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Ordens do Executivo - O livro ideal para entender o Corona Virus

Ordens do Executivo é um dos mais tensos e elaborados livros de Tom Clancy, sobre uma epidemia de um vírus mortal que ataca os EUA. Pura ficção, felizmente!

4 anos atrás

Um monte de gente está associando a pandemia do Corona Virus com filmes como Eu Sou a Lenda ou séries como Walking Dead, mas uma versão bem mais realista é uma obra de ficção de Tom Clancy chamada Ordens do Executivo.

Antes de entrarmos no Ordens do Executivo, um pouco da história da história. A maior parte dos livros de Tom Clancy acontecem no Ryanverso, com exceção do excelente Red Storm Rising, sobre uma guerra convencional entre EUA e URSS.

No Ryanverso Jack Ryan, um humilde analista da CIA, ex quase futuro fuzileiro e investidor da bolsa ajuda a sequestrar um submarino nuclear soviético, salva a vida do Príncipe de Gales, desmascara uma operação da CIA para matar agentes inconvenientes, se torna Conselheiro Nacional de Defesa, ajuda a vencer uma mini-guerra contra o Japão envolvendo mísseis nucleares e uma árvore gigante e coloca Tom Clancy numa saia justa.

Em Dívida de Honra depois do fim da quase guerra um piloto comercial inconformado com a morte do filho aviador militar, joga um 747 no Capitólio, durante a cerimônia de posse de Jack Ryan como Vice-Presidente da República. Um monte de gente morre e Ryan acaba virando o Presidente.

A saia-justa é porque -bem, você já deve ter percebido- um texto descrevendo em detalhes como reagiriam as defesas locais e quais os estragos que uma aeronave comercial poderia causar se chocando contra a Casa Branca ou o Capitólio lembra muito um certo acontecimento em 11 de Setembro de 2001.

Em Ordens no Executivo Jack Ryan ainda está se acostumando com a ideia de ser Presidente. Enquanto isso um golpe de estado no Irã mata o Saddam Hussein, vários oficiais de primeiro escalão e o país acaba absorvido pelo Irã, formando uma República Árabe Unida. O Aiatolá no comando tem um plano para desestabilizar os EUA, que envolve tentativas de assassinato dos filhos presidenciais, mas principalmente, Ebola.

No Sudão uma freira morre, depois de tratar um menino infectado com Ebola. Ela não entrou em contato com nenhum fluído corporal do garoto (era uma freira, não um padre) nem se furou com agulhas. A suspeita era que aquela variedade de Ebola era transmissível pelo ar.

A freira é sequestrada, mantida viva e seu sangue drenado aos poucos. Cientistas iranianos criam uma cepa mais resistente ainda, e aerosóis capazes de disseminar o vírus. Esses agentes são mandados para os EUA, aonde cumprem sua missão em estádios, convenções, shows, feiras e o chuveirão da Campus Party. OK essa última é mentira, o pobre Ebola não conseguiria sobreviver em ambiente tão insalubre.

Como todo bom livro de Tom Clancy, em Ordens do Executivo a ação acontce simultaneamente em várias frentes, vemos os inimigos preparando o ataque, a ação de bastidores dos aliados dos americanos no Oriente Médio e a doença surgindo nos Estados Unidos, sendo aos poucos identificada, sua seriedade sendo constantemente elevada, e as reações internas.

De políticos que não levam a doença a sério por não gostar do Presidente a médicos desesperados pela falta de recursos. Aos poucos fica claro que a única forma de conter o Ebola é um shutdown completo do país, inclusive algo inimaginável para os americanos: A proibição do tráfego interestadual. O direito de ir e vir é fundamental na Constituição deles, mas como dito no livro, a Constituição não é um pacto de suicídio.

Outra parte muito interessante é o efeito da quarentena nas forças armadas, que estão tendo que lidar com uma Terceira Guerra do Golfo, agora que os iranianos resolveram invadir o Kwait e a Saudita. Um soldado contaminado pode tirar de ação um batalhão inteiro mas e quando não se tem kits de teste suficientes?

Ordens do Executivo explica muito bem a propagação de uma epidemia, as pequenas coisas que geram contaminações e, neste diálogo com o Presidente, o real estado das coisas, tanto na ficção quanto na realidade:

— Presidente? — disse Alexandre.
— Sim, doutor?
— Sabe o filme a que o senhor assistiu?
— O que tem ele?
— O orçamento para aquele filme é um pouco mais do que todos os fundos para pesquisa em
virologia. Tenha isso em mente. Acho que a virologia não é sensual o bastante.

No curioso mundo de Plague, Inc qualquer país pode se sair com uma cura. No mundo real conta-se nos dedos das mãos do Lula os países com verba e know-how para pesquisar virologia a sério, e na imensa maioria dos casos, não há cura, a esperança são vacinas.

Vacinas essas que -não acredite na mídia- levam muito tempo pra ser desenvolvidas, testadas em vitro, depois em modelos animais, e só então passam por testes em humanos. Hoje jã temos vacinas para o Ebola, a primeira aprovada pela Organização Mundial de Saúde é a rVSV-ZEBOV. Ela foi patenteada em 2003, de 2005 a 2009 foram feitos testes em animais.

— Simplesmente não consigo imaginar que não possamos tratar...
— Acredite — disse Cathy Ryan. — Sabe para quantas doenças viróticas nós conhecemos a cura?
— Bem, não — admitiu ele.
— Para nenhuma. — Ela constantemente ficava surpresa com o quanto algumas pessoas eram
ignorantes em assuntos médicos.
— Portanto, contenção é a única alternativa — prosseguiu o general Pickett.
— Como você pode conter um país inteiro? — Era Cliff Rutledge, secretário assistente de Estado
para a Política, representando Scott Adler.
— Esse é o problema que estamos enfrentando — disse o presidente Ryan. — Obrigado, general.
Assumirei a partir daqui. A única forma de conter a epidemia é fechando todos os locais de reunião:
teatros, shopping centers, estádios esportivos, edifícios comerciais, tudo.

Com a epidemia de 2013 na Guiné foi concedida uma autorização especial para aplicação da vacina antes de testes em humanos. Os testes começaram em 2014, quando descobriu-se que doses altas da vacina causavam artrite e complicações. A dose foi reajustada.

Em Abril de 2019 um surto de Ebola no Congo exigiu que a vacina fosse usada. A eficácia ficou na casa de 97.5%.

3300 doses foram aplicadas nos parentes e conhecidos dos pacientes, formando um anel de imunidade. em 42 dias a epidemia estava eliminada. Science, bitches. It works.

Como Tom Clancy gosta de ser realista, não há nenhuma cura mágica, ele sabia que uma vacina levava anos para ser desenvolvida, então não espere nenhuma bala mágica, Ordens do Executivo tem final feliz, graças à mesma ciência sanitarista que livrou muita ente da Gripe Espanhola: Higiene, isolamento, acompanhamento.

Se você está se perguntando como estou recomendando um livro assim em meio a uma pandemia, a resposta é simples: Ordens do Executivo não é um livro de terror, não é escrito para assustar ou causar pânico. É uma história mostrando como um problema muito sério pode ser encarado com competência inteligência e ciência. Um vislumbre em toda a complexidade por trás de todo desastre de grandes proporções, e como nada é simples, nada é feito por pirraça e ninguém, muito menos o seu grupo de família do zapzap tem soluções mágicas para nada.

Ordens do Executivo pode ser encontrado em livrarias off-line, sebos e algumas lojas online, também está disponível na biblioteca do Paulo Coelho, já que a Record não tem interesse em reeditar o título no Brasil.

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