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NASA faz caquinha e perde contato com a Voyager 2

Comando errado enviado pela NASA fez antena da sonda Voyager 2 se desviar da Terra, impedindo a comunicação; felizmente, há solução

32 semanas atrás

Um erro da NASA fez com que a Voyager 2, em sua missão de 4 anos estendida para impressionantes 46 e contando, perdesse o contato com a Terra. Em um evento que pode muito bem ser definido como uma trapalhada honesta, a antena da sonda espacial, a responsável por receber comandos da Terra, foi levemente desviada.

Embora a Voyager 2 esteja incomunicável no momento, nem tudo está perdido: como ela realiza manobras periódicas de realinhamento de forma automática, a agência espacial norte-americana acredita que poderá restabelecer contato com a sonda em breve.

Representação artística da sonda Voyager 2 (Crédito: JPL-CalTech/NASA)

Representação artística da sonda Voyager 2 (Crédito: JPL-CalTech/NASA)

As sondas Voyager 2 e 1, lançadas nesta ordem em 1977, tinham uma missão original prevista bem mais curta, para explorarem o Sistema Solar exterior, de Júpiter em diante. No entanto, sua boa desempenho e o design comedido, bem como a costumeira prática de não dispensar o que continua funcionando, permitiram ambas continuarem operando em caráter mínimo, inclusive graças a gambiarras para redirecionar energia e manter tudo funcionando.

Atualmente, a Voyager 1 é o aparato construído pela mão humana mais veloz da história, viajando a 3,57 UA/ano (1 UA = a distância entre o Sol e a Terra, ~8 minutos-luz) e o que está mais longe, a aproximadamente 160 UAs de distância, no limiar do espaço profundo. A Voyager 2 se encontra a 133 UAs (dados de 09/07/2023), mas ambas continuam no alcance das estações em terra.

Em verdade, a Voyager 2 passou por um perrengue recente também por dificuldades de comunicação, mas não por culpa dela. No início de 2020, uma das principais antenas radio-telescópicas da estação australiana, a Deep Space Station 43, ou DSS-43, passou por reparos que duraram 8 meses, e ela era a única capaz de se conversar com a sonda, que ficou no escuro por todo esse tempo, já que havia sido remanejada para explorar Tritão, um dos satélites naturais de Netuno; a Voyager 1 se comunica com a Terra por meio de outras antenas.

Embora ambas Voyagers funcionem bem em modo automático, elas continuam recebendo comandos para redirecionamento e outras funções, inclusive foi o que permitiu acionar o bypass de acesso à bateria sobressalente, permitindo que a 2 continue funcionando até 2026, pelo menos. O problema, humanos são humanos, que o diga a Mars Climate Orbiter (MCO).

Lançada em 10 de dezembro de 1998, a sonda tinha como missão analisar a atmosfera e o clima de Marte, bem como identificar alterações na superfície. Porém, após uma viagem de 9 meses, no dia 23 de setembro de 1999, quando o processo de aproximação foi iniciado, a NASA identificou um problema.

Ao invés de entrar na atmosfera a uma altitude de 150 km, a MCO o fez com meros 57 km, a trajetória executada a colocava perigosamente próxima do planeta vermelho, e não deu outra: a sonda torrou de forma épica.

Representação artística da Mars Climate Orbiter (Crédito: JPL-CalTech/NASA)

Representação artística da Mars Climate Orbiter (Crédito: JPL-CalTech/NASA)

O motivo para o fracasso não demorou a aparecer: uma unidade do sistema em solo da MCO, desenvolvido pela Lockheed Martin, usava o sistema de medidas padrão dos Estados Unidos, ao contrário da NASA, que segue o Sistema Internacional de Medidas. Basicamente, a navegação da sonda usava metros/km, e o em solo, jardas/milhas.

Como consequência, o computador no solo produzia resultados em libra-força/segundo, enquanto a MCO entendia os números como unidades com base em newton-segundo. A relação entre os sistemas de medidas é de 4,45, uma margem de erro absurda.

A NASA não culpou a Lockheed, e entubou o prejuízo de US$ 1,2 bilhão (corrigidos pela inflação) por ela própria não ter realizado uma checagem prévia no sistema, para garantir que todo mundo falasse a mesma língua. Mas voltando à Voyager 2...

Conforme a NASA, uma série de comandos enviados à sonda no dia 21 de julho, dentro do que é normalmente realizado, fizeram com que a antena da Voyager 2 se inclinasse 2 graus para mais longe da Terra. Pode parecer pouco, mas foi o suficiente para deixá-la totalmente incomunicável.

A agência só revelou a presepada uma semana depois do ocorrido, e não explicou como os tais comandos causaram o desvio; tudo indica ter sido um não tão mero erro de cálculo, totalmente não-intencional.

Embora a situação esteja longe do previsto, a NASA tranquilizou a comunidade científica, ao afirmar que, assim como aconteceu com o desligamento temporário da DSS-43 para reparos, a Voyager 2 continua operando de modo autônomo, e o contato pode ser recuperado, graças às manobras agendadas de reposicionamento, que ela realiza várias vezes no ano, no que sua posição volta para a original.

A próxima manobra programada na sonda está prevista para ser ativada no dia 15 de outubro de 2023, no que a NASA acredita que até lá, a Voyager 2 se manterá no curso previsto e operando normalmente, como aconteceu em 2020, assim, o contato será restabelecido normalmente. Vamos aguardar.

Fonte: NASA

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