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Astrônomos encontram 1º planeta orbitando três sóis (contém Déjà vu)

Possível planeta orbitando sistema ternário GW Orionis pode ser o primeiro identificado, após o alarme falso de HD 131399Ab em 2016

2 anos e meio atrás

A descoberta de um possível planeta orbitando um sistema composto por três estrelas está sendo tratada com expectativa. GW Orionis, distante a "apenas" 1.330 anos-luz da Terra, apresenta um conjunto de discos de acreção ao redor de si com um estranho "espaço" vazio interno, que astrônomos acreditam ser causado por um corpo massivo.

Ainda assim, a comunidade científica está com os dois pés atrás como de costume, até para não gerar falsas expectativas como no caso de HD 131399Ab, descoberto em 2016 e que se revelou depois um alarme falso.

Representação artística do sistema ternário GW Orionis, com o vácuo entre os discos de acreção em evidência (Crédito: ALMA [ESO/NAOJ/NRAO], ESO/Exeter/Kraus et al.)

Representação artística do sistema ternário GW Orionis, com o vácuo entre os discos de acreção em evidência (Crédito: ALMA [ESO/NAOJ/NRAO], ESO/Exeter/Kraus et al.)

Sistemas estelares com mais de uma estrela, ao contrário do que muita gente pensa, são bem comuns. Com base em anos de observações do espaço, cerca de metade de todos eles são compostos por dois ou mais sóis, orbitando uns aos outros. O que nunca se observou, com 100% de certeza até hoje, são planetas no meio desse rolo.

As forças gravitacionais exercidas pelas estrelas em suas órbitas seriam insanas, o suficiente para ejetar qualquer corpo celeste presente, ou esmagá-lo completamente. Exatamente por isso, os dados das observações do sistema GW Orionis, providos pelo radiotelescópio ALMA (Atacama Large Millimeter Array) do ESO (European Space Observatory) no deserto do Atacama, Chile, aquele projeto do qual o Brasil foi chutado porque não pagou (finja surpresa...), está intrigando a comunidade.

O sistema triplo é cercado por um enorme disco de acreção, materiais capturados pela gravidade que eventualmente, são origens a planetas e outros corpos celestes, com um raio de aproximadamente 400 Unidades Astronômicas (1 UA = a distância entre o Sol e a Terra), disposto em três anéis de inclinações diferentes. O externo, segundo os dados obtidos pelo ALMA, seria a maior agregação de material proto-planetário já identificado.

Até aí tudo OK, não fosse um detalhe: um espaço "vazio" interno, que sob circunstâncias normais não deveria estar lá.

Imagem do ALMA (esq.) mostra estrutura dos discos de acreção em volta de GW Orionis, e evidência presença do espaço vazio; `direita, sombra criada pelo disco externo sobre os demais (Crédito: ALMA [ESO/NAOJ/NRAO], ESO/Exeter/Kraus et al.)

Imagem do ALMA (esq.) mostra estrutura dos discos de acreção em volta de GW Orionis, e evidência presença do espaço vazio; `direita, sombra criada pelo disco externo sobre os demais (Crédito: ALMA [ESO/NAOJ/NRAO], ESO/Exeter/Kraus et al.)

O artigo publicado na edição de novembro da Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, conduzido por pesquisadores de universidades dos EUA, Reino Unido, Canadá e Austrália, trabalha com algumas possibilidades. Uma delas é de que o atrito causado pelas três estrelas, gravitando umas às outras, estaria gerando um campo que mantém aquela região interna do disco de acreação quase livre de materiais.

A outra, a mais provável segundo os astrônomos, é que de um planeta massivo, no caso um gigante gasoso como Júpiter (planetas desse tipo se normalmente se formam antes dos rochosos, como a Terra), ou mesmo mais de um, estariam gerando a distorção. O planeta ou grupo de planetas não foram capturados pelo ALMA, dadas as distâncias, mas de acordo com os modelos criados pelos dados fornecidos pelas observações, esta explicação seria a que melhor se encaixa com o fenômeno.

De acordo com o Dr. Jeremy Smallwood, cientista responsável pelo artigo, a descoberta pode jogar mais luz nas dúvidas sobre a formação de planetas em sistemas complexos, mas como sempre, é bom ir devagar com o andor, até porque observações passadas já se provaram incorretas.

Modelo de GW Orionis, baseado nas observações do ALMA (Crédito: ALMA [ESO/NAOJ/NRAO], ESO/Exeter/Kraus et al.) / planeta

Modelo de GW Orionis, baseado nas observações do ALMA (Crédito: ALMA [ESO/NAOJ/NRAO], ESO/Exeter/Kraus et al.)

O planeta que não estava lá

Em 2016, um time de pesquisadores da Universidade do Arizona, utilizando dados do VLT (Very Large Telescope) também do ESO, detectaram uma anomalia no sistema estelar ternário HD 131399, que se encontra próximo da constelação de Centauro, a cerca de 351 anos-luz da Terra. Na época, a pesquisa apontou para a possibilidade de um planeta, ou mesmo uma anã-marrom, presa na beirada do poço gravitacional da maior das três estrelas, estar causando as distorções detectadas nas leituras.

Em 2017, entretanto, novos dados fornecidos pelo Gemini Planet Imager (GPI), um instrumento de alto contraste que faz parte do consórcio do Observatório Gemini (do qual o Brasil só não foi chutado porque ajudou a construir as unidades do Chile e do Havaí), revelou que o suposto planeta era um elemento externo ao sistema, provavelmente uma anã-vermelha ou uma anã-laranja, que se pensou estar ligado às três estrelas de HD 131399 por ser um corpo celeste com uma alta e incomum taxa de aceleração, estando entre os 4% das estrelas mais rápidas já identificadas.

Para o misterioso planeta (ou planetas) de GW Orionis, embora haja uma maior possibilidade de sua existência por causa dos dados analisados, é também possível que hajam erros na metodologia, ou dada a enorme distância de observação, bem maior que o corpo não-visto em HD 131399, esteja prejudicando uma avaliação mais aprofundada.

De qualquer forma, a equipe do Dr. Smallwood conduzirá mais pesquisas e análises com dados futuros fornecidos pelo ALMA, ou por outros institutos e equipamentos de observação, a fim de determinar de uma vez se planetas podem ou não se formar em sistemas formados por mais de uma estrela.

Referências bibliográficas

SMALLWOOD, J. L. et al. GW Ori: circumtriple rings and planets. Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, Volume 508, Edição 1 (novembro de 2021), 17 páginas, 17 de setembro de 2021. Disponível em https://doi.org/10.1093/mnras/stab2624

Fonte: LiveScience

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