Ronaldo Gogoni 10/03/2023 às 8:50
IA, ou Inteligência Artificial, é a tendência de 2023, e claro que o recurso também será empregado na exploração espacial. O SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), um projeto colaborativo dedicado a vasculhar o Cosmos em busca de vida inteligente, quer usá-la para vasculhar Marte com mais eficiência, na busca por sinais de que o planeta vermelho já abrigou vida.
Fato: há muito tempo, Marte já foi bem similar à Terra de hoje, graças às evidências geológicas facilmente identificáveis. O rover Perseverance, que chegou ao planeta em 2021, pousou na cratera Jezero, que bilhões de anos no passado, foi um lago imenso. É bastante fácil chegar a essa conclusão, o solo deixou marcas claras dos pontos de entrada e saída de água, bem como o delta sedimentar.
Os cientistas da NASA estão confiantes de que se há quaisquer traços de que Marte já abrigou vida, as chances de encontrar vestígios na cratera são maiores. A Perseverance é equipada com sensores de ponta, um laboratório para criação de oxigênio usando o CO2 ambiente, um radar de penetração capaz de sondar até 10 metros de profundidade
Ela levou no kit o helicóptero Ingenuity, o primeiro objeto construído pelo Homem a voar em Marte por conta própria, que fato curioso, é equipado com o processador mais potente já mandado ao espaço, o mesmo SoC mobile da Qualcomm que equipou o Galaxy S5 da Samsung. E olha que a NASA não acreditava que um sistema não-RTOS (ele roda Linux, não VxWorks), e um chip não preparado, como a plataforma RAD750 da BAE Systems, que equipa quase tudo que a agência manda subir, do James Webb à Solar Orbiter, passando pela Curiosity e Perseverance, não resistiria ao espaço.
De qualquer forma, a escolha do local de pouso adequado para investigar em Marte é uma parte do processo, os rovers e sondas precisam saber O QUE eles estão procurando, para identificar corretamente vestígios como elementos e moléculas orgânicas, e evitar falsos positivos ou confusões.
Isso aconteceu com as missões Viking, que detectaram corretamente percloratos no solo marciano, mas a NASA achou que as sondas haviam subido contaminadas. Somente com descobertas recentes as conclusões foram posteriormente revistas.
O salar de Pajonales, no Chile, foi usado como referência de solo similar ao marciano pelo SETI em sua pesquisa (Crédito: Spencer Lowell)
É aqui que o projeto do SETI entra. A nova IA é um projeto da astrobióloga Kimberley Warren-Rhodes, cientista sênior do instituto, que treinou um modelo com 7.765 imagens e 1.154 amostras do solo, entre rochas, cristais e domos de sal, da região do salar de Pajonales, no Chile. A área foi considerada ideal para o desenvolvimento do algoritmo, sendo bem similar ao que uma sonda futura eventualmente encontrará em Marte.
Essa IA foi treinada para analisar o solo e identificar bioassinaturas mínimas, traços de processos que sugiram atividade orgânica, como os já encontrados anteriormente. A Curiosity identificou moléculas como tiofeno, metanotiol, 2 e 3-metiltiofeno, e dimetilsulfureto; embora estes possam ter sido produzidos por organismos, eles também poderiam ter se combinado por processos que não envolvem atividade biológica. O mesmo vale para a presença de metano.
A IA do SETI vem sendo desenvolvida para otimizar o processo de busca por evidências. Nos testes, ela conseguiu identificar bioassinaturas em uma região não anteriormente perscrutada com 88% de precisão, contra menos de 10% em processos de busca randômicos, sem o uso do algoritmo. Além disso, o tempo necessário para vasculhar uma determinada área caiu 97%.
Em nota, a Dra. Rhodes explica que o modelo do SETI para a criação de algoritmos pode ser adaptado por outros pesquisadores, conforme a necessidade de mapear ambientes diferentes, ou para detectar traços biológicos distintos.
"Nosso modelo nos permite combinar o poder da estatística para a ecologia com o aprendizado de máquina, para descobrir e prever os padrões e regras que regem a Natureza, e se distribuem nas paisagens mais inóspitas da Terra (...). Com ele, podemos projetar algoritmos personalizados para guiar rovers em locais com maior probabilidade de terem abrigado vida no passado – não importa o quão escondidos estejam, ou raros sejam."
A ideia do instituto é que seu modelo de IA seja usado por um grande número de pesquisadores e projetos, em um esforço colaborativo a fim de aumentar a eficiência na busca de vestígios da existência de vida não só em Marte, mas também em outros corpos celestes do Sistema Solar, se houver algo esperando para ser encontrado.
Fonte: Popular Science