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Clássicos do baixo orçamento: o que são filmes B?

Filmes B não são sinônimo de filmes baratos, de filmes ruins. São uma categoria que lembra mais as escolas de samba do grupo de acesso, e isso é ótimo

4 anos atrás

As pessoas chamam de filmes B obras que não gostam, usam a expressão de forma pejorativa, mas a história desse tipo de filme é bem mais benigna e interessante, tem muito mais a ver com espírito, estilo e entusiasmo do que com qualidade.

O Abominável Dr Phibes, um clássico dos filmes B, com Vincent Price

O Abominável Dr Phibes, um clássico dos filmes B, com Vincent Price

Os chamados filmes B surgiram por causa da Grande Depressão na Década de 1930. Quando nem comida a pessoa tem, ninguém quer diversão e arte, e um terço das plateias dos cinemas desapareceram. A solução que os estúdios e cinemas encontraram foi aumentar a oferta de filmes e manter o preço do ingresso.

Enquanto isso em Gotham City...

O filme principal, chamado de Filme A, era a produção de sempre dos grandes estúdios. Já o segundo filme, o Filme B, era um filme de orçamento menor, servindo como treinamento para novos diretores, técnicos e atores.

Em termos de qualidade, ocorria um fenômeno interessante: embora a maioria dos filmes fossem mais simples, seguindo fórmulas seguras de westerns, filmes de gangsters e romances açucarados, como havia bem mais liberdade, pois os estúdios não ligavam para o que estivesse sendo produzido, alguns diretores e roteiristas faziam experimentações. Os filmes B funcionavam como cinema independente bancado por grandes estúdios.

Muitos diretores e atores vieram dos filmes B, os seriados de faroeste com Roy Rogers, os westerns do começo de carreira do John Wayne, os primeiros filmes de Francis Ford Coppola, James Cameron e toda a carreira de gente como Roger Corman e Ed Wood.

Com o tempo, os filmes B saíram de moda nas sessões duplas, mas continuaram a existir em cinemas de subúrbio, com a dúbia honra de serem filmes B mesmo sem nenhum filme A na sessão. Foi a era de ouro do bezões, entre os anos 60 e 80, com toneladas de filmes de horror como os da produtora Hammer inglesa, muito filme de exploitation, como o delicioso, inacreditável e "chupa Blade, cheguei primeiro" BLACULA!

Nessa época, os filmes B eram vistos como filmes de baixo orçamento que não competiam com os lançamentos principais dos estúdios, focavam em histórias mais apelativas, com sexo e nudez sempre que possível, com pérolas como Ilsa, She-Wolf da SS e o clássico Shaft.

Os Anos 80 viram nascer uma nova modalidade de filmes B, os filmes direto para DVD, ou melhor, direto para VHS (sorry, Betamax). A Troma Entertainment, produtora fundada em 1974, se tornou referência no mundo dos filmes B, tendo produzido, comprado ou distribuído mais de mil títulos, servindo como começo de carreira para gente como Carmen Electra, Billy Bob Thornton, Kevin Costner , J. J. Abrams , Samuel L. Jackson, Marisa Tomei , James Gunn e Oliver Stone.

A Troma, entre outros filmes B, é responsável pelo fantástico Surfistas Nazistas Devem Morrer que, claro, está disponível inteiro no Tubo.

Uma característica fundamental dos filmes B é que apesar de falharem miseravelmente, nenhum tem a intenção de ser ruim. Isso mudou no final da década de 1990, quando a demanda por conteúdo nas TVs por assinatura acabou criando produtoras como a Asylum, especializadas no estilo quando pior, melhor, mas com isso eles perverteram a pureza dos filmes B.

A Asylum é responsável pela onda de kibes com filmes produzidos com orçamento de geladeira, copiando descaradamente blockbusters, chegando ao mercado antes do lançamento do original. Aqui alguns exemplos:

No papel, a produtora viveria de copiar o trabalho aleio, produzindo filmes de baixo orçamento e baixo esforço, assumidamente ruins, mas como sempre muito adubo cria terreno fértil para ideias, e a Asylum começou a produzir conteúdo original, filmes metalinguísticos que reconheciam sua condição de filmes B, e assumiam o título com orgulho. O mais conhecido é o igualmente inacreditável... SHARKNADO.

A franquia Sharknado é a essência dos filmes B. Orçamento risível, atores iniciando ou encerrando a carreira, roteiros que carecem de um tratamento de um profissional mais experiente, mas filmes que entregam exatamente o que o público quer ver.

Tanto que, no final, a franquia rendeu seis filmes, cada um mais exagerado e absurdo que o outro, conquistando uma simpatia com o público que atraiu toda sorte de celebridades que toparam na hora fazer pontas nos filmes, do Neil DeGrasse Tyson ao Jovem Nerd. Convenhamos, que outro filme mostraria um combate espacial entre tubarões e um sujeito com uma moto-serra sabre de luz?

O B Que Custa Caro

Não, não é uma diatribe sobre os altos valores dos produtos de higiene feminina. É uma outra categoria de filmes B, filmes que têm orçamento de superprodução, todo o esquema de publicidade e distribuição, mas são essencialmente filmes B.

O melhor exemplo de todos é... Guerra nas Estrelas. Star Wars é uma versão refinada dos velhos seriados da Republic, George Lucas bebeu de um monte de fontes até secar e os velhos fãs reconheceriam na hora, até o texto de abertura usava o mesmo efeito:

Se não fosse a chancela da Fox, a distribuição em grande escala e os efeitos visuais revolucionários, Star Wars seria como mais um de N outros filmes B de navinha pewpewpew.

Outros filmes B com orçamento de A: Exterminador do Futuro, quase toda a obra do Tarantino, Tubarão, etc.

O Outro Lado dos filmes B

Às vezes um filme B, feito com baixo orçamento e equipe de desconhecidos sem muita experiência, acaba caindo nas graças do grande público e, imediatamente, deixam de ser vistos como filmes B. Exemplos: Bruxa de Blair, Rocky, Atividade Paranormal, Mad Max e boa parte da obra de Sam Raimi, incluindo o ótimo The Evil Dead, filme com orçamento de US$375,000 que já rendeu mais de US$30 milhões.

Evil Dead, inclusive, conseguiu algo raro mesmo entre blockbusters, que dirá filmes B: se tornou um cult, transcendendo as barreiras do tempo e da crítica.

Não são filmes B

Uma categoria em especial não se encaixa na definição de filmes B: as paródias feitas a toque de caixa, que sabem que são ruins e capitalizam em cima disso, como a horrenda Espartalhões (Meet the Spartans), que ao menos tinha a característica redentora de incluir a Carmen Electra.

Não há "arte" aqui, não há os hilários erros de iniciantes bem-intencionados. É só gente capitalizando em cima de referências óbvias de cultura pop. Se bem que tem a Carmen Electra.

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