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Ucrânia vai ganhar a GLSDB, a bomba que você joga pra cima

A GLSDB é uma bomba especial, feita para economizar dinheiro e aproveitar materiais, o que em guerra, é raro

1 ano atrás

GLSDB não soa como o nome de uma arma, mas é a sigla em inglês “Bomba de pequeno diâmetro lançada do solo”, e vai à contramão do apoio que os EUA têm dado à Ucrânia.

Sim, o HIMARS sorrisão do meme virou realidade. (Crédito: Hannibal Hanschkу)

O conflito na Ucrânia está sendo um imenso showroom de tecnologia dos Anos 80. A Rússia não anda bem das pernas, e a Ucrânia, coitada, é pobre pobre pobre de marré marré marré, seu arsenal era basicamente refugo que os russos não levaram, com o fim da União Soviética.

Moscou, por sua vez, é um mar de corrupção. Vimos soldados com kits médicos literalmente produzidos nos Anos 80, kits de detecção de armas químicas e biológicas dos Anos 60. No começo da Invasão, vários veículos foram abandonados, seus pneus estourados. Os danos foram causados por abandono. Deixados por anos e anos em depósitos sem ser movidos para mudar os pneus de posição, pois o dinheiro para os funcionários e gasolina foram desviados por oficiais corruptos.

Não é exagero, pneus vagabundos made in China. (Crédito: Reprodução Internet)

Com as primeiras doações de mísseis Javelin e AT-4, o Ocidente viu finalmente como seus equipamentos se comportariam no cenário para o qual foram criados: Um grande conflito convencional nas planícies da Europa.

Apesar do receio inicial, os EUA e a Europa começaram a fornecer todo tipo de armamento pra Ucrânia, culminando (até agora) com tanques de 1ª linha, ao invés dos tanques russos T72, T80 e similares que aliados europeus estavam despejando na Ucrânia, e esse é o ponto.

Quase todo o material, muito bem-vindo, é antigo. O lançador M142 HIMARS entrou em serviço em 2010, após um looongo tempo de desenvolvimento, iniciado em 1982. O Bradley, que irá dizimar tanques russos em breve, é um blindado que começou a ser especificado em 1958 e entrou em serviço em 1981.

Mesmo o ATACMS, que os EUA não querem dar pra Ucrânia por ser muito moderno, já é bem antigo.

Os aliados estão ajudando a Ucrânia, ao mesmo tempo em que se livram de materiais obsoletos, que custavam caro em manutenção e armazenamento. É um ótimo acordo, mas agora a Ucrânia vai receber a GLSDB, uma arma tão nova que nem os EUA têm ainda.

Estranhamente, a GLSDB é uma arma criada para que as forças armadas economizem dinheiro, não o contrário. A idéia, genialmente simples, mas passa por alguns conceitos:

1 – Bombas, não faltam. Os EUA têm bombas pra dar e vender, mas bombas estão perdendo sua utilidade. Hoje, com sistemas antiaéreos excelentes como o russo S400, fica cada vez mais complicado chegar perto o bastante de um alvo para lançar um ataque mesmo com bombas inteligentes convencionais. Mísseis são a solução preferida.

Exceto que mísseis são muito caros, e eles não resolvem a existência das bombas, que também têm uma vida útil, e precisam ser explodidas ou desmontadas. Ambos custam caro.

2 – Os EUA estão se afogando em foguetes M26, usados em lançadores tipo HIMARS ou o antigo M270. O M26 é o foguete-base no qual são acopladas cargas como ogivas explosivas ou lançadores de submunições.

Em 1980 os EUA começaram a produzir foguetes M26. Em 2001 encerraram a produção, com 506718 unidades em estoque. Uma parte razoável foi consumida no Afeganistão e na Guerra do Golfo 2 – A Missão, mas eles ainda têm uma penca deles, com vida útil de 25 anos.

M270 com foguetes M26

Desmontar esses bichos não sai barato. Em 2007, o Exército dos EUA pediu US$109 milhões para desmontar 98904 unidades do M26.

Eis que a SAAB e a Boeing tiveram uma idéia: Que tal unir o útil ao agravável? Ao invés de gastar dinheiro jogando tudo fora, vamos unificar as duas armas, criando algo novo. Surge a GLSDB.

As duas empresas criaram um kit para acoplar ao M26 uma GBU-39, uma bomba inteligente de pequeno porte, com 115kg.

Mais que suficiente para destruir veículos, radares e postos de comando, a GBU-39 é perfeitamente adequada para a Ucrânia, só não há como lançá-la perto o suficiente do alvo.

Uma GBU-29, serelepe e feliz planando como se houvesse amanhã (Crédito: Reprodução Internet)

Até agora, mas a GLSDB é justamente isso, uma GBU-39 na ponta de um foguete.

Ao invés de depender de um avião, um HIMARS lança uma GLSDB, que após atingir o apogeu da trajetória, propelida pelo foguete, abre suas asas, aciona seu sistema de navegação inercial / GPS e plana em direção ao alvo.

Ela pode ser programada para atingir alvos fixos ou até procurar alvos em movimento na região final de sua trajetória.

O custo da GBU-39 é na casa dos US$40 mil, o custo do M26 é tirar a poeira e espetar o bicho na bomba, o que se reverterá em uma boa grana para as empresas envolvidas, claro.

A GLSDB pode voar direto para o alvo, seguir trajetórias diferentes para despistar o inimigo e até atingir alvos atrás do veículo lançador.

Os testes finais foram feitos em 2015, mas como todo programa de baixa prioridade em tempos de paz, foi empurrada com a barriga. Agora o Pentágono acordou, viu que com alcance de 150Km a bomba é excelente para situações onde o espaço aéreo é contestado, e cutucou Boeing e Saab para correrem e produzirem quantos kits conseguirem.

Como resultado, a Guerra dos Anos 80 em 2023, cheia de tanques soviéticos, MiGs tetânicos e AK-47s, contará com a GLSDB, uma arma tão moderna que nem quem fabrica a usa ainda.

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