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FTC manda empresas tech baixarem a bola sobre uso de IA

FTC alerta companhias de tecnologia que afirmações sobre uso de IA em tudo serão verificadas, em busca de marketing falso

1 ano atrás

A FTC (Federal Trade Commission), órgão dos Estados Unidos regulador do comércio e equivalente ao CADE no Brasil, não está comprando discursos de companhias do mercado de tecnologia, grandes e pequenas, de que a IA (Inteligência Artificial) é o futuro da humanidade.

Seu mais recente curso de ação é o de pegar mentirosos pelos calcanhares, no que muitos usam o termo como o "quântico" da vez, a mais recente jogada de marketing para atrair incautos e fazer dinheiro.

FTC não está disposta a comprar os exageros do mercado tech, de "tudo feito por IA" (Crédito: Mohamed Hassan/Pixabay)

FTC não está disposta a comprar os exageros do mercado tech, de "tudo feito por IA" (Crédito: Mohamed Hassan/Pixabay)

Soluções em IA, aprendizado de máquina e equivalentes não são mais do que Estatística, Álgebra Linear e Modelagem de Dados aplicados. Seu computador não pensa, ao contrário do que engenheiros impressionáveis acreditam; ele sequer pensa que pensa, pois ele não entende o conceito de "pensar". Para Roger Penrose, o cérebro humano opera em ambos níveis atômico e quântico, tornando tal simulação impossível, por ser não-computável.

Isso é a IA Forte, a pesquisa para desenvolver uma consciência digital, algo que está muito longe, pois nem fazemos ideia de onde começa a consciência. Já a IA Fraca, algoritmos que fazem o que o usuário manda, não o que ele quer que eles façam, está em outro patamar. Mesmo processos complexos do pensamento, como heurística, já foram emulados.

Nisso, surgiram soluções de IA para os mais diversos fins, como as que entendem texto e contexto, como o GPT-3 da OpenAI, e as capazes de gerar imagens conforme as descrições providas pelo usuário, como Stable Diffusion, Midjourney e várias outras.

Claro que, sem muita surpresa, entre os projetos sérios (ainda que questionáveis, por este ou aquele motivo) começaram a surgir os oportunistas, que viram na expressão "feito por uma IA" o golpe publicitário da vez, tanto quanto o "100% natural" do passado, ou mais recentemente, o uso da palavra "quântico" em tudo.

Palavras e expressões populares geram buzz, e na esteira sempre virão os espertos procurando usá-las para alavancar suas vendas, independente de seus produtos serem ou não desenvolvidos por um algoritmo, ou entregarem o que prometem, o que raramente ocorre.

Não é nada muito diferente dos vendedores de óleo de cobra do Velho Oeste, estes apenas migraram para outros tipos de golpes. A diferença, agora, reside no fato de que a atual gestão da FTC na administração de Joe Biden, sob o comando de Lina Khan, é extremamente avessa às big techs, indisposição essa que se estende para os espertos, em geral.

"Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta!" (Crédito: Reprodução/acervo internet)/ftc

"Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta!" (Crédito: Reprodução/acervo internet)

No início de fevereiro de 2023, a comissão estabeleceu um novo Departamento de Tecnologia, criado especificamente para supervisionar e regular o mercado tech nos Estados Unidos, no que tange ao controle de abusos e golpes no setor, executados por espertalhões de pequeno porte, ou por grandes companhias que prometem, mas não cumprem.

A postagem original cita especificamente o uso de IA como "óleo de cobra", como um termo popular para alavancar vendas, mas não parou por aí. Nesta segunda-feira (27), Michael Atleson, advogado da divisão que supervisiona práticas relativas a marketing e publicidade da FTC, exemplificou os casos em que clamores de prodígios entregues por IAs e algoritmos serão acompanhados de perto:

  1. Exageros sobre o que uma IA faz: declarações que beiram contos de Ficção Científica, sem o mínimo respaldo na Ciência, ou que não podem ser verificadas e/ou comprovadas, serão tratadas como mentirosas;
  2. Benefícios de IAs sobre outros produtos: se uma empresa afirma que seu produto ou serviço, quando apoiado em um algoritmo, é superior ao de concorrentes que não usam o recurso, isso deve ser provado e comprovado, o que inclui apontar quem são esses competidores, para viabilizar uma comparação direta;
  3. Avaliação dos riscos: empresas e indivíduos serão escrutinados minuciosamente sobre os riscos que seus serviços baseados em IAs poderão acarretar aos usuários, e quem não fizer por onde para tratar seus dados (usar bases livres de pré-conceitos), ou ignorar eventuais efeitos negativos, em nome do lucro fácil, vai se dar muito mal;
  4. Mentir sobre uso de IA: o mais clássico dos golpes. Qualquer um que afirmar que seu produto ou serviço usa uma IA como suporte ou desenvolvimento, terá que provar isso. Quem for pego usando o termo apenas para aumentar suas vendas, vai estar muito enrascado.

Atleston completou o artigo, dizendo que os espertinhos "não vão precisar de uma IA para prever o que a FTC fará", se (ou quando) forem pegos no pulo.

Basicamente, a FTC não condena o uso de IA e algoritmos em produtos e serviços, desde que ele siga as leis e determinações vigentes nos EUA, e que ninguém dê uma de malandro, achando que irão dar nó nos consumidores, e na agência, e ficar por isso mesmo.

O órgão só não explicou como fará para fiscalizar todo mundo, e é possível que as bordoadas sejam desferidas contra os espertos conforme consumidores lesados entrem na Justiça, buscando reparação pelos danos causados.

Fonte: Federal Trade Commission

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