acessível, mas com um desafio insano, o que prendia a atenção dos jogadores, mas Nguyen não viu o aumento significativo da receita do game, 8 meses após o lançamento de Flappy Bird, como uma boa coisa. Embora ele tenha citado na época a preocupação de que seu título viciava crianças e adolescentes, o fator principal para a morte do passarinho foi que o desenvolvedor detestou ter se tornado uma celebridade no meio.

Nguyen queria continuar como um ninguém, ao invés de arriscar se tornar o próximo Daisuke "Pixel" Amaya (Cave Story), ou um novo Phil Fish (Fez), sendo que este colheu os frutos amargos de sua superexposição ao público, após o lançamento do documentário Indie Game: The Movie. O vietnamita não desejava esse nível de fama, e preferiu matar sua galinha de ovos de ouro, para ser esquecido pelos gamers.

Não deu certo, claro. Pressionado pelo público e imprensa, Nguyen acabou reformulado o game original, removendo o que considerava como fatores viciantes, onde Flappy Birds Family roda exclusivamente em dispositivos da Amazon (tablets Kindle Fire, dongles e set-top boxes Fire TV), de forma proposital para limitar o alcance do título.

Dong Nguyen, criador de Flappy Bird, só queria sua vidinha tranquila de volta (Crédito: STR/AFP/Getty Images)

Dong Nguyen, criador de Flappy Bird, só queria sua vidinha tranquila de volta (Crédito: STR/AFP/Getty Images)

Infelizmente para Nguyen, Flappy Bird não permaneceria enterrado, e nem falo dos clones.

Em 9 de fevereiro de 2014, apenas UM DIA após o game ser removido do iOS e Android, um grupo chamado Mobile Media Partners entrou com uma ação junto ao Escritório de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos (U.S. Patent and Trademak Office, ou USPTO), clamando para si o registro do nome Flappy Bird, alegando que o vietnamita o vagou.

Dizendo representar uma marca (hoje extinta) FlappyBirdReturns.com, a Mobile Media Partners dizia "ter adquirido" os direitos do nome Flappy Bird junto à Apple (algo que nunca foi da maçã, aliás), e que a marca não estava sendo usada por ninguém no momento. De fato, a Lei norte-americana permite tal manobra desde que o dono original não se oponha, e como Dong Nguyen não respondeu a contatos, o grupo conseguiu registrar a patente em 2018.

Em 2023, uma companhia chamada Gametech Holdings LLC entrou com uma nota de oposição contra Nguyen, de modo a reclamar para si os direitos de explorar a marca Flappy Bird, e novamente, como o dev original não e manifestou, a USPTO deu o caso como encerrado, com ganho para o primeiro grupo, que coincidentemente, tem o mesmo endereço físico que a Mobile Media Matters.

Corta para setembro de 2024, e um "grupo de fãs" chamado Flappy Bird Foundation, convenientemente fundado em 2023, anuncia o retorno do game, com novas mecânicas e recursos, mas o público começou a olhar torto quando foi revelado que Michael Roberts, fundador da 1208 Productions, estaria envolvido; seu estúdio é voltado quase que inteiramente a games móveis com recursos de crypto e NFTs.

Não obstante, Dong Nguyen publicou uma única mensagem no X a respeito do assunto, sobre declarações Gametech Holdings de que havia adquirido os direitos do game junto ao desenvolvedor, assim como os de Piou Piou vs. Catcus, o título que teria inspirado Flappy Bird:

As pessoas então começaram a fuçar, e coisas interessantes surgiram. Enquanto a Flappy Bird Foundation jura que o novo Flappy Bird será "100% gratuito", Michael Robetrs republicou uma postagem no X ligando o game a colaboradores de projetos em Web3, leia-se tecnologias que envolvem crypto e blockchain (este um recurso ótimo, mas geralmente mal usado), no que o post diz que jogadores se envolverão em ações ligadas à mineração na rede Open Network, ou TON.

Asim, jogadores poderiam captar recursos e coletar recompensas exclusivas, não caindo muito longe da árvore dos NFTs. De fato, o próprio formato de Flappy Bird favorece a criação de avatares persosnalizados que podeeriam ser oferecidos aos jogadores, tal qual os macacos emburrados da Bored Ape Yacht Club, onde um nunca é igual a outro.

Enquanto o game per se continuaria gratuito, personalizar sua experiência seria outra história. A criptomoeda eleita seria o Solana, conforme imagem encontrada no código-fonte da página oficial FlappyBird.com, já deletada.

Imagem removida do site FlappyBird.com, fazendo referência à Solana (Crédito: Reprodução/Flappy Bird Foundation/Gametech Holdings LLC)

Imagem removida do site FlappyBird.com, fazendo referência à Solana (Crédito: Reprodução/Flappy Bird Foundation/Gametech Holdings LLC)

Aos interessados, Flappy Bird tem data de retorno para outubro de 2024 em navegadores, e em 2025 no iOS e Android, mas fica a curiosidade se o passarinho fará tanto sucesso quanrto outrora, ainda mais dada a repulsa do público por crypto, NFTs, e afins.

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