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Como a Multilaser me fez entender Jornada nas Estrelas

Qual sentido de comprar um tablet da Multilaser, uma marca mais ou menos, e ainda por cima escolher o mais barato do mercado? Leia e descubra

2 anos atrás

Sejamos realistas, a última coisa que você esperava ver no Meio Bit é um artigo sobre a Multilaser. Ela é uma daquelas marcas que com bastante boa-vontade chamamos de budget, junto com Leadership, Goldship, Positivo e similares, atendendo o mercado mais leigo e menos folgado no orçamento. Então, qual o motivo da Multilaser ser sequer citada neste artigo?

Multilaser M10A Lite com uma imagem de fundo escolhida aleatoriamente na Internet (Crédito: Carlos Cardoso/Meio Bit)

Eu explico: Tudo começou anos atrás, quando surgiu o iPad. A maioria dos leitores sabe que eu sou fã de quadrinhos, e ler gibis em um tablet é um sonho antigo. Com o iPad 1 isso era possível, mas extremamente incômodo.

A Apple mantém seus usuários em uma gaiola dourada. Se você se resolve ali dentro, é tudo maravilhoso, mesmo. Mas transferir arquivos externos era algo fora da expectativa da Apple, então era preciso um monte de gambiarras.

O iPad também era pesado e sua proporção de tela ela mais quadrada que uma página de quadrinhos. Também havia o agravante dele custar um braço e uma perna, não dava para sair por aí com um iPad, mesmo ler na cama era perigoso, meu iPad tem as cicatrizes para provar.

Depois dele tentei um Chromebook, que funcionava bem, mas como a tela não abria 180 graus, era bem incômodo.

Minha melhor opção foi um notebook com tela touch dobrável, a leitura é bem agradável, o problema, de novo, é o peso e a situação de, bem, você usar um notebook inteiro para uma tarefa simples.

Só muito mais tarde cogitei algo novo, ao perceber algo assistindo Jornada nas Estrelas: nas séries a tecnologia é... intercambiável, quase descartável. Ninguém anda com Macbooks caríssimos ou instrumentos exclusivos.

Eles resolveram o problema de acesso à informação com os PADDs (Personal Access Display Device), uma espécie de tablet dedicado. É comum cenas onde um personagem tem vários PADDs na mesa, enquanto está pesquisando algo. Faz muito mais sentido do que uma tela de navegador com um monte de abas abertas.

Eu não precisava de um tablet que custa uma fortuna e que eu teria que me preocupar o tempo todo com ele, eu precisava de um PADD, mas quem conseguiria produzir essa tecnologia futurista do Século XXIV?

A Multilaser, foi o que descobri, depois de pesquisar bastante.

Minhas exigências eram:

  1. Rodar Android;
  2. Ter slot para cartão de memória;
  3. Ser muito barato;
  4. Ter tela de 10 polegadas mínimo.

Eu cheguei ao Multilaser M10A Lite NB267 8GB 3G. Sim, tem 3G, mas eu nunca vou usar.

Eu não vou fazer uma resenha completa, não faz sentido. O aparelho como tablet é horrível. O processador Quad Core parece ter quatro núcleos de 8084. O Android 7 engasga feio e 1 GB de RAM só não é mais ridículo que os pífios 8 GB de memória Flash.

Ele é BEM prático para ler quadrinhos, mas só para isso (Crédito: Carlos Cardoso/Meio Bit)

É de longe o pior tablet que já usei, a experiência é pior do que o dia em que fui em uma dentista natureba que não acreditava em anestesia. Ele mal consegue rodar vídeos no YouTube, e quando roda você percebe que o alto-falante é uma piada de mau gosto.

Se houver alguma coisa rodando em background, é impossível, por exemplo, atualizar aplicações sem o sistema travar. Pausas de uns 8 segundos entre um clique e a resposta são comuns.

Dito isso, como PADD o M10A é o melhor gadget que já tive e o amo profundamente.

A única coisa que exijo dele é que rode a app Comic Display, e leia arquivos .CBR no cartão de memória. Ele faz isso com agilidade, a proporção de tela faz com que ele tenha a mesma altura do iPad, mas seja bem menos largo, e pesando 500 g é bem mais fácil de carregar do que os 704 g do iPad 1.

A tela de 1280x800 não é exatamente Retina Display, mas é decente, com cores fortes e brilhantes, e o ponto alto de um aparelho sem nenhum ponto alto.

Picard e seus PADDs (Crédito: Netflix, eu acho)

Ele já caiu da cama, não uso película e deixo jogado em cima da mesa, armário, mochila. Como vive em modo avião, a bateria dura bastante, mesmo sendo uma bela porcaria, provavelmente tirada de algum relógio.

A lição que tirei disso tudo: talvez um aparelho de mil e uma utilidades, que se proponha a resolver todos os seus problemas, não seja a solução ideal. Problemas simples exigem soluções simples, quando nos esquecemos disso acabamos com equipamentos caros e subutilizados. O iPad mais barato no site da Apple no momento em que estou escrevendo este texto custa R$ 3.999,00.

Sem sombra de dúvida é um equipamento centenas de vezes melhor do que o M10A da Multilaser, mas se eu comprar um e usar para ler gibis, terei a exata mesma experiência de uso. Ou melhor, terei uma experiência piorada, pois não há slot para cartão microSD.

Eu tinha um problema, e após anos o resolvi com o tablet mais barato do mercado. Só demandou pesquisa, paciência e planejamento. É sempre o caso? Estou recomendando o produto? Jesus, não! A não ser que você tenha as exatas mesmas necessidades e expectativas, fuja desse tablet, aliás fuja de todo tablet de menos de R$ 2.000.

O que quero passar é o conceito de que jogar dinheiro sem pensar muito não é a melhor forma de resolver um problema, o truque é pensar fora da caixa e cogitar mesmo as soluções que não fazem sentido, como comprar um tablet que faz com que você se sinta tentando rodar Crysis em um ábaco.

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