Meio Bit » Engenharia » JAXA está pronta para finalmente testar o foguete H3

JAXA está pronta para finalmente testar o foguete H3

Foguete H3 da JAXA e Mitsubishi está pronto e tem baixo custo, mas tem poucos clientes interessados, além do governo japonês

1 ano atrás

A JAXA, a agência espacial japonesa, tem sua própria "obra de igreja" tal qual a NASA e o SLS, na forma do foguete H3. Fruto de uma parceria com a Mitsubishi Heavy Industries (MHI), ele foi projetado como uma alternativa viável ao Falcon 9 da SpaceX em termos de custo, mesmo sendo não-reaproveitável, graças a curiosas decisões de design, com foco na performance, mas sem tirar o olho do barateamento extremo.

Com um custo de aproximadamente US$ 51 milhões por lançamento na configuração base, o H3 levou 10 anos para ficar pronto, mas finalmente fará seu voo inaugural nesta sexta-feira (17), mas sendo barato, a JAXA não conseguirá competir com a SpaceX na cadência de lançamentos.

Foguete H3 durante testes em 2021 (Crédito: Divulgação/JAXA)

Foguete H3 durante testes em 2021 (Crédito: Divulgação/JAXA)

O Japão tem uma tradição de lançamentos orbitais de pelo menos 50 anos de história, mas até meados dos anos 1990, suas missões de maior porte eram estritamente internas, como satélites de transmissão para a emissora estatal NHK, pesquisas meteorológicas como os da família Himawari, ou outras.

A companhia que fornecia os designs dos foguetes da linha H-I era a McDonnell Douglas, em lançamentos entre 1986 e 1992, com a MHI responsável pela montagem. Com o fim desta linha, a companhia decidiu por conta própria projetar o foguete sucessor, contando com o apoio da JAXA, mas o H-IIA só ficou pronto em 2001.

Este é a espinha dorsal do programa espacial japonês desde então. Com capacidade de carga de até 10 toneladas para órbitas baixas, e até 6 t para geoestacionárias, ele ficou responsável pelos poucos lançamentos internacionais, como a missão Hope da agência dos Emirados Árabes Unidos, em 2020, dedicada a estudar o clima de Marte. A sonda Akatsuki, enviada à Lua, também subiu em um H-IIA.

O grande problema para a JAXA e a MHI, para variar, tem nome e sobrenome: Elon Musk. A SpaceX tornou corriqueiro o uso de foguetes reutilizáveis, ao ponto de todas as concorrentes, comerciais e estatais, estarem hoje mordendo a testa de raiva por não conseguirem concorrer de igual para igual. O modelo descartável tradicional é muito mais caro, e não dá para dizer que a empresa norte-americana está exercendo concorrência desleal, pois cumpre todos os regulamentos exigidos.

Um lançamento do Falcon 9 hoje custa aproximadamente US$ 67 milhões, contra US$ 90 milhões do H-IIA. A MHI hoje não tem absolutamente nada para bater de frente com a SpaceX, e o projeto do H3, iniciado em 2013, também é descartável. Este, aliás, estava por demais atrasado, não convém hoje jogar tudo no lixo, e de qualquer forma, as especificações são respeitáveis.

Comparação entre o H3, o SLS, a Starship e o Saturn V; humano para escala (Crédito: Everyday Astronaut)

Comparação entre o H3, o SLS, a Starship e o Saturn V; humano para escala (Crédito: Everyday Astronaut)

Também projetado para lançamentos de carga média, ele é um pouco mais potente que o H-IIA, o qual ele foi designado para suceder. Ele pode lançar satélites geoestacionários de até 7,9 t, ou até 4 t em órbitas heliossíncronas, tem 63 metros de altura, e pode ser equipado com até 4 motores adicionais SRB-3, que geram um impulso limite de 2,781 km/s.

Em tese, o H3 entra na mesma categoria que o Falcon 9, mas por ser descartável, a solução da MHI para tornar a plataforma atraente foi baratear o foguete ao máximo: além dos motores serem mais baratos, os custos de desenvolvimento foram jogados no chão, com soluções criativas para extrair mais desempenho de designs simples, ou de componentes mais baratos. Como resultado, um lançamento na configuração básica do foguete foi fixado em US$ 51 milhões, o limite mínimo para torná-lo viável.

O H3 deveria estar pronto para seu primeiro teste em março de 2021, mas problemas com o acionamento do motor principal LE-9, que queima oxigênio e hidrogênio líquido, postergou a data em quase dois anos. O último adiamento foi nesta semana, o foguete deveria ter subido nesta quarta-feira (15), mas a data foi remarcada para hoje, às 22:37 no horário de Brasília, ou 10:37 de sexta, no horário de Tóquio, com o satélite DAICHI-3 para monitoramento de desastres.

Este foi o teste estático do primeiro estágio do H3, realizado em novembro de 2022:

Ainda que o H3 se mostre significativamente mais barato que o H-IIA e até mais em conta que o Falcon 9, poucos clientes se interessaram pela plataforma até o momento, exceto a empresa britânica de satélites Inmarsat, devido os atrasos e a incerteza, ainda há certa desconfiança sobre se o foguete vai mesmo subir.

Porém, o grande calcanhar de Aquiles dos foguetes tradicionais, mesmo baratos, está na cadência. Desde 2016, a SpaceX emplacou 170 lançamentos seguidos, enquanto a JAXA levou 22 anos para realizar 46 missões do H-IIA, com mais 4 planejadas, antes de encerrar a linha.

Isso não quer dizer que o H3 não terá espaço, ainda mais com cada vez mais governos se indispondo com Elon Musk, mas não dá para fechar os olhos para a realidade. Um antigo comercial de TV trazia um monólogo inicial, elogiando as maravilhas de uma máquina de escrever elétrica de última geração, enquanto exibia closes do aparato, apenas para concluir que ninguém mais se importava com elas, depois do PC; havia uma variação na mesma linha, comparando uma vitrola moderna com um CD.

O alcance do H3 pode ser limitado simplesmente pelo fato dele ser descartável, enquanto agências na Europa planejam como entrar no ramo da reutilização, depois que a SpaceX mostrou, e provou, ser este o caminho. É possível que a próxima geração de foguetes da JAXA siga a mesma linha, até porque a agência espacial japonesa não deve ter datilógrafos em seu quadro de funcionários. Ou malucos das planilhas.

Você pode acompanhar o lançamento do H3 no canal da JAXA no YouTube, a partir das 21:45 desta quinta-feira (16), horário de Brasília.

Fonte: Japan Aerospace Exploration Agency

Leia mais sobre: , , , .

relacionados


Comentários