Ronaldo Gogoni 5 anos atrás
O Google Chrome acabou de soprar as velinhas de seu décimo aniversário, e recebeu como presente uma grande atualização que mudou bastante coisa. Ajustes na interface, melhorias no motor de busca, melhor gerenciamento no consumo de recursos, mais opções de segurança e por aí vai.
Porém uma velha promessa ainda não foi cumprida: há vários anos o Google tenta eliminar/modernizar o mais persistente resquício da web 1.0, as URLs. Segundo a empresa, elas não são úteis para identificar indivíduos ou entidades e o grande público não entende como elas funcionam.
Quando a World Wide Web se tornou pública em 1993, os Localizadores Uniformes de Recursos (ouUniform Resource Locator, a origem da sigla URL) faziam sentido para identificar destinos comuns à época, quando a internet era usada exclusivamente por institutos de pesquisa e universidades. Quando as portas foram abertas para a população, os endereços padronizados foram mantidos por questões práticas, mas convenhamos que para o leigo coisas como "HTTP", "HTTPS", "WWW", ".com" e etc. não fazem sentido; o usuário quer essencialmente entrar no site e ter a certeza de que ele é o que diz ser.
É nessa tecla que Adrienne Porter Felt, gerente de Engenharia de Segurança do Google Chrome bate. Em entrevista à Wired, ela diz que as URLs precisam mudar para que o usuário padrão possa identificar facilmente indivíduos e entidades na internet, sem que precise saber para que serve cada código do endereço eletrônico:
"As pessoas possuem grandes dificuldades em entender as URLs... elas são difíceis de ler, é complicado para elas identificar em quais segmentos elas devem confiar e no geral, eu não acredito que elas sejam a melhor forma de identificar um site. Nós queremos seguir em direção a um ponto onde a identidade na web seja algo compreensível por todos — que os usuários saibam com quem estão falando quando entram num site e que eles possam racionalizar se confiam ou não neles. Isso exige mudanças profundas em como e quando o Chrome exibe URLs."
O Google já introduziu modificações significativas na versão 69 do Chrome: ele deixou de exibir os protocolos HTTP e HTTPS, mantendo apenas o ícone de cadeado quando um site é seguro e uma mensagem quando não é (na versão 70, o aviso de site inseguro em formulários de preenchimento de dados ficará ainda mais escandaloso); o mesmo foi feito com o sub-domínio "m.", reservado às versões móveis dos sites.
Em sua conta do Twitter, Porter Felt diz que os usuários "não olham para as URLs como deveriam" e que a forma como elas se apresentam deverá mudar no futuro.
People don't look at them when they ought to. And when they do, they don't know which part to look at. We are exploring ways of drawing attention to the right identity indicators at the right times.
— Adrienne Porter Felt (@__apf__) 4 de setembro de 2018
O grande problema a ser desenrolado é que embora as URLs sejam uma herança arcaica dos primórdios da internet, ainda não conseguimos desenvolver um substituto a elas realmente eficaz e de fácil compreensão. Acadêmicos batem cabeça há anos tentando postular um novo formato para os endereços na net que sejam simples, sem sucesso.
Mesmo o Google não chegou a um acordo interno: Porter Felt e Justin Schuh, engenheiro-geral e diretor de Segurança e Desktop do Chrome afirmam que o time do navegador ainda não decidiu qual solução seria a melhor a ser adotada. Em 2014 o Chrome tentou implementar as "origin chips", um método que escondia completamente as URLs e transformava a barra de endereços permanentemente numa barra de busca. No entanto, o recurso não agradou e foi revertida.
A nova solução precisa ser não apenas intuitiva, mas segura: sites de phishing, que se passam pelos originais são uma praga constante e trocar as URLs por uma opção bonitinha, porém ordinária seria um convite ao desastre, com aproveitadores fazendo a festa e pegando ainda mais incautos. Por outro lado, informações desnecessárias como portas, strings de queries e parâmetros de identificação atulham desnecessariamente a barra de endereços, e seria melhor que essas informações fossem ocultadas.
Porter Felt diz que qualquer nova opção a ser considerada demanda meses de pesquisa e testes, mas a verdade é que o Google e pesquisadores estão a vários anos quebrando a cuca para desenrolar esse novelo, que parece cada vez mais e mais emaranhado. Pois por pior que as URLs sejam, ainda não surgiu uma opção melhor.
Com informações: Wired (paywall), CNET, ExtremeTech.