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NASA vai cultivar vegetais na Lua (sim, é possível)

NASA inicia preparativos de missão para testar até onde é viável cultivar vegetais na Lua; missão da sonda Chang'e 4 mostrou ser possível

28/03/2024 às 10:11

Produzir comida no Espaço é um desafio e tanto, e as agências espaciais estão dedicadas a resolver esse problema. Já se passou uma década desde que astronautas da ISS almoçaram alface espacial pela primeira vez, e a China demonstrou ser possível cultivar certas plantas na Lua. Agora, a NASA se prepara para fazer o mesmo.

A missão Artemis, que (se nada mais der errado) deve levar humanos de volta ao satélite em 2026, executará experimentos para avaliar se é viável plantarmos vegetais na Lua, não diretamente no solo, mas aproveitando o espaço disponível e a luz ambiente, ainda que tendo que lidar com a microgravidade, temperaturas baixas, e radiação.

Representação artística de astronauta da missão Artemis instalando instrumentos na superfície lunar, para descobrir como e o que pode ser cultivado (Crédito: Divulgação/NASA)

Representação artística de astronauta da missão Artemis instalando instrumentos na superfície lunar, para descobrir como e o que pode ser cultivado (Crédito: Divulgação/NASA)

Nesta terça-feira (26), a NASA delineou os planos e instrumentos a serem usados no experimento LEAF (Lunar Effects on Agricultural Flora, ou Efeitos Lunares na Flora Agrícola), que fará parte da missão Artemis III, em que astronautas norte-americanos deverão pisar de novo em solo lunar, pela primeira vez em mais de meio século.

O experimento, criado pela Space Lab Technologies, uma startup do estado do Colorado, foi criado para observar se o ambiente lunar fornece as condições necessárias para permitir que cultivares cresçam e realizem fotossíntese, bem como observar como elas reagem ao estresse imposto por ambientes mais agressivos e inóspitos.

Este projeto consiste em uma câmara selada e pressurizada, contendo solo terrestre, uma atmosfera isolada, nutrientes e sementes (do que, não foi divulgado), que será instalada na superfície e checada uma semana depois, a fim de estudar os efeitos do vácuo, luz solar em excesso, e das emanações radioativas do Espaço.

Tal experimento não leva em conta se o solo superficial lunar é próprio para cultivo, sabe-se que há depósitos de água e gelo no satélite, mas toda a camada externa é bem estéril, e não há a intenção de abrir as câmaras. Sim, há mais de uma, para missões distintas: o LEMS (Lunar Environment Monitoring Station, ou Estação de Monitoramento do Ambiente Lunar) é basicamente um sismógrafo, enquanto o LDA (Lunar Dielectric Analyzer, ou Analisador Dielétrico Lunar) vai medir a capacidade do solo em propagar campos elétricos, que serão úteis para encontrar recursos.

Segundo Christine Escobar, VP da Space Lab, o LEAF "será pivotal no entendimento de como poderemos implementar a Agricultura para suportar missões espaciais", de modo a viabilizar a exploração da Lua, e até de Marte no futuro, em projetos maiores e de maior duração (leia-se colonização).

Claro que o Espaço é um lugar cruel, que só quer te matar a todo momento, mas mesmo um ambiente tão cáustico como o vácuo pode ser usado a nosso favor, se soubermos como. Há, sim, a possibilidade de estabelecermos plantações em ambientes externos à Terra, mas o trabalho até chegarmos em algo viável para uma missão permanente não será nada simples, nem pouco.

Nisso, a missão chinesa da sonda Chang'e 4, realizada em 2018, deu algumas direções e ideias à NASA.

Brotos de algodão que cresceram na Lua, durante missão da sonda Chang'e 4 (Crédito: Divulgação/Chongqing University/AFP/Getty Images)

Brotos de algodão que cresceram na Lua, durante missão da sonda Chang'e 4 (Crédito: Divulgação/Chongqing University/AFP/Getty Images)

O rover enviado à Lua continha uma carga valiosa, na forma do LEM (Lunar Micro Ecosystem, ou Micro Ecossistema Lunar), uma câmara pressurizada que continha o necessário para estabelecer um pequeno ecossistema fechado: solo com nutrientes, água, ar e alguns organismos selecionados: leveduras, sementes de batata, colza (uma das variedades da qual extraímos o óleo de canola), algodão, Arabidopsis thaliana (uma florzinha muito usada em pesquisas científicas), e ovos da mosca-da-fruta.

Em tese, as leveduras e outras bactérias fixariam nitrogênio nas raízes das plantinhas, e estas liberariam oxigênio via fotossíntese, que sustentaria as moscas, e estas adubariam a terra com suas fezes, adubando e nutrindo o solo, e o ciclo continuaria. O contêiner deveria regular a temperatura e a administração de água nas plantas, no que o experimento foi planejado para durar 100 dias. Claro, a Realidade não colaborou.

No dia 3 de janeiro de 2019, a temperatura foi ajustada em 24 °C e as sementes, regadas. No dia 15, a Universidade de Chongquind, responsável pela pesquisa, divulgou fotos dos brotos de algodão, que germinaram com sucesso, enquanto afirmou (sem imagens) que haviam também mudas de colza e batata.

No dia 16, entretanto, os responsáveis anunciaram o fim do experimento, alegando que o LEM não foi capaz de manter o ambiente estável durante a noite lunar, quando as temperaturas despencam para −52 °C. Ainda assim, dados importantes foram recuperados e lições foram aprendidas.

Como dito antes, a humanidade não pode depender da Terra para todo o sempre, e estudar meios de produzir comida no Espaço, para nos sustentar em viagens e colônias futuras, pode parecer um exagero, mas é melhor pecar por antecipação, do que correr atrás do prejuízo, se ainda for possível quando as coisas esquentarem.

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