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Google Chrome vai (finalmente) limitar bloqueadores de anúncios

O tão temido (e adiado) Manifest V3 do Chrome chegou; Google vai depreciar V2 e reduzir efetividade dos bloqueadores de anúncios

03/06/2024 às 10:53

O Google vem há algum tempo fechando o cerco contra os bloqueadores de anúncios, como o AdBlock e similares. O YouTube, por exemplo, embora operado separadamente (mas ainda pertence à matriz Alphabet Inc.), nos últimos messes implementou uma série de medidas para impedir que usuários que barram ads possam ver os vídeos da plataforma.

Agora é a vez do Chrome: após diversos adiamentos, o Google implementa em junho de 2024 o temido Manifest V3, uma série de modificações anunciadas em 2019, voltadas a reduzir a efetividade dos bloqueadores no navegador.

Google adiou a implementação do Manifest V3 por anos, mas agora vai (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Google adiou a implementação do Manifest V3 por anos, mas agora vai (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Manifest V3: demorou, mas chegou

"Originalmente", o Manifest V3 agrega modificações no funcionamento do motor do projeto Chromium, visando "maior segurança e estabilidade", mas, na prática, ele impõe mudanças na forma como bloqueadores de anúncios operam. No Manifest V2, a versão legada que continuará ativa (por enquanto, mais sobre a seguir), extensões como AdBlock Plus, uBlock Origin, Ghostery e similares, operam na API webRequest, bem menos restritiva.

Com o V3, o Google introduz uma nova API, chamada declarativeNetRequest, mais restrita e que originalmente forçaria os adblockers a implementar listas de regras pré-aprovadas pela gigante das buscas, similar ao que o AdBlock, que como sabemos vende proteção, já faz. A novidade é que a partir da agora, o Google dita as regras e quem não seguir, não será permitido operar (legalmente) no Chrome.

Quando as novas regras foram originalmente anunciadas em 2019, a chiadeira dos bloqueadores e ONGs, como a Electronic Frontier Foundation (EFF), que defende a liberdade individual e o direito de expressão na internet, foi tamanha, que o Google deu para trás em partes, citando que reveria as diretrizes corporativas para empresas e instituições, mas deixou claro já na época, o usuário final não teria opção.

O motivo é óbvio, dinheiro. Cerca de 77% da receita anual da Alphabet vem de ads, não é interessante para usuários driblarem os anúncios com bloqueadores, enquanto a empresa perde milhões em receita. Usuários corporativos e desenvolvedores deverão pagar por ferramentas especializadas, que incluem a permanência do webRequest, mas o povão que se rale.

Ao mesmo tempo, especialistas dizem que o Manifest V3 não é tão seguro quanto diz ser, a justificativa da migração em prol da segurança, para combater extensões danosas, é basicamente conversa fiada, enquanto limita a operação de outras realmente voltadas à proteção do usuário, que monitoram atividades do Chrome e com quem ele se comunica.

A Mozilla também não ficou quieta. Philipp Kewisch, gerente de Operações para extensões do Firefox, também lançou dúvidas sobre as reais intenções do Google com o Manifest V3, visto que as operações de coleta de dados por extensões mal intencionadas não deve diminuir, e isso não tem nada a ver (óbvio) com filtrar conteúdo.

Até por isso a companhia não pretende depreciar o V2, embora vá implementar o V3, para manter a compatibilidade cruzada de extensões entre navegadores.

Google vem há anos travando guerra contra bloqueadores de anúncios (Crédito: Reprodução/acervo internet)

Google vem há anos travando guerra contra bloqueadores de anúncios (Crédito: Reprodução/acervo internet)

Google cansou de perder dinheiro

Diz o Google que aumentou o número de regras do Manifest V3, o que deverá ajudar os bloqueadores de anúncios, mas não reviu a regra que tira da mão deles o direito de atualizarem suas regras por conta própria. Toda e qualquer alteração deverá ser submetida à avaliação da Google Chrome Store, cujo processo de avaliação pode se estender por até semanas.

Não é preciso pensar muito sobre o que vai acontecer: com as modificações submetidas, o Google pode reforçar de forma imediata as defesas de seus serviços, como o YouTube, e uma vez liberadas, as implementações dos bloqueadores já chegarão aos usuários sensivelmente defasadas, em última análise (assim espera Mountain View), fazendo com que estes percam o interesse em adblockers (afinal, eles são "inúteis"), e os desinstalem do Chrome.

O Google até possui uma diretriz que permite desenvolvedores pularem o processo de revisão no V3, desde que as modificações se enquadrem em um parâmetro "seguro", mas mesmo neste caso, elas seguem as regras "estáticas", as especificadas no manifesto original, e que não mudam, diferente das dinâmicas.

O plano de implementação do Manifest V3 é bem claro: a partir desta semana, usuários do Chrome Beta começarão a ver avisos nas páginas das extensões que possuem e que ainda usam o V2; diz o Google que mais de 85% delas já migraram, mas não menciona bloqueadores, como o uBlock Origin, por exemplo, que tem uma versão Lite que roda no V3, e a marca como inferior à original, mais poderosa, que continua rodando no V2.

Num futuro próximo, as extensões ainda rodando no V2 no Chrome serão desligadas por padrão, no que poderão ser reativadas em suas páginas individuais nas Configurações, mas o Google já avisou que mais para a frente, mesmo essa opção será removida também. Aos desenvolvedores, restará ou migrar para o V3, ou procurar outras paragens, o mesmo valendo para seus usuários.

Como o Firefox.

Fonte: Ars Technica

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