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Apple abusa do jabá "espontâneo" em The Morning Show

Era inevitável: com The Morning Show, Apple entra no modo Novela da Globo e faz da série um grande comercial de seus produtos

4 anos atrás

A Apple TV+ chegou com poucas atrações, mas fazendo barulho de diversas formas. Enquanto For All Mankind vem sendo elogiada por muita gente e See divide opiniões, a caríssima The Morning Show vem causando burburinho por um motivo inusitado: a Apple pesou a mão no jabá "espontâneo" de seus próprios gadgets.

Apple / The Morning Show

Não é preciso pensar muito para entender por que isso acontece com esta série em especial. Primeiro, The Morning Show é uma das poucas séries disponíveis desde a estreia que é contemporânea (For All Mankind se passa em um universo alternativo e nos anos 1970, Dickinson é ambientada no século XIX e o cenário de See é um futuro distópico).

Segundo, a trama gira em torno dos bastidores de um programa matinal de TV e é normal apresentadores, jornalistas e afins exibirem seus celulares, tablets e computadores de ponta. A Ellen que o diga.

Terceiro, a série produzida e estrelada por Jennifer Aniston e Reese Whiterspoon é uma das mais caras da Apple TV+, se não for A mais cara, com um custo de US$ 300 milhões por duas temporadas, cada uma com 10 episódios. Para dar uma ideia, o ator Steve Carell, que não está envolvido na produção, embolsa US$ 600 mil por episódio. Já Aniston e Whiterspoon, US$ 1,25 milhão cada.

Considerando que a Apple liberou muita grana, é compreensível que ela espere retorno equivalente, e como The Morning Show permite inserir jabá de seus gadgets sem que eles fiquem deslocados, por que não? O problema é que a maçã não soube dosar a aparição de iPhones, Macs, iPads e logos nas cenas, e acabaram pegando um pouco pesado no Marketing Indireto, que é como chamamos o Product Placement por aqui.

Na cena abaixo, a repórter Bradley Jackson (Whiterspoon) aparece dormindo confortavelmente ao lado de seu MacBook e iPhone, ambos bem destacados.

Apple / The Morning Show

Segundo o The Wall Street Journal, que fez as contas dos quatro capítulos disponíveis até então, os produtos da Apple (sejam iPhones, iPads ou Macs) aparecem em uma média de 32 shots por episódio, de um total de 10 da primeira temporada (The Morning Show já foi renovada para uma segunda, junto com See, Dickinson e For All Mankind). Não obstante, o reluzente logo da maçã aparece com destaque em pelo menos um terço dessas cenas.

É como se a Apple tivesse entrado no modo Novela da Globo mas não em 100%, já que diferente dos folhetins, a história da série não é interrompida para o personagem fazer um comercial descarado, citando o iPhone/iPad/Mac e suas características na maior cara-de-pau. Sendo justo, a Apple tem todo o direito fazer jabá de seus gadgets nas séries da Apple TV+, desde que o contexto permita. Assim como não faz sentido um iPhone no controle da missão em For All Mankind, não ficaria muito bem um funcionando dar as caras também em See.

Por outro lado, a maçã conseguiu encaixar um Macintosh antigo em uma cena bem engraçada e nada forçada de Viva — A Vida é Uma Festa (não se esqueça dos laços com a Pixar/Disney), onde o velho computador leva uns bons tapas.

Wayne's World / Apple

Ainda sendo justo com a Apple, não é a primeira nem será a última vez que veremos iCoisas em filmes e séries de diversas produtoras, mas é claro que pega mal quando a própria fabricante entra no negócio do entretenimento, e aproveita suas atrações para inserir comerciais indiretos de seus gadgets sem freio, dando mais atenção à aparição deles do que à história.

E não, a Apple não vai permitir que ninguém nas suas séries usem dispositivos Android ou PCs (tenho minhas dúvidas se mesmo consoles de videogame apareceriam), por mais que isso faça sentido do ponto de vista do realismo: se por um lado a maçã pega pesado com o jabá de seus próprios produtos, do outro, a última coisa que ela fará é oferecer uma vitrine a concorrentes.

Com informações: The Wall Street Journal.

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