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As galinhas nucleares do armagedom

Houve uma vez em que cientistas britânicos precisavam manter uma bomba atômica aquecida. A solução que acharam? Galinhas!

5 anos atrás

Militares tendem a ser extremamente conservadores e tradicionalistas, exceto em período de guerra, quando abraçam toda inovação tecnológica disponível. E não, Hitler não abandonou o projeto de desenvolver uma bomba atômica por ser "física judia", o motivo foi um limite de seis meses para que qualquer projeto apresentasse um protótipo funcional.

Curiosamente a Guerra Fria foi um período onde essa corrida pela inovação aconteceu em ritmo incompatível com o período teoricamente pacífico. Mais ainda, as pessoas eram estimuladas a contribuir com ideias e sugestões, sem medo de falar besteira. Muita coisa boa surgiu disso, mas também criaram várias pérolas, como a clássica Bomba Gay, que provocaria desejos homossexuais lascivos nos soldados inimigos, que abandonariam a luta para se embolar em uma imensa pilha de corpos nus suados e-PÁÁÁÁÁRA.

OK, voltando.

Nos Anos 1950, a possibilidade de uma invasão soviética na Europa era algo muito real, muita gente achava inclusive que seria inevitável. Stalin tinha homens e tanques pra isso. Assim como os Estados Unidos, sua produção industrial não havia sido afetada (muito) pela Guerra.

A ideia de deter a onda de tanques russos a qualquer custo levou à criação de armas nucleares táticas, como o canhão Atomic Annie e a arma nuclear mais fofa do universo, a Bazuca Nuclear David Crockett:

Esse foi um dos projetos bem-sucedidos, implementados e se a ideia de uma bazuca nuclear era o aprovado, dá pra imaginar o que não foi aprovado. Aliás, nem precisa imaginar. Um dos projetos era o negócio da foto de abertura deste texto, se chamava Projeto Blue Peacock, embora tenha começado com o nome de Projeto Brown Bunny, mas algum militar vidente previu que no futuro Vincent Gallo lançaria um filme com esse mesmo nome e como os dois são uma bomba de proporções monumentais, poderia haver confusão.

Exato, Blue Peacock era uma bomba. Mais precisamente uma mina terrestre nuclear.

O racional, se é que podemos usar esse termo, era que uma invasão soviética por terra seria impossível de ser detida em um primeiro momento, então o melhor é aplicar a estratégia de Terra Arrasada, ironicamente muito popular entre os soviéticos.

Em essência você destrói tudo no seu próprio território enquanto recua. No caso o trabalho seria feito pelas minas nucleares, que seriam posicionadas em regiões de entroncamentos rodoviários e áreas onde provavelmente os russos estabeleceriam acampamentos e postos de comando.

O projeto, criado pelo Reino Unido era baseado na Blue Danube, a primeira bomba atômica operacional britânica:

No total a Blue Peacock pesava 7,2 toneladas, era composta de um cilindro pressurizado, hermeticamente fechado e uma ogiva de 10 quilotons. Existiam três mecanismos de detonação: um comando por fio, um timer de oito dias que precisava ser rearmado periodicamente e um controle de invasão.

Havia o medo da mina ser descoberta pelo inimigo, então ela detonaria se fosse inundada, se a pressão caísse abaixo de um determinado valor ou se ela fosse movida. Só que havia um problema: O frio.

Armas nucleares não gostam de frio, ainda mais as criadas com componentes eletrônicos dos anos 50. As baterias iriam embora e por projeto não poderiam confiar em alimentação externa. Enterradas no solo da Alemanha, o inverno seria cruel com as coitadinhas.

Vários planos foram feitos, desde bancos de baterias maiores para compensar a perda de performance pelo frio, até cobertores térmicos protegendo a bomba, mas o melhor de todos, ao menos do ponto de vista do huehue foi o de usar... galinhas.

Algum desocupado lembrou que galinhas têm metabolismo rápido, por isso são quentinhas. Uma certa quantidade de galinhas dentro do compartimento pressurizado, com água e comida, sobreviveriam até o oxigênio acabar, o que levaria mais ou menos uma semana. Seria o tempo necessário para a bomba ser usada, em caso de uma invasão.

Obviamente, se a bomba não fosse usada algum pobre soldado, teria que limpar quilos e quilos de titica e galinhas mortas, tomando cuidado para não esbarrar em uma bomba atômica.

O projeto foi levado adiante, usando métodos mais convencionais, mas somente depois de dez minas nucleares terem sido encomendadas, em julho de 1957, é que o Ministério da Defesa se tocou que não cairia bem entre os militares alemães a ideia de que os ingleses instalariam bombas nucleares em seu território, e nem a melhor argumentação possível tornaria "Vamos explodir 100 quilotons de bombas atômicas para defender vocês", um argumento aceitável.

No final somente dinheiro público foi gasto, o projeto foi cancelado em fevereiro de 1958, nenhuma bomba foi instalada e nenhuma galinha foi morta para a produção deste artigo.

 

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