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Marinha dos EUA imita o pior filme do mundo e é uma ótima idéia

Por incrível que pareça aquela bomba imensa chamada Stealth acertou em algo: os EUA vão realmente usar drones para reabastecer caças.

5 anos e meio atrás

Em 2005 Hollywood cometeu uma atrocidade chamada Stealth. É uma mistura de 2001 com Top Gun com Atrás das Linhas Inimigas com… sei lá, Porky's. A atuação menos robótica é a inteligência artificial vilã, e a compreensão de tecnologia militar dos roteiristas mostra que aprenderam tudo em um livro do Tom Clancy, mas dos pra colorir.

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Eu gostaria de dizer que a única coisa boa do filme é a Jessica Biel, mas não dá. Não que mulher bonita não possa ser piloto de caça, Starbuck está aí pra isso e as Bruxas da Noite russas, tudo gata. Problema é que sexualizar personagens só funciona quando é aquela sexualizada moleque, aquela sexualizada de várzea, tipo Gabriela subindo no telhado. No filme a Biel age como uma coelhinha da Playboy, simplesmente não encaixa.

Do ponto de vista técnico, fora os caças voando metade do mundo em alguns minutos, a parte mais ridícula é que os roteiristas se tocaram que sim, estava exagerado demais voar tanto sem reabastecer mas como o avião-AI renegado não poderia parar em um posto, tiveram que inventar uma solução: um drone gigante de reabastecimento automático.

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É uma espécie de dirigível voando a pelo menos 300 km/h, totalmente automatizado e até com sistema de autorização. Sim, combustível, aquele negócio PESADO, mas tudo pra fazer o filme andar, mesmo que não chegue a lugar nenhum.

Na prática usa-se aviões para reabastecimento aéreo (embora a primeira vez tenham usado uma pickup). E isso tem consequências. Aviões-tanque são enormes e lentos e você não quer um bicho desses voando em território inimigo. O novo e problemático avião-tanque da Força Aérea dos EUA, o KC-46 é o Boeing 767 modificado, imagine isso no radar inimigo:

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Como você deve ter deduzido é complicado guardar um 767 em um porta-aviões, então precisam apelar para aviões menores. Antigamente usavam o S-3 Viking, agora para unificar plataformas os EUA quebram galho usando F-18s para abastecer F-18s, o que não é muito eficiente.

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No mínimo você está desperdiçando um F-18 que poderia estar em combate, e com certeza você está desperdiçando e arriscando um piloto que custou vários milhões de dólares pra ser treinado, que agora é um frentista glorificado.

Idealmente construiriam um dirigível gigante a jato robótico, mas os roteiristas de Stealth não deixaram as plantas, e há o inconveniente de se ele explodir levar boa parte da Terra junto. Juro, vejam o exagero:

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A outra alternativa era utilizar drones, e a tecnologia já evoluiu o suficiente para que uma aeronave não-tripulada decole de um porta-aviões e abasteça um outro avião. É possível inclusive que o controle seja feito por operadores em terra, do outro lado do mundo.

Um drone tem outras vantagens, fora poder voar em território inimigo sem arriscar a vida de um piloto: justamente por não levar humanos, ele não precisa de cabine, assentos ejetáveis, sistemas de suporte de vida, painéis. Isso tudo é peso que se transforma em carga de combustível.

A Marinha dos EUA criou um programa para conseguir o drone ideal, e como sempre custou muito caro e foi extremamente burocrático. Inicialmente foi lançado  em 2006 como o Unmanned Carrier-Launched Airborne Surveillance and Strike (UCLASS), um programa para desenvolver um drone de ataque e vigilância. Quando isso se mostrou complicado demais — queriam um drone de ataque stealth cheio dos parangolés — em 2012 o programa foi redefinido para o Carrier-Based Aerial-Refueling System (CBARS).

Aí alguém lembrou que futuramente o drone pode ser adaptado pra outras missões e ele ganhou o genérico unmanned carrier aviation air system (UCAAS).

YAY! Aí começa a briga dos fabricantes. No final a Boeing fez DOIS protótipos: a versão Stealth de ataque, o Phantom Ray…

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E o MQ-25 Stingray:

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gemayie p — Boeing's MQ-25 Stingray Prototype for US Navy Aerial Refuelling Drone Compititon - CBARS & UCLASS

O resultado da concorrência saiu e a Boeing venceu! Ganhou um contrato de US$ 805 milhões para produzir quatro unidades e integrá-las a esquadrões de combate. O prazo é até 2024, sendo que depois disso há boas possibilidades da Boeing faturar um pedido para 72 aeronaves, no total de US$ 13 bilhões, o tipo de negócio que se fechado como dizem os gaúchos não vai ter china pobre na cidade.

Fonte: Boeing.

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