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UE: baterias em celulares serão removíveis até 2027

A partir de 2027, smartphones, consoles portáteis, carros elétricos, etc., terão baterias removíveis de fácil substituição na UE

34 semanas atrás

União Europeia (UE) está pronta para definir o próximo elemento padrão em dispositivos eletrônicos depois do USB-C, a e são as baterias. Uma nova regulação do Conselho Europeu, baseada em uma proposta de 2020 da Comissão, determina que a partir de 2027, todos os gadgets que usam modelos embutidos migrem para o formato de removíveis, sem exceções.

Caso a proposta passe da maneira proposta pelo crivo do Conselho e do Parlamento, e se torne Lei, smartphones e tablets, como iPhone, iPad e dispositivos Android, laptops, controles de videogame, consoles portáteis, e até mesmo carros elétricos, serão obrigados a contar com soluções que permitam ao próprio usuário trocar as baterias, sem complicações.

Qualquer dispositivo que use baterias, como o iPhone 14 Pro Max acima, deverá permitir acesso e substituição simples ao usuário (Crédito: Reprodução/iFixit)

Qualquer dispositivo que use baterias, como o iPhone 14 Pro Max acima, deverá permitir acesso e substituição simples ao usuário (Crédito: Reprodução/iFixit)

A proposta original da Comissão Europeia, agora convertida em regulação pelo Conselho, visa implementar um ciclo sustentável para baterias de íons de lítio, usadas em diversos setores da indústria, comércio, serviços e produtos finais. De cara, os métodos de produção devem observar o uso responsável de materiais raros, maior durabilidade, e compromisso com o recolhimento e reciclagem dos componentes.

Ao mesmo tempo, a nova regulação proíbe completamente o uso de designs embutidos, independente da aplicação. Focando inicialmente em gadgets para o usuário médio, a decisão afeta a quase totalidade dos smartphones de hoje, além de tablets e alguns modelos de controles de videogame, como o DualSense da Sony e os Joy-cons da Nintendo (os joysticks da Microsoft sempre usaram pilhas), consoles portáteis como o Steam Deck, drones e outros equipamentos de uso pessoal, e laptops em geral, como a linha Mac e outros ultrafinos, de fabricantes como Lenovo e Dell.

Caso a proposta vire Lei nos próximos meses, ela deve entrar em vigor em 2027, e até lá, os fabricantes serão obrigados a reverem seus designs, em prol de implementar baterias removíveis, e não apenas isso: o acesso deve ser simplificado ao extremo, de modo que o usuário possa ele mesmo adquirir uma bateria sobressalente, e fazer a substituição sem a necessidade de ferramentas ou conhecimentos específicos.

Smartphones de ponta, como o iPhone 14 Pro Max, exigem ambos; suas entranhas são um pesadelo para qualquer um que não tem a menor ideia do que está fazendo, isso se conseguir abrir o case selado e protegido contra poeira e água, uma das vantagens do design embutido, sobre o qual falaremos mais para a frente.

Caso o design não seja suficientemente simples, a fabricante fica obrigada a fornecer, gratuitamente, ferramentas de acesso à bateria aos usuários e a ensiná-los como usá-las.

A regulação também força as empresas a recolherem 73% do lixo eletrônico até o fim de 2030, e chegarem a uma taxa de 80% de reaproveitamento do lítio até o fim de 2031, enquanto a eficiência na reciclagem de modelos de níquel-cádmio, ou pilhas comuns, deve chegar a 80% até o fim de 2025.

Carros elétricos entram na mira da UE

Se você acha que Apple, Samsung, Sony, Nintendo e cia. vão reclamar, e muito, das novas regulações da União Europeia, saiba que os grandes players também serão igualmente afetados. A legislação deixa bem claro que todo mundo vai ter que se enquadrar, se quiserem continuar fazendo negócios nos 27 países-membros do bloco, e é todo mundo mesmo.

O documento é bem claro ao especificar que as regras valem também para baterias de maquinário industrial, modelos de ignição presentes em carros a combustão, e também para aquelas que alimentam todo e qualquer meio de transporte, desde os mais leves como scooters, e-bikes e mobiletes, aos mais pesados como carros, caminhões, e ônibus. Literalmente, ninguém escapou.

Isto é o chassi do Model S, a prancha prateada é a bateria. A Tesla vai ter que quebrar a cabeça para torná-la acessível, ou não vai vender seus carros na UE (Crédito: Martin Gillet/Flickr)

Isto é o chassi do Model S, a prancha prateada é a bateria. A Tesla vai ter que quebrar a cabeça para torná-la acessível, ou não vai vender seus carros na UE (Crédito: Martin Gillet/Flickr)

As regras sobre acessibilidade e facilidade de substituição por parte do usuário valem também para estes casos, o que de cara cria um problema gigantesco para a Tesla: diferente de outras montadoras, incluindo as grandes europeias como Volkswagen, Mercedes, Sttelantis, etc., a companhia de Elon Musk não vende modelos de combustão, só elétricos.

Por mais que a Europa, assim como o resto do mundo, esteja migrando para carros elétricos sob novas legislações, as montadoras tradicionais podem optar por um maior foco em seus modelos de combustão agora, enquanto adaptam seus EVs para a nova realidade; Musk, por outro lado, não tem esse "cobertor": ou a Tesla se adequa, ou seus veículos não poderão ser comercializados no Velho Mundo.

E perder um mercado consumidor de mais de 253 milhões de donos de carros de passageiros (dados de 2021) não é interessante para ninguém.

Baterias removíveis = adeus, proteção IP

Voltando a dispositivos móveis, vale lembrar que por muito tempo, celulares Android usavam designs de baterias removíveis, mesmo os topo de linha; o Galaxy S3, lançado em 2012, por exemplo, era um dos mais simples nesse sentido, bastava remover a tampa plástica na parte de trás, e pronto.

Foi a Apple, para variar, quem mudou esse status quo, oferecendo o iPhone desde o início com bateria embutida. Tablets em geral já surgiram com o modelo selado, mas a ideia de remover o acesso pelo usuário permitiu, com o tempo, fabricantes melhorarem seus designs oferecendo aparelhos cada vez mais finos e compactos.

Paralelo a isso, a Apple também ditou uma nova tendência de laptops ultrafinos com o MacBook Air original, cuja ideia foi copiada por concorrentes, o hoje, mesmo alguns laptops mais parrudos não permitem mais a remoção da bateria interna.

A UE joga com a carta de diminuição da dependência do usuário das fabricantes e assistências técnicas, sejam oficiais ou autorizadas, para reparos menores, algo que até nos Estados Unidos está dando briga, com o governo Biden promovendo o direito ao reparo, que fez o governo entrar em guerra com... fabricantes de tratores.

Será que voltaremos a este cenário? (Crédito: Reprodução/iFixit)

Será que voltaremos a este cenário? (Crédito: Reprodução/iFixit)

Por outro lado, o design selado viabilizou a implementação das certificações de proteção IP, com diversos níveis de resistência a água e poeira, que graças à impossibilidade de abrir o aparelho para remover a bateria, fica protegido de respingos a mergulhos acidentais, desde que não por um tempo prolongado e nem em grandes profundidades.

Com a UE impondo a volta do design removível, para permitir que donos de dispositivos móveis troquem eles mesmos as baterias, a facilidade de manutenção e substituição de um componente, que já rendeu complicações à Apple, é uma boa notícia, mas, em contrapartida, a proteção IP vai para a cucuia, não podendo mais ser implementada em futuros gadgets.

Não obstante, a volta dos designs removíveis legados implicam em modelos de smartphones mais grossos e pesados, por terem que acondicionar mais componentes para suportar a intervenção do usuário, e muito provavelmente a eficiência energética desses aparelhos será menor.

Por fim, assim como aconteceu com a imposição do USB-C pela UE, uma mudança de tal magnitude não ficará restrita à Europa, por uma simples questão de custos de implementação, que serão astronômicos, e ao invés de manter dois designs, fabricantes em geral mudarão seus designs para todos os mercados do globo. De fato, a UE sabe, e conta, com isso.

Claro, conheço gente que achará muito bem-vinda a possibilidade do DualSense passar a funcionar com pilhas, tal qual os controles Xbox, o que não deverá implicar em grandes comprometimentos para o gadget da Sony, mas com smartphones e tablets, estes raramente vendidos com baterias removíveis, a coisa pode ser bem diferente. E imagine a questão dos celulares dobráveis.

A proposta do Conselho Europeu já foi votada, e segue agora para formalização do órgão e também pelo Conselho; quando aprovada, deverá entrar em vigor 20 dias depois, já prevendo 2027 como data limite para todo mundo se adequar. Aos fabricantes, resta ou seguir a Lei, ou não vender na Europa.

Fonte: ExtremeTech

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