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Tesla está tentando revolucionar na marra como dirigimos carros

Os carros da Tesla são excelentes, e fizeram todo mundo querer um carro elétrico, mas a novidade deles, um manche, não está fazendo sucesso.

3 anos atrás

Os carros como conhecemos hoje têm uma data exata de nascimento: 29 de Janeiro de 1886, quando Carl Benz deu entrada na patente para um “veículo movido a gasolina”, mas essa gestação foi bem mais complicada, e o automóvel só veio à luz dois anos depois, graças a uma mulher, como na maioria das gestações, aliás.

Jump in my car... (Crédito: ABC)

A mulher em questão era Bertha Benz, esposa de Carl. Bertha era extremamente inteligente, empreendedora e, para sorte de Carl, RICA. Com dinheiro da família ela financiou boa parte dos experimentos do marido, além de ajudar no design do primeiro automóvel.

Carl era genial, mas não era um grande empreendedor, ele era ótimo inventando e péssimo vendendo, além de ser perfeccionista. Entre 1886 e 1888 ele vendeu menos de 20 automóveis, que eram meras curiosidades, comprados por gente rica pra ficar dando voltas no quarteirão. Ainda não havia sido demonstrado um uso prático, real.

Impaciente com a lentidão do marido, Bertha resolveu mostrar ao mundo que o automóvel era prático. Sem avisar ao marido, ela pegou um Benz Patent-Motorwagen Número 3, dois filhos, de 15 e 13 anos. Saindo de Mannheim o destino era Pforzheim, onde Bertha iria visitar sua mãe. A distância era de inimagináveis 106Km.

Bertha Benz e o Modelo III que ela usou na viagem (Crédito: internet / Domínio Público)

No meio do caminho ocorreram vários percalços, incluindo uma linha de combustível entupida, que Bertha consertou em modo Full McGyver, com um alfinete de chapéu, um tubo de vapor que precisou ser isolado e ela resolveu com uma liga (aquela fita elástica que prende a meia ¾, ou algo assim, e quando ela percebeu que os freios não funcionavam direito, ela parou em um sapateiro e pediu que ele pregasse tiras de couro na peça de madeira, inventando assim a sapata de freio.

Comprando combustível em farmácias (Não havia sido inventado ainda o posto de gasolina) e reabastecendo com água o sistema de resfriamento, o trio conseguiu chegar a seu destino no final do dia, quando Bertha telegrafou para o marido contando da aventura. A imprensa também havia sido notificada, e Bertha Benz se tornou a primeira motorista de verdade, fez o primeiro Grand Tour e demonstrou que automóveis eram viáveis como meio de transporte.

Isso tudo sem encostar no volante.

Em verdade ainda não haviam inventado o volante, o carro de Bertha usava uma alavanca para mover a roda dianteira. O primeiro volante só apareceu em 1894, em um Panhard 4 francês.

Um Panhard de 1902 (Crédito: Lafayette photography studio - Victoria and Albert Museum, Lafayette)

Por incrível que pareça não há nada natural e intuitivo em um volante, evolucionariamente não há nada que nos prepare para usar esse tipo de utensílio. Apenas, por sorte, o volante deste cedo se mostrou uma excelente solução, sofrendo sua própria evolução. Originalmente volantes eram horizontais, migrando aos poucos para a posição vertical.

Mesmo assim sempre houve quem achou que daria pra fazer melhor, e de tempos em tempos empresas pesquisam alternativas ao volante. Nos Anos 1960 a Ford inventou um sistema chamado “Wrist twist”, com uma barra fixa e dois controles giratórios.

Em 1965 a GM kibou a Ford e incluiu um sistema semelhante no Chevrolet Turbo Titan III, um caminhão-conceito futurista com uma turbina a gás. O "volante" apareça aos 6min:

Em 1966 a Chrysler apresentou sua versão, no modelo 300X.

Futurista era. (Crédito: Chrysler)

A Saab criou um carro controlado por um joystick em 1992, o Prometheus.

Saab Prometheus (Crédito: Saab)

NENHUMA dessas idéias deu certo, todas eram soluções à procura de um problema. Todas criavam novos incômodos. Variações menos radicais foram as que mais deram certo, em geral cortando parte do volante, criando um estilo semelhante a um manche de avião.

O mais bem-sucedido exemplo desse estilo de carros apareceu em 1982 quando usaram um Pontiac Trans AM modificado para ser o KITT, a Supermáquina, em Um vôo de sombras ao mundo perigoso de um homem que não existe.

Para mostrar que KITT era futurista o volante convencional foi transformado em um manche, mas os dublês usavam volantes convencionais, era complicado demais dirigir de forma agressiva, e é esse o problema que a Tesla está tendo.

Só de ver a imagem a gente já ouve o tema... (Crédito: Reprodução Internet)

Os novos carros modelos S estão vindo com volantes estilo manche, e isso está causando uma certa confusão. Elon Musk é ferrenho defensor, diz que em muito pouco tempo qualquer um se acostuma. É verdade. A maioria dos carros de corrida usa volantes estilo manche, e na estrada eles proporcionam melhor visibilidade e mais facilidade de acesso ao interior do carro.

O que não está dando certo nos carros da Tesla é que no dia-a-dia as pessoas precisam menos de performance de carro de corrida, e mais praticidade. E não há nada de prático em manobrar carros com volante tipo manche.

Para piorar a Tesla removeu as alavancas de câmbio de seus carros novos, o câmbio agora é 100% digital, na tela LCD touchscreen de toque. Pro padrão americano, tudo bem, você coloca o carro em (D)rive e pronto, mas na hora de estacionar, quando tem que dar ré, avançar, mudar de marcha, voltar, o controle na alavanca ou na borboleta é bem mais prático.

Um usuário do Instagram resumiu bem o desconforto que é manobrar um Tesla nessa condição:

 

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É preciso entender e aceitar que alguns designs não podem ser melhorados, já atingiram o máximo em usabilidade e funcionalidade. Quatro rodas é o ideal em automóveis. Mais rodas tornam o veículo mais pesado e difícil de manobrar, e três rodas o tornam instável em curvas.

Um Homo Habilis de dois milhões de anos atrás teria ZERO problemas em entender e usar uma faca ultra-moderna construída com a mais avançada tecnologia. O conceito em torno do design do objeto “faca” é tão simples e perfeito que não há mudança revolucionária que o torne obsoleto.

E não, não tem a ver com inexperiência dos motoristas. Durante uma corrida em Laguna Seca Randy Pobst, que não é nenhum novato depois de algumas voltas em um Tesla S com manche foi pro box e pediu para trocarem por um volante comum.

A Tesla é inegavelmente a grande responsável pela popularização dos carros elétricos, promovendo inúmeras inovações em conectividade e interfaces, mas essa briga eles não vão ganhar. Mais fácil o povo aceitar aquele carro do Google, sem volante nenhum.

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