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VESA, novos padrões e o fim da disputa G-Sync X FreeSync

VESA quer posicionar AdaptiveSync Display como tecnologia padrão de anti-quebra de quadros em monitores. Sim, já vimos esse filme

2 anos atrás

A VESA (Video Electronics Standards Association), órgão que define diretrizes para resoluções de vídeo e conexões, que devem ser adotadas por fabricantes e estúdios criadores de conteúdo visual, decidiu que é hora de encerrar a disputa entre a Nvidia e a AMD no campo das tecnologias anti-quebra de quadros em monitores gamer, com suas respectivas G-Sync e FreeSync.

Para isso, a VESA lançou um terceiro formato, chamado AdaptiveSync Display, e para quem está há todos esses anos nesta indústria vital, não só esta não é a primeira vez que alguém propõe uma tecnologia unificada "para cobrir todos os casos de uso", como grandes são as chances de apenas ganharmos mais um padrão competidor.

Tanto o FreeSync quando o G-Sync são tecnologias anti-quebra de quadros, mas poucos fabricantes implementam ambas em monitores (Crédito: Florian Olivo/Unsplash)

Tanto o FreeSync quando o G-Sync são tecnologias anti-quebra de quadros, mas poucos fabricantes implementam ambas em monitores (Crédito: Florian Olivo/Unsplash)

Dizem que padrões são legais, pois todo mundo quer ter o seu próprio. A Sony por muito tempo adotou formatos proprietários em seus dispositivos, dos cartões de memória que só funcionavam em suas câmeras, ao cúmulo do exclusivo (e caríssimo) do PS Vita, e a Apple se recusa a abandonar seu conector Lightning, mesmo com a União Europeia pegando no seu pé.

Nos primórdios da telefonia celular, cada fabricante usava conectores proprietários, e muito tempo se passou até o microUSB se tornar uma conexão adotada por quase todo mundo. Hoje o USB-C ainda não chegou lá, e vai demorar muito a fazê-lo, se depender da maçã.

Há inúmeros casos de tecnologias em que cada fabricante resolve usar seu formato proprietário, até alguém vir com uma ideia de unificação, a introdução de um padrão único para todas as situações. O problema é que a implementação nem sempre é feita da melhor forma, sem consórcios impondo a regra para que todos os fabricantes se emendem, e no fim, o dito padrão universal se torna outro formato competidor.

Esse argumento recentemente voltou à tona com a proposta da Dell para seu módulo CAMM, de se tornar o padrão para a próxima geração de memórias RAM, o DDR6, no que a companhia considera o SO-DIMM para laptops, e por tabela o DIMM para desktops, como tecnologias que não conseguirão atender à demanda futura por PCs mais rápidos e eficientes.

Comparação de 4 módulos SO-DIMM de 32 GB com um único CAMM de 128 GB; Dell defende que sua solução é mais rápida e ocupa menos espaço (Crédito: Reprodução/Dell)

Comparação de 4 módulos SO-DIMM de 32 GB com um único CAMM de 128 GB; Dell defende que sua solução é mais rápida e ocupa menos espaço (Crédito: Reprodução/Dell)

Em defesa da Dell, a companhia pretende apresentar seu caso diretamente à JEDEC, associação que gere os padrões para as tecnologias de memórias em estado sólido, de modo que o CAMM seja simultaneamente adotado por toda a indústria, na transição do DDR5 para o DDR6.

Isso evitaria que alguns fabricantes acabem por continuar a usar o SO-DIMM/DIMM, se a JEDEC decidir abraçar o novo padrão. Em troca a Dell receberá royalties, que deverão ser justos, de modo a permitir que outros fabricantes de memórias possam lançar módulos CAMM, dando ao consumidor a opção de escolha.

O caso da VESA é similar, mas há alguns pontos a serem considerados. A tecnologia em questão, voltada para monitores gamer, é voltada a mitigar os efeitos do "stuttering" (em tradução livre, "gagueira"), que conhecemos como quebra de quadros. Monitores possuem uma taxa de quadros máxima fixa, variando entre 60 fps, hoje uma taxa comum, voltada a trabalho e consumo de mídia, e mais altas, geralmente 120 Hz, 144 Hz ou acima, para games. Mesmo algumas TVs hoje já entregam 120 Hz, via portas HDMI 2.1.

O stuttering acontece quando uma placa de vídeo, por algum motivo, não consegue manter a taxa de quadros constante, em comparação ao monitor, passando a executar números menores. Quando o display não possui recursos para amenizar esse problema, ele exibirá frames "cortados", com pedaços de quadros antigos intercalados com os novos, o que é chamado "screen tearing", ou quebra de tela.

Um exemplo clássico de stuttering (Crédito: Medium) / vesa

Um exemplo clássico de stuttering (Crédito: Medium)

Para combater esse problema, tanto a Nvidia quanto a AMD desenvolveram recursos que tornam a taxa de quadros da tela flutuante, de modo que ela seja capaz de se ajustar às oscilações de uma GPU. Tanto o G-Sync quanto o FreeSync fazem a exata mesma coisa, mas a primeira, que pertence à Nvidia, é proprietária e demanda o pagamento de licença pelos fabricantes. A segunda, da AMD, é de código aberto e pode ser implementada gratuitamente.

Inicialmente, a Nvidia fazia questão de que monitores com FreeSync não tivessem o melhor dos desempenhos quando pareados a computadores com suas placas de vídeo, e a iniciativa "Nvidia FreeSync" de 2019, de implementar maior compatibilidade, não cobre todos os casos de uso, pois só funciona nas GPUs das séries GTX 1000 em diante, e apenas pela porta DisplayPort. E menos fabricantes ainda implementam ambas tecnologias em seus produtos, salvo grandes companhias como a LG.

A VESA propõe encerrar esses problemas, com a introdução do AdaptiveSync Display Compliance Test Specification (AdaptiveSync CTS, ou apenas AdaptativeSync). Segundo o consórcio, ele é o primeiro padrão de código aberto pensado para todas as situações, tanto em monitores tradicionais quanto em notebooks, e consequentemente, em TVs, com especificações gerenciáveis que poderão (deverão) ser atendidas por todos os fabricantes.

O padrão é dividido em dois tiers, sendo que o mais alto, para performance de ponta, deve garantir a redução ao mínimo, ou completata eliminação, do efeito de jitter (atraso na entrega de dados), e deverão ter excelência tanto na hora de reproduzir jogos sem quebra de quadros, quanto prover excelente qualidade na reprodução de mídia.

Assim como acontece com o G-Sync e o FreeSync, o AdaptiveSync deverá ser um recurso a ser incluído em monitores de ponta, voltados para a Glorious PC Gamer Master Race, e TVs direcionadas a quem joga no PS5 e Xbox Series X, capazes de reproduzir jogos a 120 Hz. O console de ponta da Microsoft suporta FreeSync, aliás.

Para ganhar a certificação da VESA, um monitor deverá entregar uma taxa de no mínimo 60 Hz a até 144 Hz para games (os que fazem mais do que isso entram também), e de 48 Hz a 60 Hz em reprodução de mídia. Os testes submetidos incluem 50 para stuttering, 20 para tempo de resposta, que não pode utrapassar 5 ms, e outros tantos para medir jitter, taxa de atualização, input lag e etc.

Todo mundo espera que isto não aconteça outra vez (Crédito: xkcd) / vesa

Todo mundo espera que isto não aconteça outra vez (Crédito: xkcd)

O medo é de que, assim como aconteceu com outras tecnologias, o Adaptative Sync não consiga mitigar a adoção do Nvidia G-Sync e do AMD FreeSync pelos fabricantes, principalmente o segundo por ser também de código aberto, no que ambas empresas muito provavelmente não estão propensas a abandonarem seus padrões em troca de um terceiro que, mesmo unificado, não controlam diretamente.

No caso da AMD, caso não seja orientada a depreciar o FreeSync em prol da padronização, não é difícil imaginar a companhia oferecendo menos exigências para que fabricantes de monitores fechem com a compatibilidade à sua solução, ao invés de adotar a da VESA. E a Nvidia poderia em último caso até rever sua política de licenças.

No fim, a ideia da VESA com o Adaptative Sync é boa, mas depende de todo o mercado adotá-la para que funcione, ou acabaremos apenas com mais um formato competidor.

Fonte: Video Electronics Standards Association

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