Meio Bit » Games » Xbox, jogos exclusivos e influência da Geração Z

Xbox, jogos exclusivos e influência da Geração Z

Para tentar alcançar um público maior, divisão Xbox mudou sua estratégia tendo o comportamento da Geração Z como parâmetro

27/03/2024 às 9:51

A menos que surja uma reviravolta no caminho, os jogos lançados exclusivamente para consoles se tornarão cada vez mais raros. Para quem possui um Xbox, há bastante tempo isso deixou de ser uma novidade, com a Microsoft levando seus jogos até para os videogames rivais. Um dos motivos para isso está na possibilidade de aumentar o público-alvo, o que inclui atender uma fatia dos consumidores pertencentes à Geração Z.

Hi-Fi Rush - Xbox Studios

Crédito: Divulgação/Tango Gameworks

Nascidas entre a metade da década de 90 e 2010, essas pessoas são conhecidas também como nativas digitais, aquelas que chegaram a um mundo em que já existia a World Wide Web e onde os aparelhos tecnológicos modernos começavam a ganhar popularidade. Uma das principais característica dessa população está na sua facilidade de acesso à informação e entretenimento, seja através de TV, smartphones, internet e claro, videogames.

Pois essa capacidade de atuar em “modo multitarefa” acabou afetando a maneira como consomem jogos eletrônicos, ao menos na opinião de Phil Spencer. Durante uma entrevista ao site Polygon, o CEO de jogos na Microsoft falou sobre o estado atual da indústria e algumas mudanças que estamos vivenciando.

“Essa noção de que o Xbox pode ser apenas este dispositivo que se conecta a televisão não é algo que vemos na pesquisa com a Geração Z, porque nada mais é assim para eles,” declarou. “Alguns deles terão um iPhone, alguns terão um Android, mas todos os jogos e tudo mais é igual. Eu posso ter acesso ao TikTok em ambos, ao menos por enquanto. Todas as suas coisas estão disponíveis em qualquer lugar que quiserem. Então, para o Xbox, o pivô da nossa marca — à medida que atraímos e mantemos a relevância com o público mais jovem — é ‘o Xbox é o lugar onde posso encontrar os ótimos jogos que desejo.’”

Crédito: Reprodução/Freepik

Contudo, Spencer sabe que uma decisão tão importante como disponibilizar algumas das suas marcas em outros consoles não seria bem-vista por parte daqueles que adquiriram um dos seus consoles. Mesmo assim, ele garante que todas as escolhas feitas pela empresa visam o melhor para o Xbox.

“Sei que às vezes as coisas são usadas para causar discórdia, que existe algum mal nos bastidores que nos obriga a fazer as coisas — ‘o Phil odeia os exclusivos e por isso somos como o PlayStation e o Switch agora,’” explicou o CEO. “Toda decisão que tomamos é para tornar o Xbox mais forte a longo prazo. Isso não quer dizer que todos concordarão com cada decisão que tomamos, mas é fundamental para a maneira como tomamos decisões.”

Para os mais velhos, pode soar até ofensiva a ideia de que o destino de uma divisão inteira está sendo definido com base no comportamento da molecada, mas não considero isso absurdo. Como defendido recentemente pelo ex-presidente e CEO da Sony Interactive Entertainment America, Shawn Layden, a indústria estaria apenas reciclando seus consumidores, com o número total de consoles vendidos numa geração nunca ultrapassando 250 milhões de unidades.

Logo, as desenvolvedoras e editoras precisam aproveitar toda oportunidade de aumentar o número de vendas de jogos e se isso significa acabar com os exclusivos ou fazer com que se tornem temporário, os fanboys que se acostumem.

Xbox Studios

Roadmap dos Xbox Studios (Crédito: Reprodução/Klobrille/X)

Confesso que nunca havia pensado nesta situação pelo lado abordado por Phil Spencer e antes que alguém atire a primeira pedra na Geração Z e sua incapacidade de aproveitar algo por completo, é preciso levar em consideração o mundo em que essas pessoas nasceram, muito diferente do nosso. Além disso, quem aí não tem o costume de navegar pela internet usando o celular enquanto assiste algo na TV ou ouvir um podcast enquanto está disputando uma partida online?

Com isso não quero apontar quem está certo ou errado, apenas que o mundo e o comportamento das pessoas mudaram muito desde a época em que eu entrava na minha adolescência, há três décadas. Ignorar isso é dar murro em ponta de faca e a Microsoft é uma empresa que percebeu a necessidade de não se fechar atrás de um jardim murado.

Pode ser que no futuro os responsáveis pela divisão Xbox percebam que essa não foi uma boa aposta, que o melhor era continuar investindo em títulos que só estariam disponíveis no seu console. Por enquanto, nem eles sabem como essa investida se desenrolará, o que significa que todo jogo publicado pela Gigante de Redmond poderá aparecer em outros consoles, mas nem todos irão.

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

“Estamos focados nesses quatro jogos [Hi-Fi Rush, Pentiment, Sea of Thieves e Grounded] e aprendendo com a experiência,” admitiu Spencer. “Não temos trabalho em andamento para outras franquias [...] queremos ver o que acontecerá, porque fazer o desenvolvimento para trazê-los a novas plataformas é um trabalho real. Queremos ter certeza de que o- retorno faz sentido. Queremos ter certeza de que o público que está lá tem um apetite, talvez ele não tenha.”

Personificar a maneira como uma indústria inteira se moldou me parece injusto, um fardo que ninguém deveria carregar. Porém, não podemos ignorar a possibilidade de no futuro Phil Spencer ficar conhecido como um dos principais arquitetos responsáveis por abrir uma caixa de Pandora, ou os portões para o Jardim do Éden.

Como consumidor, me agrada muito à maneira como a Microsoft tem tratado os consumidores, pois mesmo que os grandes lançamentos da empresa nunca cheguem aos consoles rivais, a promessa é de que pelo menos teremos acesso a eles no PC. E mesmo sem aqueles que poderiam servir como principal diferencial para seus videogames, ainda quero acreditar que a família Xbox terá um longo caminho pela frente.

relacionados


Comentários