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Demake: a arte de recriar, com menos

Reimaginando um jogo moderno em máquinas antigas, um demake é uma maneira de prestar homenagem e desafiar o autor a lidar com limitações técnicas

48 semanas atrás

Há alguns anos a indústria de games tem se escorando nos remakes para faturar e recentemente o nível de alguns desses trabalhos — Dead Space Remake, Metroid Prime Remastered e Resident Evil 4 Remake, por exemplo — fascinou até os fãs mais exigentes. Ao mesmo tempo, algumas pessoas têm feito o caminho inverso, recriando jogos modernos, mas como se fossem para sistemas mais antigos, num processo que ficou conhecido como demake.

Dead Space Demake

Crédito: Divulgação/Fraser Brumley

Muitas vezes vistos como um belo desafio por aqueles que já trabalham com o desenvolvimento de games ou com arte, a ideia de criar um demake também se escora na paixão que temos pelo passado. Com os consoles antigos despertando o interesse do público, aqueles que decidem entrar para este mundo estão sempre tentando responder uma perguntar fundamental: como seria se tal jogo tivesse sido lançado há 30, 40 anos?

Porém, para chegar ao resultado almejado, normalmente o autor precisará fazer uma série de concessões. Da diminuição de cores ao sacrifício na quantidade de polígonos mostrados na tela ou a utilização de texturas muito mais simples, até mesmo a dimensão poderá sofrer, caindo de três para duas.

Às vezes essas recriações nem chegam a dar vida a versões jogáveis, não passando de ilustrações, o que de forma algum tira seus méritos. Um exemplo é o portfólio do artista sueco Markus “Junkboy” Toivonen.  Trabalhando como diretor de criação no Mojang Studios, durante um tempo ele contribuiu com uma revista local onde imaginava como seriam alguns jogos se eles seguissem o estilo pixelart e o resultado é impressionante.

O Left 4 Dead como um rail shooter (Crédito: Reprodução/Markus Toivonen)

Em seu Tumblr podemos ver diversas dessas suas criações, como o Bayonetta funcionando como um Shoot 'em up; o BioShock como um jogo de plataforma; o Brütal Legend como um adventure point and click; o Killzone no melhor estilo Contra; ou como seria o Left 4 Dead caso tivesse sido planejado como um jogo de tiro sobre trilhos.

Aliada a um grande talento com as ilustrações pixeladas, a criatividade de Junkboy é algo que merece ser destacado, com ele conseguindo transportar muito bem os jogos de um gênero para outro. Tudo bem, algumas escolhas podem ser bastante óbvias, mas acho que eu nunca seguiria por alguns dos caminhos escolhidos por ele.

Outra boa fonte de conteúdo relacionado a criação de demakes puramente visuais é o DevianArt. Por lá podemos encontrar figuras como o pixel artist Gas13, que em sua galeria tem algumas belas ilustrações sobre PUBG, Team Fortress e Counter-Strike. O que dizer, então, desta bela arte em homenagem ao Dark Souls, criada por call-me-Hk.

O belo Dark Souls Demake (Crédito: Reprodução/call-me-Hk)

Mas se imagens estáticas já servem para nos levar por uma viagem a um passado que nunca existiu, é a versão funcional de um demake o que realmente consegue nos dar uma real noção de como um título moderno poderia ter ficado em consoles lançados há três ou quatro gerações.

Nestes casos o desafio enfrentado pelo game designer aumenta consideravelmente, com as limitações do hardware escolhido servindo como uma das principais motivações para que o trabalho seja feito. Imagine, por exemplo, se a série Halo tivesse iniciado lá na época do Atari 2600. Pois se um jogo assim lhe parece impossível de ser realizado, saiba que ele foi lançado em 2010, fruto da dedicação do ex-vice-presidente de publicações da Microsoft, Ed Fries, e cujo cartucho versão pode ser adquirida para ser jogado naquele antigo videogame.

Ainda no Atari, um jogo que impressiona pela criatividade e a habilidade do autor em entregar muito, mesmo usando tão pouco, é o Princess Rescue. Funcionando como uma versão do Super Mario Bros. para aquele saudoso console, a criação de Chris Spry possui 16 estágios, tudo espremido em meros 32 kB. Algo absurdo se pensarmos no espaço consumido pelos jogos atuais, mas apenas mais um título para tal videogame usou tanta memória, o Fatal Run.

Já outro jogo muito adorado e que também recebeu um demake foi o Bloodborne. Criado por Lilith Walther e tendo levado 13 meses para ser concluído, o projeto tentou reimaginar o título da FromSoftware como um jogo para o PlayStation e apesar de toda a simplicidade visual, é incrível o que essas pessoas conseguem fazer.

Podendo ser baixado no Itchio, ele nos permite jogar com 10 armas diferentes e mesmo trazendo apenas dois chefes e suas respectivas áreas, trata-se de uma boa quantidade de conteúdo. Até porque, estamos falando de algo criando por uma fã, que pode ser obtido gratuitamente e que, no fim das contas, é apenas uma apresentação do que poderia ser feito.

Dead Space Demake

Isaac Clarke não tem um minuto de sossego! (Crédito: Divulgação/Fraser Brumley)

E foi pensando no primeiro videogame da Sony que Fraser Brumley teve a ideia de desenvolver o Dead Space Demake. Enxergando no projeto uma maneira de aprender a utilizar a Unreal Engine, o rapaz também não recriou todo o jogo da EA, com a sua versão funcionando mais como uma demo.

Mesmo assim, ele conseguiu reproduzir muito da pesada atmosfera do original, além de implementar um inventário e até mesmo recriar o sistema de desmembramento. Pode até ser óbvio dizer isso, mas após ver o que Brumley criou, é difícil não imaginar que algo assim teria feito um tremendo sucesso se tivesse sido lançado na época.

Contudo, em muitos casos fica evidente que da maneira como esses demakes foram pensados, as máquinas em que eles deveriam ser lançados não dariam conta de rodá-los satisfatoriamente. O que fica, portanto, é a ideia da estética visual, uma forma de brincar com a memória afetiva que temos por épocas tão distantes.

Neste sentido, um trabalho muito interessante é o realizado pelo canal 98DEMAKE. Por lá o autor tenta mostrar como seriam alguns jogos mais novos se tivessem sido lançados na década de 90. São propostas como um Minecraft no GameBoy; um Assassin's Creed produzido antes da virada do milênio; como seria se o Uncharted tivesse aparecido no PS1; ou como ficaria o BioShock naquela época.

No entanto, é preciso esclarecer que todas essas criações não envolvem programação, com os vídeos sendo apenas animações feitas com o Blender. Logo, tais jogos dificilmente funcionariam de maneira tão fluida, mas isso não faz com que o trabalho publicado no canal seja menos fascinante.

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