Ronaldo Gogoni 07/04/2023 às 10:42
O mercado de PCs ensaiou um tímido aumento nos envios às lojas em 2020, como consequência da COVID-19 forçando todo mundo a ficar em casa, mas a grande verdade é que, assim como outros setores, o de computadores também tomou uma surra da pandemia e da crise financeira, que veio na esteira.
De 2021 para cá, o mercado de dispositivos pessoais, sejam desktops ou laptops, encolheu em mais de 45%, com os produtos high-end, voltados para gamers e profissionais de ponta, o que mais sangrou, tendo perdido assombrosos US$ 26 bilhões em receita no período.
O setor de ponta de PCs, para gamers e usuários de ponta, perdeu muita grana (Crédito: Ella Don/Unsplash)
Os dados levantados pela Jon Peddie Research (JPR), uma empresa de análise e pesquisa de mercado dos Estados Unidos, mais uma vez demonstram o que ficou bem óbvio na última década: os consumidores deixaram de adquirir computadores para fechar com smartphones e tablets, mas o que antes parecia restrito ao usuário de entrada, hoje afeta também o público intermediário.
A explicação é simples. Hoje, qualquer dispositivo portátil é suficientemente poderoso para dar conta de tarefas diversas, das mais mundanas e simples, como ler e-mails e mensagens, navegar na internet e falar com outras pessoas, a algumas mais elaboradas, como edição de vídeo, composição de texto, streaming, gravação de podcasts, etc.
Mesmo a Glorious PC Gamer Master Race anda sem argumentos contra games em dispositivos mobile, principalmente se lembrarmos de títulos como Genshin Impact, que adicionando insulto à injúria, roda a 120 fps apenas nos iPhones e iPads de ponta, porque a Apple paga à Hoyoverse pelo recurso. PC? Se contente com 60 fps no seu desktop da NASA.
O levantamento da JPR mostra que os três setores do mercado de PCs, para consumidores de entrada, intermediários e premium, este abrangendo os gamers e os power users, que precisam de máquinas parrudas para tarefas pesadas, perdeu mais de US$ 31 bilhões em receita desde 2021; destes, US$ 26 bilhões em apenas um ano.
Note que o valor distribuído é bastante desproporcional, com o segmento high-end (PCs a partir de US$ 2 mil) respondendo por mais de metade das vendas totais, e exatamente por isso, ele foi o que mais sofreu durante a crise, com redução de US$ 22 bilhões entre 2021 e 2022, e mais US$ 2 bi no ano seguinte.
O encolhimento do setor de PCs de alto desempenho se deu, principalmente, pela crise em si. Por mais que Intel, AMD e Nvidia tenham continuado, ano após ano, a colocar no mercado novos e mais potentes componentes, como processadores e placas de vídeo, o consumidor simplesmente não tem dinheiro para bancar upgrades agora, ainda mais com as empresas não tendo pudor nenhum em justificar preços altos.
Na prática, o gamer de PC descobriu que seu bolso não é tão fundo assim, quando a pandemia forçou uma recessão pesada de todo o mercado consumidor, em diversos setores, atrelado a aumento do custo de vida, desemprego e redução de oportunidades. Assim, boa parte dos usuários concluíram que seus sets atuais são o suficiente, e decidiram não atualizá-lo enquanto os preços e condições não voltarem a patamares mais gerenciáveis, de antes da COVID-19 e da especulação movida por aproveitadores, graças à febre das criptomoedas.
O relatório da JPR aponta também que o mercado não irá se recuperar tão cedo, e levará vários anos para voltar ao patamar de receita de 2021. Segundo a empresa, a estimativa é de um leve aumento nas vendas até 2025, de apenas US$ 5 bilhões divididos entre os 3 setores consumidores.
Embora o valor bruto de incremento ainda seja respondido pelos PCs de ponta, proporcionalmente são os modelos de entrada, voltados a consumidores de menor poder aquisitivo, ou que usam computadores apenas para tarefas básicas, que irão puxar o bonde da recuperação.
Com base nas projeções, este mercado consumidor contribuirá com 45% do crescimento em vendas de 2022 a 2025, gerando US$ 2,29 bilhões, enquanto os PCs high-end responderão por apenas 17% da recuperação projetada, com US$ 3,92 bilhões. Para a companhia de análise, esse crescimento é "incomum" e pode apontar uma migração dos consumidores intermediários para modelos mais baratos, ainda devido à crise, mas também por outro motivo:
Jon Peddie, presidente da JPR, argumenta que o aumento nas vendas de produtos high-end será impulsionado por componentes mais avançados a serem lançados, mas, ao mesmo tempo, a entrada da Intel no segmento de GPUs, graças à linha ARC, trará maior qualidade aos produtos de entrada sem que o preço médio destes suba muito, podendo assim, atrair mais consumidores. Neste ponto, a projetada migração para o ARM pouco influi, visto que tais modelos contariam com placas de vídeo integradas aos SoCs, como os chips Apple Silicon dos Macs modernos.
Para os gamers de PC, um dos principais argumentos para justificar o reinvestimento em upgrades serão novas tecnologias de resolução superior com mais quadros por segundo, providos por monitores e GPUs modernas, no que a JPR argumenta que o formato Ultrawide, chegando a 3.440 x 1.440 pixels, será um argumento convincente, desde que os preços sejam decentes.
Até lá, os fabricantes de PCs deverão se resignar ao fato de que vão vender bem menos, pelos próximos anos.
Fonte: JPR