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Microsoft, Nintendo e a reunião que terminou em gargalhadas

Conheça a história de quando a Microsoft tentou comprar a Nintendo, o que levou os executivos da empresa japonesa a rirem da proposta por uma hora

3 anos atrás

Pode acreditar, 2021 marcará o 20° aniversário da entrada da Microsoft no mundo dos consoles e embora muito já tenha sido dito sobre aquela arriscada aposta da empresa americana, ainda há muitos detalhes a serem divulgados sobre esta história. Entre eles está um quase desesperado plano para conseguir jogos exclusivos, o que resultou em uma série de reuniões com executivos de outras companhias e até mesmo um vergonhoso encontro com o pessoal da Nintendo.

A reunião entre Microsoft e Nintendo

Crédito: Reprodução/Dori Prata

Tais casos foram desenterrados por Dina Bass em um excelente artigo publicado no Bloomberg, onde após conversar com mais de 20 pessoas, a jornalista descobriu que a tentativa da Microsoft de adquirir a Nintendo não foi recebida de maneira tão cordial quanto o relatado no livro Opening the Xbox: Inside Microsoft's Plan to Unleash an Entertainment Revolution, de Dean Takahashi.

De acordo com o então chefe de desenvolvimento de negócios da Gigante de Redmond, Bob McBreen, a procura pela Nintendo aconteceu após eles terem recebido uma resposta negativa da Electronic Arts. Ainda sem poder contar com um apoio de peso, Steve Ballmer teria decidido realizar uma jogada ainda mais ousada e enviou seus executivos para tentarem fechar outro negócio. Entre eles estava Kevin Bachus, que na época respondia como diretor de relações externas e contou como o encontro se desenrolou:

O Steve fez com que fôssemos nos encontrar com a Nintendo para ver se eles poderiam considerar ser adquiridos. Eles apenas riram pra caramba. Tipo, imagine uma hora de alguém simplesmente rindo de você. Foi assim que a reunião aconteceu.

McBreen ainda confirmou a história de que a ideia seria fornecer à Nintendo todas as especificações técnicas do primeiro Xbox, para assim convencer os japoneses de que eles poderiam focar naquilo que sabem fazer melhor, que são os jogos, enquanto a Microsoft ficaria responsável por entregar um videogame que seria capaz de bater de frente com o PlayStation 2.

Fim da história, certo? Com a Nintendo sim, mas a nova negativa fez a Microsoft voltar suas munições para outra companhia japonesa, a Square. O ano era 1999, portanto antes dos criadores do Final Fantasy se juntarem a Enix, quando executivos se encontraram no Japão com uma carta de intenção de compra.

No dia seguinte, estamos sentados em sua sala de reuniões e eles disseram, ‘o nosso banqueiro gostaria de fazer um pronunciamento’,” afirmou McBreen. “E basicamente, o banqueiro disse, ‘a Square não pode prosseguir com este negócio porque o preço é muito baixo.’ Juntamos as coisas, fomos para casa e aquele foi o fim da Square.

Por fim, Bill Gates e cia ainda estudaram comprar a Midway, mais conhecida pelas séries Mortal Kombat e NBA Jam, mas após uma avaliação, Bachus disse que a Microsoft “não descobriu como poderiam fazer isso funcionar” e chegaram a conclusão de que o negócio acrescentaria pouco valor à empresa.

Curiosamente, o exclusivo que a Microsoft tanto procurava acabou vindo não de uma investida, mas de uma oferta que lhes foi feita. A empresa se chamava Bungie e buscando alguém disposto a injetar dinheiro no estúdio, eles procuraram a companhia que estava para entrar no mercado de consoles. O resultado surgiu algum tempo depois, com a criação do jogo que viria a ser conhecido como a principal cara do Xbox, o Halo: Combat Evolved.

Crédito: Divulgação/Bungie

Quanto a declaração de que o pessoal da Nintendo teria caído no riso durante a reunião, ela pode parecer exagerada, mas depois de assistir o documentário High Score (GDLK no Brasil) e ver o relato de Tom Kalinske em relação a como ele foi tratado pelos executivos da Sega quando assumiu o cargo de CEO da divisão americana da empresa, não só acho isso possível, como chego a acreditar que foi ainda pior.

E se aconteceu, fico imaginando o quanto os representantes da Microsoft devem ter se sentido humilhados pela reação dos demais participantes. Por outro lado, acredito que este tenha sido justamente o sentimento dos japoneses ao saber que uma empresa americana estava chegando com um caminhão de dinheiro com o único objetivo de acabar com uma das coisas que eles mais prezam, que é a independência.

De qualquer forma, tentar imaginar o que poderia ter surgido desta parceria é algo difícil, mas o fato é que se ela tivesse acontecido, a indústria de games teria se tornado algo muito diferente do que temos hoje. Provavelmente nunca teríamos visto a criação do Wii; hoje Shigeru Miyamoto poderia ser um desenvolvedor independente; a série The Legend of Zelda provavelmente teria uma aparência bem mais realista; e Samus Aran talvez estivesse apenas protagonizando algum FPS genérico.

Isso tudo, é claro, desde que a Nintendo não tivesse sido esvaziada, como aconteceu com a Rare. Pensando por este lado e considerando o tradicional orgulho da Nintendo, fica ainda mais fácil perceber que tal negócio jamais seria levado adiante.

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