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Peter Molyneux e Suas Histórias Maravilhosas

Em entrevista, Peter Molyneux admite ter feito promessas que não poderia cumprir e explica o que o levou a tal comportamento

33 semanas atrás

Assim como Ed Bloom, de Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, muitas vezes Peter Molyneux também teve uma certa dificuldade em separar a fantasia da realidade. E assim como o personagem vivido por Ewan McGregor no filme dirigido por Tim Burton, o tempo parece ter feito o game designer inglês perceber que precisava se desgarrar da fábula em que fazia questão de viver.

Peter Molyneux

Crédito: Reprodução/Gamerscore Blog/Wikimedia Commons

Uma das figuras mais polêmicas da indústria, muitas pessoas odiavam as promessas exageradas feitas por Peter Molyneux, com algumas inclusive o tratando como um grande mentiroso. Porém, sua criatividade não se limitava ao campo dos sonhos, a mecânicas e universos que nunca saíram do papel.

Ao olharmos para a carreira de Molyneux, podemos encontrar diversos excelentes jogos criados por ele e por isso não acho exagero colocá-lo ao lado dos gigantes. Populous, Theme Park, Dungeon Keeper, Black & White e Fable estão facilmente entre alguns dos jogos que mais me encantaram e por mais que o sujeito tenha derrapado em várias declarações, seu legado não pode ser apagado.

Mas o que teria o levado a fazer tantas promessas quase impossíveis de serem cumpridas? Pois ele mesmo tem a resposta para essa pergunta e a deu durante a participação no podcast My Perfect Console, de Simon Parkin.

“Eu podia estar numa entrevista como essa com você, com um jornalista e eles me fariam uma pergunta e eu pensaria, ‘essa é realmente uma boa ideia’ e diria, ‘sim, sim — nós teremos porcos voadores’”, refletiu. “Porque eu estava pensando que estava projetando o jogo enquanto conversava com a imprensa, é disso que estamos falando aqui... no mundo de hoje, isso é uma loucura total.”

Populous (Crédito: Divulgação/Bullfrog Productions)

Para Peter Molyneux, um dos agravantes para o problema seria a maneira passional com que sempre tratou o desenvolvimento de jogos, o que o levava a não calcular muito bem as consequências de suas declarações.

“Para mim, dar entrevistas naquela época era mostrar a paixão que você tinha por um jogo, a paixão pela coisa que estava criando,” se defendeu. “E o que eu deveria ter dito na entrevista era, ‘veja, tudo o que eu falo, tenha uma certa cautela e sabe, talvez não acabe no jogo. Talvez eu nem conte ao resto da equipe sobre isso.’”

Hoje Molyneux admite ter exagerado e que por mais de uma vez anunciou recursos sobre os quais ele nunca tinha pensado antes. Logo, as pessoas com quem trabalhava não faziam ideia do que ele estava falando, com elas lhe dizendo que souberam daquilo pela imprensa.

“Aquilo foi atroz e tenho uma enorme quantidade de arrependimento por isso, sinto remorso pelo que fiz,” declarou o game designer. “Mas, você sabe, acho que um dos [meus] trabalhos naquela época era mostrar ao mundo o quão fantástico o jogo era. O processo de design era criar aqueles jogos que nunca existiram antes; nos anos 90 e 2000, estávamos criando gêneros quase todos os anos — e quando você cria algo, é um ato de verdadeira invenção e se torna fácil se perder em sua paixão.”

Fable Anniversary (Crédito: Divulgação/Lionhead Studios)

Após sermos bombardeados com tantas mentiras, não estranharei se algumas pessoas acusarem Molyneux de não estar sendo sincero, mas realmente acredito que ele se arrependeu do passado. Creio que as pessoas podemaprender com seus erros e evoluir, e com sua carreira tendo decaído muito após tantas promessas surreais, até isso pode ter contribuído para que ele buscasse uma redenção.

Também precisamos levar em consideração a pressão que esse sujeito encarou ao longo dos anos e nem estou falando das cobranças quando respondia a companhias como a Electronic Arts ou a Microsoft. Segundo Peter Molyneux, ele chegou a receber ameaças de morte e por mais que elas não tenham passado de ridículos desabafos de alguns imbecis, certamente mexeriam com a cabeça de muita gente.

De qualquer forma, o inglês parece ter aprendido a lição, pois apesar de atualmente ele e sua equipe estarem trabalhando em um novo projeto, não deve ser coincidência não termos ouvido falar muito sobre ele.

“No passado, eu começaria contando a vocês sobre todo o jogo, todo o design e porque ele seria o jogo mais brilhante do mundo. E as pessoas olhariam para isso e poderiam ficar bastante chateadas e nervosas. Então não farei isso,” disse Molyneux durante o evento Gamelab, realizado em Barcelona no mês de junho.

Black & White (Crédito: Reprodução/Ray Soderlund/MobyGames)

Depois, o game designer até falou que eles podem ter encontrado uma mecânica que nunca foi utilizada num jogo, mesmo se tratando de algo situado num mundo e num ambiente familiar às pessoas. Segundo ele, seria algo como um Fable, misturado com Black & White e Dungeon Keeper.

“A única coisa que direi é que esse jogo é o primeiro jogo em que realmente programei desde o Black & White. Isso o torna muito especial para mim. E em segundo lugar, ele tem evoluído e temos explorado ideias sobre ele há quase cinco anos. Então, você sabe, ele está muito, muito próximo do meu coração. Cada parte de mim quer contar tudo sobre ele, mas sabe, isso seria bobagem.”

Bom, eu não quero criar expectativa em relação a nada em que Peter Molyneux se envolva, mas como disse antes, alguém que já nos deu jogos tão fantásticos nunca deveria ser ignorado. Quem sabe ainda não está por vir o seu verdadeiro Peixe Grande?

Fonte: Time Extension

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