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Força Aérea dos EUA finalmente testando trajes Anti-G para mulheres

Trajes Anti-G é essencial para a segurança de um piloto, mas até pouco tempo essa tecnologia tinha sido projetada apenas para homens.

3 anos atrás

Antigamente achava-se que pilotar caças era coisa pra homem. Hoje sabemos que é algo antinatural e não é pra ninguém, exigindo extremo esforço e “trapaças” como os trajes Anti-G, que ajudam, mas não são adequados para mulheres e baixinhos. Sorry, Tom.

Imagem meramente ilustrativa (Crédito: Internet/Editoria de Arte)

Ao contrário de aves, nós não evoluímos para suportar acelerações gravitacionais extremas. Não voamos corremos ou pulamos rápido o suficiente para elas se fazerem sentir, e mesmo em queda livre o máximo que experimentamos é 1G.

Quando começamos a fazer aviões menos frágeis do que seda e bambu, os pilotos descobriram que manobras simples como mergulhar ou fazer uma curva fechada faziam com que forças fossem aplicadas em seus corpos, maldito Newton.

Na Primeira Guerra Mundial vários pilotos morreram do que era chamado “desmaio no ar”, quando os aviões eram colocados em manobras que atingiam acelerações entre 2G e 7G (1G é a aceleração gravitacional na terra, 9,8m/s2).

Durante a 1a Guerra Mundial as forças G eram a forma mais eficaz de matar um Richthofen. Depois isso mudou. (Crédito: Domínio Público)

Foram desenvolvidas técnicas para tentar reduzir os efeitos da aceleração extrema, como retesar os músculos do pescoço e outras áreas que não podem ser mencionadas num blog de família, respiração forçada, etc. Tudo para evitar que o sangue se acumulasse nas extremidades inferiores, privando o cérebro de oxigênio.

Com a Segunda Guerra, ficou evidente que o chamado G-LOC (sigla em inglês para perda de consciência induzida por gravidade) era um problema sério. Na Batalha da Inglaterra 40% das perdas inglesas foram por causa de acidentes, não fogo inimigo, e muitos desses acidentes foram causados por perda de consciência durante manobras extremas.

Um traje Anti-G. (Crédito: The Aviation Store)

Uma solução (parcial) foi a invenção, no começo dos anos 40, dos trajes Anti-G, uma invenção simples que aplica força bruta (literalmente) ao problema: Um simples acelerômetro detecta quando há forças G em ação, e aciona um sistema hidráulico que infla bolsas de borracha nas pernas, coxas e abdômen do piloto.

Os trajes Anti-G não são mágicos, eles removem o efeito equivalente a 1G, então se o piloto apaga com 9Gs, antes ele teria que se limitar a uns 8.9, com o traje ele consegue manobrar até 10Gs antes de apagar e ter uma morte horrível.

De lá para cá eles se tornaram essenciais para pilotos de caça, e funcionavam relativamente bem, exceto quando as forças armadas pelo mundo começaram a afrouxar suas exigências, aceitando pilotos mais baixos que a média e, em alguns casos -horror- mulheres.

Mulheres sempre foram um empecilho para a engenharia, em navios e submarinos significava instalar banheiros específicos para elas, e dada a falta de familiaridade dos engenheiros com indivíduos do sexo oposto, ocorreram vários desencontros, como no caso de Sally Ride, a primeira astronauta americana.

Em um delicioso causo, quando ela estava se preparando para o primeiro vôo no ônibus espacial, em 1987, os engenheiros da NASA se lembraram que mulheres usavam um tal de absorvente higiênico. Bons cientistas que eram, os caras foram perguntar pra Sally quantos Tampaxes deveriam incluir no kit. Deu-se o diálogo

“Para uma missão de uma semana, uns 100 é o número certo?”

Sally respondeu que “não, não é o número certo de absorventes”.

Não eram só necessidades femininas específicas que complicavam a vida dos engenheiros. Mesmo pilotos de caça homens tinham que se submeter a algumas indignidades.

Certos modelos de aviões tinham o chamado “tubo de alívio”, uma espécie de cone ligado a um tubo conectado a uma saída no exterior da aeronave. O sujeito se aliviava ali, abria uma válvula e a pressão expulsava o líquido.

Tubo de Alívio. Não, não tem cortininha. Se vira. (Crédito: Reprodução Internet)

Outros modelos vinham com uma solução alternativa, um saco plástico com uma esponja e material absorvente, o piloto se contorcia até conseguir abrir o macacão de vôo, desapertar o traje Anti-G, puxar o Maverick pra fora e se aliviar no saquinho. Como tudo era uma manobra que exigia planejamento prévio, e mais de um acidente ocorreu durante o processo, incluindo a perda de um avião-espião U-2.

No caso do Número 2, depende. Alguns aviões como o KC-390 da Embraer se dão ao luxo de ter um banheiro completo, de verdade, com direito a trono.

O Trono do KC-390. (Crédito: Carlos Cardoso)

No resto dos casos, principalmente caças, a resposta para como fazer o Número 2 é: Não faça.

Quando começaram a aparecer pilotos mulheres, ficou evidente que era complicado encaixar um funil ali na zona do agrião, e jogando os braços para o alto os engenheiros ofereceram um Plano-B: Homens usam funil, mulheres usam fraldas.

É uma boa solução? Não, mas é o que temos. Para desespero do pessoal de ciências sociais homens e mulheres são anatomicamente diferentes, e nenhuma petição no Avaaz vai mudar isso. E no caso dos trajes Anti-G, o buraco é mais embaixo.

Mulheres possuem proporções diferentes, são em média menores e diferenças anatômicas tornam certas partes dos uniformes mais frouxas do que nos homens.

Os projetistas por sua vez são bem lentos em identificar essas diferenças, e as pilotos sofreram por anos com roupas Anti-G feitas para homens.

Capitão Brittany veste seu traje Anti-G modificado (Crédito: U.S. Air Force foto: 1a Tenente Savanah Bray)

Agora -finalmente- um conjunto reprojetado de trajes Anti-G está sendo testado pelo 46º Esquadrão de Testes da Base Aérea de Eglin. Os novos trajes possuem cadarços maiores para encaixar melhor na cintura, coxas e calcanhares, além de uma área reduzida na região da barriga, evitando que as bexigas atrapalhem o movimento ou incomodem a, bem, região torácica das pilotos.

Também estão sendo testadas máscaras menores, mais adequadas para mulheres e astros de Missão Impossível.

A expectativa é que todas as pilotos recebam os novos Trajes Anti-G em um ou dois anos.

Soldados no solo também estão se beneficiando dessa diversificação de equipamentos. Os Fuzileiros Navais nos EUA disponibilizam coletes de proteção em vários tamanhos, e o Exército desenvolveu uma linha de coletes especialmente para suas combatentes. Não é o bikini de metal usado em RPGs e quadrinhos ruins, mas são coletes e blindagens adequados ao corpo feminino, mais leves e anatômicos.

Crédito: US Army

Também foi desenvolvido um capacete de Kevlar especial para usuários com cabelos compridos presos em coque, então mulheres e lenhadores emo poderão se beneficiar do equipamento.

De todos talvez o mais bem-vindo seja o FUDD - Female Urinary Diversion Device, um negócio que provavelmente custou uma fortuna pra ser desenvolvido, claro, mas ninguém reclama. Os casos de militares desidratadas ou sofrendo de infecções urinárias era bem grande, uma pesquisa mostrou que as combatentes em patrulhas se seguravam para não ir ao banheiro, dava a complexidade logística.

Com vocês o FUDD. (Crédito: US Army)

O FUDD é uma espécie de funil anatômico que permite que as militares se aliviem em pé, discretamente, sem perder muito tempo no processo e principalmente evitando o risco de serem apanhadas literalmente com as calças arriadas.

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