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Mega Man — O nascimento do Bombardeiro Azul da Capcom

Conheça a história da criação do Mega Man, um dos jogos mais importantes de todos os tempos e que fez a Capcom passar a se dedicar aos consoles

2 anos atrás

Enquanto alguns jogos conseguem entrar para a história pela qualidade entregue, existem aqueles como o primeiro Mega Man, um título extremamente influente e que foi capaz de mudar completamente o futuro dos seus criadores.

Jogos Mega Man

Crédito: Reprodução/Alexander Michel/Moby Games

Durante a década de 80 muitas empresas viam os fliperamas como uma excelente fonte de renda. Foi nesta plataforma que diversos clássicos nasceram e desenvolvedoras construíram o alicerce para seus nomes e entre elas estava a Capcom.

Fundada em 30 de maio de 1979, durante muitos anos a companhia cujo nome vem das palavras Capsule Computers se dedicou quase que exclusivamente àquelas máquinas, com os consoles recebendo apenas adaptações dos títulos criados para elas. Isso só começaria a mudar lá pela metade da década, quando Akira Kitamura idealizou um ambicioso projeto.

Enxergando um enorme potencial no jogo, o game designer começou a convidar jovens talentos para fazerem parte da sua equipe e entre eles estava Keiji Inafune, artista que acabara de sair da faculdade e que tinha trabalhado no desenvolvimento de um jogo chamado Street Fighter.

Com apenas seis pessoas fazendo parte do desenvolvimento, caberia àquele rapaz a dura missão de criar boa parte dos personagens, além de transportá-lo para a tela.

Nós não tínhamos muitas pessoas [na equipe], então após desenhar os personagens, passei a fazer a ‘pixelização’ para o Nintendo," revelou Inafune. "Naquela época as pessoas não eram especializadas e tínhamos que fazer muitas coisas diferentes porque éramos tão poucos, então eu acabei fazendo todos os personagens.

A inspiração para o protagonista veio de uma obra que se tornaria um dos símbolos da cultura POP japonesa, o mangá Astro Boy. Assim como na história de Osamu Tezuka, no jogo da Capcom o herói também seria um garoto robô, mas criado por um cientista chamado Dr. Thomas Light para combater um exército de máquinas formados pelo seu renegado assistente, o Dr. Albert W. Wily.

Curiosidade: a dupla foi inspirada em duas figuras importantes da nossa história, Thomas Edison e Albert Einstein. Quanto à motivação para a escolha do vilão, ela teria sido feita devido ao envolvimento de Einstein na criação da bomba atômica.

Dr. Light e Dr. Wily (Crédito: Reprodução/Youtube)

Graças à grande participação de Inafune no desenvolvimento dos personagens e por ter participado da criação de vários jogos da série, com o tempo ele passou a ser conhecido — de forma até injusta — como o “pai do Mega Man”. Porém, ele já afirmou que quando entrou para a equipe, boa parte do conceito para o jogo e para vários personagens já haviam sido estabelecidos.

Inicialmente a ideia de Kitamura era fazer com que o protagonista usasse uma roupa predominante branca, mas devido às limitações do Nintendinho, eles acabaram optando pelo azul. O motivo estava na maior quantidade de tons para essa cor presente na paleta do console, incluindo o ciano.

Faltava escolher um nome para o herói e por pouco ele não teria ficado conhecido de maneiras bem diferentes. Mighty Kid e Knuckle Kid estiveram entre as opções e como suas vestimentas mudaraim de cor, até mesmo Rainbow Man chegou a ser cogitado. Porém, no fim a equipe escolheu Rock, com a sua irmã sendo batizada como Roll. Aliás, a relação com a música seria aproveitada em vários outros personagens ao longo dos anos, mas o protagonista sofreria uma mudança aos chegar nos Estados Unidos.

Descrente no sucesso do jogo que estava sendo produzido no Japão, num primeiro momento a divisão norte-americana da Capcom descartou publicar o Rockman no país. Porém, conforme o jogo despertava o interesse de mais pessoas no outro lado do mundo e devido à grande base instalada do console nos Estados Unidos, a empresa enxergou uma possibilidade ali.

No entanto, o vice-presidente da companhia odiou o título e sugeriu que ele tivesse seu nome alterado para Mega Man. Além disso, a arte feita por Inafune para a capa lembrava muito um anime, tipo de desenho que enfrentava alguma resistência por parte do público norte-americano. Sem muito tempo para colocar o jogo nas lojas, Joseph Morici teve uma ideia: chamou um amigo para criar outra arte e após apenas seis horas de trabalho, o que o sujeito entregou foi o que ficaria conhecida como uma das piores capas de todos os tempos.

Crédito: Reprodução/Capcom

Anos depois, Keiji Inafune chegou a creditar o fraco desempenho comercial do jogo nos Estados Unidos àquela capa, mas independentemente disso ser verdade, até a Capcom resolveu entrar na brincadeira, usando o “Bad Box Art Mega Man” em outros jogos, como o Street Fighter X Tekken.

Pedra, papel e tesoura

Mesmo com o desempenho comercial do Mega Man não tendo sido tão bom quanto a empresa esperava, ele recebeu muitos elogios por parte da mídia especializada e o principal motivo estava na sua jogabilidade. Jogos de plataforma existiam aos montes naquela época, mas a equipe responsável por aquele havia implementado alguns conceitos inéditos e que fizeram a diferença.

O primeiro deles era a liberdade de escolhermos a ordem para encarar as fases disponíveis. Com o nível de dificuldade bem alto, o simples ato de chegar ao final de cada estágio já era um trabalho e tanto, mas aí teríamos outro problema pela frente, um dos seis Robot Masters.

Essa era a segunda bela sacada tida pelas pessoas que criaram o título, já que ao derrotarmos os chefes de fase adquiríamos suas armas. Com elas nos dando poderes especiais, cada robô era vulnerável (ou mais resistente) a uma determinada arma e se soubéssemos suas fraquezas, os combates seriam muito mais tranquilos.

Aquilo adicionou um nível de profundidade nunca visto num jogo de plataforma e numa época em que não tínhamos a facilidade da internet ao nosso alcance, restava aos jogadores avançarem na base da tentativa e erro ou trocar informações com os amigos.

Jogos Mega Man

Crédito: Reprodução/Eurythmic/Moby Games

O que só soubemos anos depois é que a ideia era nos colocar contra sete chefes. Porém, devido a problemas técnicos um deles teve que ser descartado e o escolhido foi o Bond Man, um robô que usaria uma arma que nos grudaria nas superfícies. Infelizmente nenhuma arte conceitual do personagem foi guardada, com a sua aparência sendo conhecida apenas porque Hitoshi Ariga o redesenhou quase uma década depois, tendo a descrição de Inafune como base.

Mas se o primeiro jogo sofreu com o corte de um robô, a popularidade da franquia no Japão faria com que vários outros fossem criadores por fãs. Durante muitos anos a Capcom realizou concursos em que os fãs do Mega Man podiam enviar sugestões de chefes para os jogos e entre os participantes esteve Yusuke Murata, que depois ficaria conhecido pelos mangá Eyeshield 21 e One-Punch Man. Na época do Mega Man 4 o artista tinha apenas 12 anos e foi o responsável pelo design do Dust Man. Já no jogo seguinte ele emplacou outro personagem, o Crystal Man.

Dos RPGs ao futebol

Apesar do fracasso comercial do primeiro Mega Man nos Estados Unidos, aquilo não impediu a Capcom de lançar vários outros títulos do personagem. Ao todo, a franquia rendeu mais de 50 capítulos dos mais variados estilos, incluindo aí os RPG da série Mega Man Battle Network e alguns experimentos um tanto... estranhos.

Entre eles tivemos o Wily & Right no RockBoard: That's Paradise, um “simulador de negócios” no estilo Banco Imobiliário ou o Super Adventure Rockman, um jogo de tiro sobre trilhos lançado para PlayStation e Sega Saturn, e que para Keiji Inafune, é um dos piores capítulos da franquia.

A Capcom chegou a lançar até mesmo o Mega Man Soccer, jogo que particularmente achava bastante divertido. Curiosamente, o título possui bastante conteúdo que não podia ser acessado, como um modo para até quatro jogadores ou uma tela que trazia o nome das pessoas que trabalharam na sua criação. A explicação para isso estaria na possibilidade de a empresa ter lançado o jogo antes de o seu desenvolvimento ter sido terminado.

Mas de todas as atrocidades cometidas contra o Bombardeiro Azul, nenhum foi maior que um jogo lançado para o DOS em 1990. Desenvolvido por Stephen Rozner, um ex-funcionário da Capcom e publicado por uma empresa chamada Hi-Tech Expressions, a obra chamada apenas Mega Man até tenta manter a atmosfera do original, mas não consegue evitar ser um dos piores jogos a carregar o nome do personagem.

Sem ter acesso aos arquivos do jogo original, Rozner decidiu fazer o que quisesse, já que encarava o projeto apenas como um jogo desenvolvido por um fã. No fim, sua versão tinha apenas três chefes, gráficos e efeitos sonoros muito inferiores ao jogo para o NES, mas mesmo assim a Capcom permitiu que essa aberração fosse lançada.

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