Dori Prata 21/08/2024 às 9:10
Até quando é possível que um homem consiga se redimir pelos erros do passado? Essa é uma pergunta para a qual provavelmente não temos a resposta e com certeza não serei eu a me arriscar nela. Mas para Peter Molyneux, a esperança é que a libertação aconteça após o lançamento do seu próximo jogo, o Masters of Albion.
Por mais que muitas pessoas odeiem admitir isso, Peter Molyneux é uma lenda do games. Mesmo com suas ambiciosas promessas não cumpridas tendo rendido inúmeras críticas e até gerado sobre ele uma aura de uma certa fanfarronice, alguém que nos deu obras de arte como Populous, Dungeon Keeper, Black & White, Theme Park e Fable não pode ser relegado a um mero mentiroso.
Por isso, quando um game designer com esse currículo anuncia algo, me reservo o direito de lhe dar um voto de confiança e torcer para que os bons tempos de glória voltem. Se isso realmente acontecerá, teremos que esperar para saber, mas a julgar pelo que foi mostrado na Gamescom, Molyneux e o pessoal da 22cans parecem estar no caminho certo.
Ainda sem uma data prevista para o seu lançamento, Masters of Albion será um god game de mundo aberto em que, segundo sua página no Steam, deveremos “construir durante o dia, lutar durante a noite em uma épica história de poder e consequência.” E como qualquer jogo de Peter Molyneux, neste também temos ideias bastante promissoras — ou seriam exageradamente ambiciosas?
Se o estúdio conseguir entregar o que foi prometido neste primeiro momento, em Masters of Albion poderemos personalizar quase tudo. Da comida à casa em que os personagens morarão. Até mesmo as armas poderão ser montadas da maneira que quisermos, o que nos permitirá, por exemplo, criar uma espada em que no lugar da lâmina haverá um pão.
“Você pode criar qualquer coisa: a comida que as pessoas comem, as roupas que elas vestem, as armas que elas usam, as armaduras com as quais lutam,” diz o game designer no trailer do jogo. “Há uma estratégia por trás de cada criação. Posso até os alimentar com ratos.”
Tudo isso deverá ser feito durante o dia, quando usaremos o cursor em forma de mão que marcou os jogos da Bullfrog e da Lionhead para reunir recursos e nos preparar para quando o sol se por. Já durante a noite, o nosso objetivo será proteger nossa aldeia, o que inclui possuir qualquer habitante e assim passaremos para um jogo de ação com visão em terceira pessoa.
A primeira vez que Molyneux citou a existência do Masters of Albion foi em outubro de 2023, quando ainda se referia ao jogo como MOAT. Na ocasião ele criou um blog para falar sobre o desenvolvimento, afirmando que pretendia voltar ao que tinha feito com jogos como Fable e Black & White, e agora, fez uma autocrítica ao falar sobre sua experiência pelo mundo mobile.
“Que diabos eu estava fazendo? Pensei comigo: preciso voltar para casa, para o PC e para os consoles,” revelou durante uma conversa com o jornalista Geoff Keighley. “Então olhei para o Dungeon Keeper, peguei algumas coisas que queria explorar mais com o Dungeon Keeper. Fiz o mesmo com o Black & White. Fiz o mesmo com o Fable.”
Peter Molyneux então reuniu 20 pessoas, sendo alguns profissionais que participaram da criação daqueles jogos e dessa vez não apostou no financiamento coletivo, preferindo bancar o desenvolvimento do Masters of Albion do próprio bolso. E felizmente, pelo menos por enquanto nada foi dito sobre esse novo projeto explorar NFTs, blockchains, microtransações ou qualquer outro tipo de ideia mirabolante.
Quanto a possibilidade de o novo jogo se passar no mesmo universo do Fable, afinal ambos acontecem em um lugar chamado Albion, em entrevista ao site IGN o game designer explicou que mesmo havendo uma certa similaridade entre os mundos, não devemos fazer tal associação.
“Albion é o antigo nome inglês para Inglaterra, País de Gales e Cornualha,” declarou. “E eu acho que é um mundo realmente interessante. É um universo interessante que Fable tocou e realmente acho que Albion, em Masters of Albion, expande isso, mas não é realmente Fable 5 ou algo assim.”
Mas além do trailer e das belas imagens divulgadas até agora, o que me faz acreditar que com o Masters of Albion Peter Molyneux pode acertar, é a ausência de promessas improváveis. No ano passado ele chegou a afirmar ter aprendido a lição, após perceber que se deixava levar pelo calor do momento enquanto conversava com jornalistas.
“Eu podia estar numa entrevista como essa com você, com um jornalista e eles me fariam uma pergunta e eu pensaria, ‘essa é realmente uma boa ideia’ e diria, ‘sim, sim — nós teremos porcos voadores’”, refletiu. “Porque eu estava pensando que estava projetando o jogo enquanto conversava com a imprensa, é disso que estamos falando aqui... no mundo de hoje, isso é uma loucura total.”
Situações assim faziam com que a equipe envolvida na criação dos jogos não tivesse ideia do que o game designer estava falando e nem consigo imaginar o caos que ele causava após cada entrevista. Agora, a frente de menos pessoas e aparentemente ciente do estrago que suas declarações podem causar, torço para que o Masters of Albion se mostre tão divertido quanto parece e ajude a limpar a imagem de um sujeito tão talentoso, mas que se perdeu com as palavras.