Insignia, a rede que resgatou o online do Xbox clássico

Até por não ter conseguido se mostrar uma real ameaça ao PlayStation 2, muitas vezes não nos damos conta da importância que o primeiro Xbox teve para a indústria. Entre as suas contribuições, a principal certamente foi a Xbox Live, rede que ajudou a popularizar as partidas online nos consoles, mas foi desativada (para aquele aparelho) em 2010. Eis que mais de uma década depois, uma interessante chamada Insignia revive aquela porção do aparelho.

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Fruto da dedicação de cinco pessoas — Billy, Luke, Mike, Stefan e Libby —, o projeto teve início em 2019, quando os dois primeiros membros decidiram tentar reviver a Xbox Live, ou melhor, criar uma alternativa para a rede. Na liderança desta missão esteva o sujeito que prefere ser conhecido apenas como Luke e como foi ele o responsável pela criação do emulador Cxbx-Reloaded, talvez não houvesse pessoa melhor para assumir o cargo.

E a intenção de resgatar as partidas online para o primeiro videogame da Microsoft surgiu muito antes do Insignia, justamente enquanto o rapaz trabalhava no desenvolvimento daquele emulador para o Xbox. Porém, o avanço alcançado pelo programador nunca foi muito significativo, com a mudança começando a acontecer apenas quando Billy se juntou à causa.

Valendo-se da técnica de engenharia reversa, o grupo teria um duro caminho pela frente. Para começar, muitos anos haviam se passado desde o encerramento da Xbox Live, o que os impedia de ter acesso aos códigos do lado dos servidores. Para piorar, não bastava entender como a rede funcionava, já que a engenharia reversa precisava ser feita jogo por jogo.

Com isso, eles precisariam descobrir como se davam as entradas e saídas de dados em cada título e embora tenham se deparado com alguns facilitadores, como o fato do código-fonte do Star Wars Jedi Knight: Jedi Academy ter sido disponibilizado na internet, este foi um caso isolado. Basicamente, o que essas pessoas precisaram fazer foi testar os jogos separadamente, muito na base da tentativa e erro, um desafio que eu admito que jamais teria paciência para encarar.

Contudo, essa minuciosa escavação pelos códigos dos jogos foi apenas um dos muitos problemas que os criadores do Insignia tiveram que enfrentar. De sistemas implementados nos Xbox desbloqueados que os impediam de se conectar, tudo para evitar banimentos, até os títulos produzidos pela Electronic Arts, que rodavam em redes próprias, a impressão era de que a cada barreira derrubada, uma nova e ainda maior se apresentava para que eles tivessem que ultrapassar.

Mesmo assim, o quinteto conseguiu o que parecia impossível. Hoje a rede paralela que eles criaram conta com suporte a 102 jogos, incluindo títulos que já foram bastante populares, como Call of Duty 2: Big Red One, Phantasy Star Online Episode I & II, Project Gotham Racing 2, Capcom vs. SNK 2 EO, Counter-Strike, Doom 3, Marvel: Ultimate Alliance, Tom Clancy's Rainbow Six 3 e Unreal Championship.

Além disso, quase sete mil pessoas já se inscreveram para disputar partidas no Insignia, inclusive com o projeto contando com rankings dedicados para cada jogo. Porém, encontrar um desafiante por lá não deverá ser algo muito fácil. No momento em que escrevia esse artigo, apenas oito bravos jogadores estavam conectados e embora nos finais de semana este número deva crescer bastante, ainda se trata de um espaço para poucos.

Tendo vendido apenas pouco mais de 24 milhões de unidades em todo o mundo, não dá para dizer que o primeiro Xbox tenha sido muito popular na sua época. Imagine então hoje, passadas duas décadas desde o seu lançamento, onde encontrar um em boas condições não é uma tarefa simples, muito menos barata.

Felizmente eu tive a oportunidade de adquirir um há alguns anos, quando o preço cobrado por consoles antigos ainda não havia explodido e ao saber da existência desse projeto, fiquei obviamente fascinado pela proposta. No entanto, como o meu videogame está num lugar onde o acesso à internet é um pouco complicado, ainda não criei coragem em tentar conectá-lo.

Para fazer isso, além de ter que fazer algumas mudanças no cabo de rede, ainda terei que seguir o tutorial do Insginia, passando por diversos passos até estar conectado. Mas aquilo que realmente tem me afastado é a probabilidade de nem encontrar outras pessoas para disputar algumas partidas. Por outro lado, poder dizer que experimentei algo como o Phantasy Star Online Episode I & II ou o Capcom vs. SNK 2 EO em um Xbox seria um feito e tanto, mesmo tanto tempo após seus lançamentos.

Isso nos leva a um aspecto muito importante de uma iniciativa como esta: a preservação da história. “Não é tão óbvio assim, mas os jogos estão morrendo a torto e a direito, com até os jogos puramente single-player exigindo servidores que serão eventualmente desligados,” afirmou Stefan. “Isso tira a chance de futuras gerações experimentarem esses trabalhos por si só.”

E sem muito esforço por parte das empresas para manter esses títulos disponíveis, tem cabido justamente aos fãs a missão de preservar o passado através de servidores não oficiais. No caso do Insignia, mesmo com todo o avanço já feito, ainda falta um longo caminho a ser percorrido. Segundo seus criadores, o Xbox contou com 360 jogos que ofereciam partidas online e muitos gigantes ainda permanecem ausentes, como o Burnout 3, a série Need for Speed e principalmente, o Halo 2.

Desses, o que deverá se mostrar um dos maiores desafios será a segunda aventura do Master Chief. O problema é que a Xbox Live era composta por 20 serviços, sendo que o Insignia já implementou oito deles, com mais cinco estando funcionando parcialmente. Porém, para que o título da Bungie funcione mesmo que basicamente, as duas dezenas precisarão estar rodando plenamente.

Pode ser então que tal jogo nem chegue a se tornar compatível, mas mesmo que isso nunca acontece, o que essas pessoas conseguiram até aqui é digno de todos os elogios. Um trabalho impressionante e que deveria ser muito mais divulgado do que tem sido.

Fonte: Gamespot