Meio Bit » Ciência » China lança Chang'e 5 - sua mais ambiciosa missão para a Lua

China lança Chang'e 5 - sua mais ambiciosa missão para a Lua

Chang'e 5- uma das missões espaciais mais ambiciosas -e rápidas- dos últimos tempos. A China pretende ir à Lua -e voltar- em menos de um mês.

3 anos atrás

Chang’e 5 é mais uma missão científica chinesa, dessa vez vão tentar um feito que não é repetido desde 1976: Coleta e retorno de amostras do solo lunar. Só que o programa espacial chinês nem sempre foi tão eficiente, científico e pacífico, assustando em uma época tanto americanos quanto russos.

Foguete Longa Marcha 5 com a Chang'e 5 na plataforma/prédio de montagem. (Crédito: CNSA)

Uma velha piada soviética, que daria uns seis meses naquelas colônias de férias chamadas Gulags, se você fosse pego contando, diz que Fidel Castro recebeu um jipe de presente de Moscou. O carro era lindo, todo equipado, mas fidel percebeu que não tinha volante.

Ele telefonou para Krushev, dizendo que a peça estava faltando.

“Não”, respondeu Krushev. “É assim mesmo, funciona desse jeito: Você entra no jipe e acelera. Nós dirigimos daqui”.

Quando Mao Tsé-Tung percebeu que países como Cuba e a Melhor Coréia, além do Leste Europeu estavam se tornando satélites de Moscou, ele decidiu direcionar esforços para tornar a China uma potência comunista independente, e conseguiu a ponto do Exército Vermelho ser mais temido pelos Soviéticos do que Washington.

Nesse projeto de independência estava a criação de artefatos nucleares e mísseis balísticos.

Inicialmente os chineses, como era de se esperar, kibaram o R-2 soviético, que por sua vez era um kibe da V-2 alemã, e em 5 de Novembro de 1960, ele voou com sucesso pela primeira vez.

Quando Krushev começou a desestalinizar a União Soviética, os chineses se afastaram, e a cooperação entre os dois países acabou. Isso complicou os planos chineses, que estavam atrás do prestígio trazido por um programa espacial, tanto que em 1967 já tinham começado a pesquisar um programa espacial tripulado.

Ambição eles tinham de sobra, mas como todo mundo que trabalhou pra eles sabe, comunistas são ótimos em planejar e péssimos em executar.

Aproveitando para lembrar a piada que fez a gente rir em Chernobyl, por si só um feito:

P: O que é grande como uma casa, queima 20 litros de combustível por hora, faz um monte de fumaça e barulho e corta uma maçã em 3 pedaços?

R: Uma máquina soviética para cortar maçãs em 4 pedaços

Depois que os russos colocaram o Sputnik em órbita em 1957, o Partido Comunista Chinês decidiu em uma reunião em 1958 que a China colocaria um satélite em órbita em 1959, para celebrar os 10 anos de fundação do partido.

O Dong Fang Hong I, primeiro satélite chinês, foi lançado em Abril de 1970.

Dong Fang Hong I, primeiro satélite chinês. (Crédito: Brücke-Osteuropa)

Apesar de nunca acertarem os prazos, os chineses sempre foram metódicos e dedicados, e a estratégia de kibar, estudar e aprimorar, kibada dos japoneses, se mostrou vencedora.

Tanto que em 2003 Tang Liwei se tornou o primeiro Taikonauta (como eles gostam de chamar), voando na cápsula Shenzhou 7, que é basicamente uma Soyuz made in china.

Cápsula Shenzou 7 - Sim, é uma Soyuz com janelão. (Crédito: Ohconfucius)

Depois disso a China mandou missões duplas, fez caminhadas no espaço, enviou o Tiangong 1, um laboratório espacial usado para testar acoplagens orbitais, entre outros procedimentos.

O Tiangong 2, lançado em 2016 é um laboratório orbital, ou uma mini-estação espacial, dependendo do tamanho do seu sino-ufanismo. Já o Tiangong tem 10.4 metros de comprimento e pesa 8.6 toneladas, e foi habitada por dois astronautas por 26 dias. Depois de cumprir sua missão o Tiangong 2 fez uma reentrada controlada em Julho de 2019, esfarelando-se sobre o Pacífico Sul.

Sim a China resolveu transmitir a reentrada do Tiangong 2.

Como costuma acontecer com todo mundo, chega uma hora em que um monte de armas nucleares em desfiles faz com que você deixe de ser visto como superpotência e se torne um bully.

Conquistas científicas e tecnológicas, isso sim traz respeito e prestígio, e como todo mundo sabe, o foguete que manda uma sonda pra Lua é basicamente o mesmo que manda uma bomba na cabeça dos imperialistas ianques. Todos os primeiros astronautas e cosmonautas voaram na ponta de mísseis levemente modificados.

Investindo em Ciência pura a China começou um programa de exploração lunar que teve seu primeiro sucesso em 2007, com o lançamento da Chang’e 1, uma sonda que durante 16 meses orbitou e mapeou a Lua.

Em 2010 foi a vez da Chang’e 2, que por 8 meses orbitou a Lua, também mapeando a superfície em alta resolução.

Projetada para funcionar por 6 meses, a Chang’e 2 ao terminar sua missão primária foi movida para o ponto Lagrange 2 do sistema Terra-Lua, para testar seus sistemas de propulsão. Depois disso era foi colocada em uma órbita que eventualmente interceptou o asteroide Tutatis. Seguindo em sua missão de explorar o espaço profundo e testar os sistemas de navegação e comunicação chineses, a Chang’e 2 está no 10º ano de sua missão, e contando. Xing-Ling essa não é.

Imagens da Lua feitas pela Chang'e 2. (Crédito: CNSA)

Em 2013 a Chang’e 3 conseguiu pousar na Lua, tornando a China o terceiro país do mundo a realizar esse feito, e a primeira vez desde 1976.

Outro feito foi o Yutu, o robozinho que a Chang’e 3 levou.

Yutu, ou Coelho de Jade, é mais um dos nomes poéticos que os chineses resolveram dar a suas missões espaciais. Chang’e é a deusa da Lua. Outra importante lição de marketing: Nomes opressivos e militarizados não pegam bem junto ao grande público, ao menos fora de tempos de guerra.

O robozinho deveria funcionar por três meses, funcionou por 31. O lander continua até hoje.

Em Dezembro de 2018 foi a vez da Chang’e 4, que repetiu o experimento da 3, mas pousando no lado oculto da Lua, próximo ao polo sul.

Algumas missões auxiliares depois é chegada a vez da Chang’e 5, uma missão ambiciosa mesmo pelos padrões da NASA, que dirá da CHiNASA (sim, a Agência espacial da China se chama CNSA - China National Space Administration e qualquer semelhança da logo deles com o da Frota Estelar e da Federação dos Planetas Unidos é mera coincidência!

Qualquer semelhança... (Crédito: Gene Roddenb-digo, CNSA)

 

 

A Chang’e 5 vai repetir o feito da Luna 24, sonda soviética que em 1976 pousou na Lua, recolheu amostras e as mandou de volta para a Terra.

A ambiciosa missão chinesa vai mandar uma nave automatizada que entrará em órbita lunar. Um módulo de pouso se destacará do orbitador. Ele pousará suavemente (esperamos).

Uma furadeira robótica irá perfurar 2 metros da superfície lunar, para em seguida recolher 2Kg de amostras de solo luar.

Essas amostras serão guardadas em um módulo de subida, que se destacará do módulo de pouso e entrará em órbita luar.

Aqui as coisas começam a ficar (mais) complicadas: O módulo de subida deverá, por conta própria encontrar o orbitador, acoplar e transferir as amostras para uma cápsula de reentrada.

Com as amostas a bordo o orbitador deverá sair da órbita lunar, entrando em uma trajetória rumo à Terra.

Chegando aqui, a cápsula de reentrada com as amostras se desprenderá, e fará uma série de manobras para gastar energia e reduzir sua velocidade, entrando e saltando da atmosfera, igual a uma pedra achatada atirada na superfície de um lago. As mesmas manobras foram usadas pelas cápsulas Apollo.

Tudo dando certo, a cápsula de reentrada deve reentrar e pousar com auxílio de paraquedas na Mongólia Interior, que não é na Mongólia Mongólia, mas uma região da China. Eu falei, nada é fácil aqui.

Agora a vantagem: Como a Lua é aqui do lado, a missão não levará anos, nem mesmo meses. A Chang’e 5 decolou dia 23 de Novembro. O pouso deve ocorrer dia 29 de Novembro, o que coloca a data de retorno e pouso na Terra entre 16 e 16 de Dezembro, dependendo do seu fuso horário.

O Melhor de Tudo:

A China está sendo estranhamente aberta com essa missão, com direito a transmissão do lançamento pelo canal em inglês deles, comentaristas, imagens de bastidores.. nem sempre é assim, é comum lançamentos não serem anunciados, algumas vezes são transmitidos via links piradas com alguém filmando do celular.

Outras vezes surge um link oficial minutos antes do lançamento. No caso da Chang’e 4 foi informado que nada seria transmitido, apenas para do nada aparecer um link transmitindo o pouso. Aí ficaram semanas sem nenhuma imagem, depois surgiu um site em inglês disponibilizando todo o material da missão. Não tente entender os chineses.

Dessa vez estamos preparados.

A comunidade internacional de astrônomos e radioamadores, unificada pelas redes sociais está acompanhando as transmissões da Chang’e 5, usando os sinais para calcular sua posição e prever sua trajetória.

Gente como Scott Tilley está rastreando as frequências, e R00t, um desses entusiastas conseguiu decodificar um sinal de vídeo, produzindo uma imagem do painel solar da Chang’e 5 sendo atingido por poeira ou restos de alguma coisa.

Em breve teremos muitas imagens e é possível até que a China transmita ao vivo os pontos-chave da missão, mas as emoções não acabam por aí.

Em Fevereiro de 2021 chega em Marte a Tianwen-1, primeira missão chinesa ao planeta vermelho. É, de novo, ambiciosa, a China tentará de uma vez emplacar um orbitador, um módulo de pouso e um robozinho. Vão conseguir? Tomara, mas a certeza é que mesmo que não dê certo, eles farão de novo e de novo até conseguirem e parecer fácil.

Pessoal bem orgulhoso de sua missão a Marte. (Crédito:CNSA)

 

 

 

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários