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Polícia confisca um MÍSSIL AR-AR de neonazistas italianos!

5 anos atrás

No improvável mas possível cenário de uma guerra entre os EUA e o Irã, algo muito inusitado acontecerá: Esquadrilhas de F-14 Tomcat decolarão, auxiliadas por radares embarcados ou em outros aviões, eles lançarão seis mísseis AIM-54 Phoenix a mais de 200Km de distância de seus alvos.

Os Phoenix subirão em uma parábola, esgotando seu combustível e descendo na inércia, seu deixar rastro, seus radares de alvo ativarão nos momentos finais, identificando e obliterando os alvos, que provavelmente serão caças F-18 da Marinha dos EUA.

Em uma imensa ironia do Destino, o único país que opera F-14s hoje em dia é o Irã, mas provavelmente com menos jogos de vôlei homoeróticos entre os pilotos.

O Irã adquiriu os caças quando eram super-modernos, eles foram oferecidos ao Xá antes mesmo do projeto ter sido concluído, e o interesse iraniano foi um dos fatores que viabilizou a construção dos aviões, pois significava mais dinheiro no bolso da Grumman. Isso foi no começo dos Anos 70, mas aí em 1979 veio a Revolução Iraniana, e o Khomeini pra atolar tudo e os dois países viraram inimigos mortais.

Compreensivelmente a garantia se tornou inválida, o pessoal do suporte não retornava mais as ligações de Teerã e não havia como comprar peças de reposição. Então como os 24 F-14 iranianos continuam voando hoje, 40 anos depois?

Bem, nossos amigos podem ser grandes kibadores, mas eles também são excelentes em Macgyverizar soluções. Muita coisa eles conseguem com engenharia reversa, o resto das peças eles conseguem no vibrante mercado negro de material militar.

Por mais controle que exista, estoques raramente são conferidos visualmente e nada impede que quem faz a conferência coloque um valor diferente. Entre mudanças de armazéns, transporte para outras unidades muita coisa cai do caminhão. Esse material acaba na mão dos mais diversos grupos, como os rebeldes do Iêmen que atacam embarcações sauditas usando mísseis chineses fornecidos pelos iranianos.

No caso dos F-14 é fácil traçar a origem da maioria da peças: Elas vem daqui:

É a Base da Força Aérea de Davis Monthan, perto de Tucson, Arizona. Basicamente um grande pedaço de deserto com milhares e milhares de aviões permanentemente estacionados. Alguns estão em reserva estratégica, outros são usados como fonte de peças de reposição, outros estão abandonados. Entre eles, centenas de F-14, e nada impede um soldado com um alicate de andar no meio dos aviões, roubar uma bomba injetora e ganhar uns US$1000,00 pelo serviço.

A situação é tão crítica que a Força Aérea decidiu triturar os F-14 abandonados por lá, pra evitar que o Irã colocasse a mão nas peças.

Claro, ainda há os estoques de peças em bases aéreas espalhadas pelo mundo, os excedentes nas fábricas originais, etc, etc.

Com dinheiro e contatos você consegue botar a mão em qualquer tipo de equipamento militar, dentro do razoável. Nenhum traficante vai te vender armas químicas, por exemplo, ele sabe que não compensa, um atentado terrorista QBN (químico, biológico ou nuclear) desencadearia uma investigação que seria péssima para os negócios.

Em 2013 foi apreendido pela polícia de Apucarana um lança-rojão AT-4 de origem sueca. Apesar das instruções em português e plaquinha de identificação do Exército, os jornaleiros não puderam confirmar se o equipamento foi roubado de algum quartel.

E não, apesar do que a imprensa noticiou, o AT-4 não é uma terrível arma de destruição de massa, e não tem capacidade de destruir aviões, a não ser que o avião esteja parado a menos de 500m do lançador.

Esse tipo de desvio não é nem nunca foi exclusividade brasileira, mas agora o pessoal caprichou.

Entra a Itália

A polícia italiana estava fazendo uma apreensão de rotina nos esconderijos de grupos neonazistas locais, o que nem é muito notícia.  No pacote, o de sempre: Material de propaganda, munição e armas a esmo.

AH sim, e punhais, por algum motivo neonazistas A-DO-RAM punhais, então tinha um monte. Além de carregadores e peças extras para um monte de armas, que no geral não eram exatamente topo de linha. Não se deixe enganar pela aparência futurística da Steyr AUG, é uma arma que foi introduzida em 1977.

O que não era trivial e deixou os policiais espantados foi isto aqui:

Sim, é um míssil, mais precisamente um Super 530 produzido pela francesa Matra. Após longas e profundas investigações -mentira, leram o texto no container de transporte- descobriu-se a origem do míssil:

Sim, o míssil pertencia à Força Aérea do Catar, e aparentemente faz parte de um contrato assinado no final de 1980. O míssil pode ter caído de algum camelo, e por vias tortuosas foi parar na mão dos neonazistas, mas ninguém está criando cenários de que seria usado em algum atentado terrorista.

O S530F é um míssil ar-ar, projetado para ser lançado de outras aeronaves, e é tão obsoleto que nem o Brasil mais usa, mas esse nem seria o principal empecilho de usá-lo em um atentado.

Por ser um míssil ar-ar o S530F é obviamente disparado de aviões, e deve ter dispositivos de segurança para evitar lançamentos acidentais em terra. Um simples acelerômetro basta pra cancelar um comando de disparo.

Agora chegamos na parte das conexões. Existem dezenas e dezenas de padrões diferentes de conectores. Cada míssil precisa de um conjunto específico de sinais para gerar uma condição válida de disparo. Imagine fazer engenharia reversa sendo que você tem uma única chance de acertar. Ah sim este é um conector típico:

O motivo final de ser impossível usar o míssil para um atentado? O 530F tem guiagem por radar sem-ativa, ou seja: Ele precisa que o avião mantenha o alvo travado no radar, para que o míssil receba os sinais refletidos e os use para se guiar até o inimigo.

Os tais neonazistas teriam que construir um sistema de radar compatível, coisa que não se aprende em tutoriais de YouTube. E não, não faria sentido conseguir o míssil para usar a ogiva isolada em um atentado em terra. 30Kg de explosivo é uma carga respeitável mas não compensa, é muito mais jogo usar explosivos convencionais comprados em qualquer esquina da Deep Web, adquirir algo visado como um míssil para aproveitar os explosivos não faz sentido.

A explicação dada pelos próprios neonazistas é o que faz mais sentido: Eles estavam tentando vender o míssil e o anunciaram em vários canais obscuros da Deep Web. Se alguém se interessou, não sei, mas é o tipo de material que só faz sentido para Estados-Nações, que tem a infraestrutura necessária para efetivamente usar um míssil ar-ar que só pode ser disparado de alguns modelos de caças.

O que deve ter acontecido é que o fornecedor de armamentos deles colocou as mãos no míssil, e sem saber direito seu valor ofereceu por um preço camarada, os neonazistas não resistiram a uma compra de impulso e agora estavam com um míssil encalhado em casa.

Bem, ninguém nunca disse que nazistas eram muito inteligentes.

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