Dori Prata 17 semanas atrás
A dedicação de algumas pessoas para tentar manter viva a história dos games é algo que sempre considerarei fascinante e de uns tempos para cá temos visto esse esforço dar um passo além. Agora o objetivo de alguns é tornar os clássicos ainda melhores e graças a engenharia reversa, isso já aconteceu com o Zelda II: The Adventure of Link e o Jak II.
Começando pelo segundo capítulo da aventura protagonizada pelo Link e que foi lançada originalmente em 1987, a nova versão foi criada por alguém conhecido apenas como HoverBat e a quantidade de melhorias que ela traz impressiona.
Batizado como ZIITAOL, para criar esse remake (se é que podemos chamar assim) o autor aproveitou o código do jogo, que foi escrito em Assembly e o adaptou para a GML, linguagem utilizada pela ferramenta GameMaker. Com isso, ele foi capaz de manter intactas as principais características do Zelda II: The Adventure of Link, como física, inteligência artificial e sistema de combate.
Porém, isso não o impediu de tomar algumas liberdades criativas, implementando diversos recursos para deixar a experiência mais agradável, começando pelo suporte a widescreen (480x270 pixels). A lista de melhorias é grande, então recomendo que dê uma olhada no anúncio oficial, mas deixarei aqui aquelas que considero mais interessantes:
HoverBat fez questão de salientar que nenhum conteúdo foi removido do jogo e que alguns segredos foram adicionados à aventura. Aos interessados, o ZIITAOL pode ser baixado aqui, pelo menos até que a Nintendo resolva colocar seus advogados para trabalhar e o remake precise ser tirado do ar.
O que torna esse projeto tão interessante é o fato de o Zelda II: The Adventure of Link ser, provavelmente, o jogo mais criticado — ou controverso — da série principal. Apesar de na época do lançamento ele ter se mostrado um sucesso comercial e conquistado alguns críticos, as mudanças implementadas em sua estrutura desagradaram muitos fãs e com o passar do tempo, encará-lo se tornou uma tarefa ainda mais complicada.
A mistura de jogo de plataforma, RPG e um elevado nível de dificuldade fez com que muitos não tivessem paciência de progredir na campanha e posso me incluir nessa lista. Eu só fui ter contato com o Zelda II: The Adventure of Link muitos anos depois do seu lançamento, quando suas mecânicas já pareciam datadas e por isso sempre o considerei o ponto mais baixo da série.
Porém, com as mudanças realizadas nessa versão, acredito que o jogo possa se tornar muito mais interessante e com um pouco de boa vontade e tempo, finalmente poderei consertar essa falha na minha “carreira gamer”. Só lamento não poder fazer isso em um console da Nintendo, de maneira oficial.
Por falar nisso, casos como o do ZIITAOL servem para nos mostrar como as empresas pouco ligam para as próprias criações ou para os fãs. Se uma pessoa conseguiu melhorar tanto um jogo, imagine o que uma grande corporação seria capaz de fazer? Isso inclusive me faz pensar que talvez já tenha passado da hora de o Zelda II: The Adventure of Link receber um remake completo. Para mim, algo com os gráficos de um Octopath Traveler, com o belo estilo HD-2D, ficaria ótimo!
Passemos então para o Jak II, título lançado em 2003 para o PlayStation 2 e que serviu como continuação para o Jak and Daxter: The Precursor Legacy, um jogo excelente e que guarda uma curiosidade em relação à sua produção. Criado no início da vida do segundo console da Sony, aquele que deu início à série foi desenvolvido com a GOAL, linguagem criada pelo cofundador da Naughty Dog, Andy Gavin.
Tal projeto consumiria 20 meses apenas na etapa de engenharia do kit de desenvolvimento, tamanha a quantidade de elementos que seriam necessários para fazer tudo funcionar como o estúdio desejava. Então, a ferramenta seria aproveitada nos títulos seguintes, mas nunca além deles.
Isso posto, um grupo de fãs resolveu aceitar o desafio de estudar o código do Jak and Daxter: The Precursor Legacy e após conseguir fazer ele rodar nativamente no PC, partiu para sua continuação. Intitulado OpenGOAL, recentemente o projeto chegou a uma marca importante, que foi lançar a versão beta Jak II para PC.
Embora o grupo admita que alguns problemas ainda precisam ser corrigidos, o jogo já pode ser encarado do início ao fim e por não se tratar de uma emulação, diversas partes poderão ser melhoradas no futuro, como suporte a uma maior taxa de atualização de frames e tradução para outras línguas ou a correção de bugs presentes no original.
Mas ao contrário do que acontece com a conversão do Zelda II: The Adventure of Link, essa ainda parece ter um longo caminho pela frente até sua conclusão e se você quiser testá-la, saiba que precisará de uma cópia do original.
De qualquer forma, estamos falando de um trabalho impressionante, principalmente se considerarmos se tratar de um jogo escrito numa linguagem única e extinta. Mesmo com a GOAL funcionando como uma variação de LISP, essa é uma linguagem pouco comum, principalmente hoje em dia.
Que iniciativas assim continuem dando frutos, pois desta forma, ao menos alguns pedacinhos do passado estarão preservados e ainda melhores do que eram antigamente.