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Kiss, ABBA e a "imortalidade" digital

Bandas como Kiss e ABBA recorrem a avatares digitais, para continuarem "vivos" fazendo shows e ganhando dinheiro, pela eternidade

14 semanas atrás

O Kiss, a maior e mais antiga banda de glam rock em atividade, está finalmente dando adeus aos palcos, após 50 anos de estrada. Quer dizer, os integrantes de carne e osso, pelo menos: no encerramento da turnê de despedida, na última sexta-feira (1.º), o quarteto revelou seus planos para continuarem fazendo shows, desta vez, com avatares digitais em seu lugar.

Tal jogada não é nem de longe uma novidade, tanto é que o Kiss recrutou a mesma empresa responsável pela tour digital do ABBA, mas o recurso vem se tornando cada vez mais adotado por músicos e grupos para manter o dinheiro dos fãs circulando, por tempo indeterminado.

Membros do KISS como avatares digitais, revelados em show recente (Crédito: Reprodução/Industrial Light & Magic/Disney/Pophouse Entertainment/KISS)

Membros do Kiss como avatares digitais, revelados em show recente (Crédito: Reprodução/Industrial Light & Magic/Disney/Pophouse Entertainment/KISS)

Em meio século de atividade, o Kiss já passou por várias formações (dos membros originais, apenas Paul Stanley e Gene Simmons permanecem), e como uma marca multimídia planejada desde o início, a banda já monetizou sua imagem de praticamente todas as formas possíveis e imagináveis, fora os álbuns e shows, o que inclui quadrinhos, filmes, brinquedos, video games, etc., etc., etc.

A própria carta da "turnê de despedida" foi usada mais de uma vez pela banda, mas segundo o Kiss, a aposentadoria agora é para valer, já que nenhum dos integrantes está ficando mais jovem; Simmons, o mais velho, completou 74 anos em 2023, mas pendurar os coturnos não é uma opção, pois segundo Stanley, "a banda pertence aos fãs". Extraoficialmente, o motivo é dinheiro, claro.

Assim, os planos para o próximo passo após o fim da turnê End of the Road, encerrada dia 1.º de dezembro de 2023 no Madison Square Garden, Nova Iorque, envolveram o que o Kiss chama de "imortalização" dos integrantes: Stanley, Simmons, o guitarrista Tommy Thayer, e o baterista Eric Singer, foram transformados em avatares digitais, que continuarão se apresentando pelo mundo daqui para a frente.

Idealmente, "para sempre".

O fãs presentes no show foram apresentados aos avatares após a última música executada pela banda de verdade, obviamente Rock and Roll All Nite. As versões digitais de Stanley, Simmons e cia. agradecem ao público por torná-los "imortais", e que "uma nova era" para o Kiss começa agora, enquanto tocam God Give Rock and Roll to You.

O resultado é parecido com abordagens interativas que a banda vem experimentando nas últimas décadas, com a turnê Psycho Cyrcus (1998-1999) sendo a referência mais óbvia, mas também lembra iniciativas virtuais de grupos que "não existem" como o Gorillaz e, mais recentemente, as tentativas musicais da Riot Games, como a banda Pentakill e o grupo pop K/DA.

Os fãs do Kiss estão acostumados com as extravagâncias multimídia da banda, que não foram poucas ao longo dos anos, logo, esta não é uma aposta tão furada assim. Damon Albarn, líder e vocalista da banda de britpop Blur, co-criador do projeto Gorillaz com o quadrinista Jamie Hewlett (Tank Girl), apostou corretamente que a identidade visual consistente (leia-se realista) de um grupo musical ajuda, mas não é determinante para o sucesso.

Claro, o Kiss se tornou um sucesso mundial, apostando pesado no aspecto visual, dos figurinos às pirotecnias no palco. Porém, mesmo não sendo "reais", os avatares digitais da banda seriam um "próximo passo" natural, se o entendermos como o golpe publicitário da vez, que pode, ou não, durar muito tempo.

Os avatares digitais da banda foram renderizados pela Industrial Light & Magic, já as atrações do show virtual usando os modelos foram concebidas pela companhia sueca Pophouse Entertainment, responsável por projetos digitais envolvendo músicos locais, como Avicii e Swedish House Mafia, além de, claro, o ABBA.

É deles o projeto de turnê virtual ABBA Voyage, a primeira oficial do grupo desde 1980, iniciada em 2022 e atualmente em curso, que utiliza avatares digitais dos integrantes como eles eram em 1979, aproveitando de liberdades que apenas o meio digital pode prover, assim como no show virtual do Kiss.

Embora muita gente torça o nariz para atrações do tipo, a ABBA Voyage está rendendo muito bem, obrigado, com um caixa médio de US$ 2 milhões por semana. Em números oficiais, a turnê arrecadou US$ 150 milhões do início até setembro de 2023, e vendeu mais de 1,5 milhão de ingressos.

Logo, investir em avatares digitais para continuar ganhando dinheiro com shows ao vivo era um movimento óbvio para o Kiss, dado o histórico.

Conforme o tempo passa, é esperado que mais músicos apelem para representações digitais deles mesmos quando não puderem mais subir aos palcos, para que a grana com apresentações continue entrando por mais tempo, mas tal movimento depende da recepção do público.

Os bons resultados da turnê do ABBA, e esticando a corda, a existência do Gorillaz, que faz shows "virtuais" (com banda ao vivo, fora da vista) justificam a empreitada, e o Kiss pode ser só a bola da vez, no que mais gente deverá explorar esse filão, se se provar lucrativo.

Fonte: Pophouse Entertainment

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