Ronaldo Gogoni 5 anos atrás
Não confunda com o modelo de 2014: o novo Zenfone 5 é a evolução da linha e também da ASUS, que se livrou de velhas convenções para apresentar um smartphone intermediário com um hardware decente, soluções interessantes de software e uma boa performance dentro de sua categoria. Será que com um display de 6,2 polegadas com notch, Snapdragon 636, 4 GB de RAM e software enxuto, este é um dispositivo que atende às expectativas?
Estas são as minhas impressões após duas semanas de uso.
O Zenfone 5 é definitivamente uma evolução e tanto. Por anos a ASUS ficou para trás em termos de design, insistindo em bordas largas e botões capacitivos quando boa parte dos concorrentes já havia aberto mão deles, fazendo com que seus aparelhos datassem muito rápido.
Isso agora é passado. O Zenfone 5 faz enfim uso dos botões virtuais e apresenta um design arrojado, com cantos curvos e corpo em metal com traseira de vidro, com dimensões compactas graças à menor quantidade de bordas. Porém, por algum motivo misterioso há uma borda mais larga na parte inferior frontal, que não comporta absolutamente nada e que pode ter sido incluída para evitar deixa-lo (mais) parecido com o iPhone X. Ainda assim, na minha opinião este é um aparelho até que bem elegante.
O leitor de digitais foi para a parte traseira, numa posição um tanto alta que pode ser um problema para boa parte dos usuários. No meu caso, que possuo mãos grandes e dedos longos isso não chegou a incomodar, mas talvez a ASUS devesse posiciona-lo um pouco mais abaixo.
As laterais são levemente curvas; do lado direito temos o botão Power e os controles de volume, enquanto que do lado esquerdo está posicionada a bandeja para os cartões SIM e microSD. Os microfones ficam nas partes superior e inferior, onde também está posicionado um dos dois alto-falantes.
E tem a tela, um LCD de 6,2 polegadas que ocupa cerca de 90% da área frontal do dispositivo. A ASUS, assim como boa parte dos fabricantes de Androids "fez a Apple" e incorporou o famigerado notch, a franja que no iPhone X acomoda diversos sensores herdados do primeiro Kinect. Aqui temos a câmera selfie, o receptor, o sensor de luz e proximidade, o outro alto-falante e o indicador LED. E só.
A fabricante defende que o notch é "algo que os usuários querem", mas o recurso ainda não é consenso entre o público: há quem goste, há quem tolere e há quem odeia. Para esses é possível esconder o entalhe via software, o que adiciona uma barra escura em toda a parte superior do display (o que infelizmente diminui sua área útil).
A tela em si possui boa qualidade: cores definidas e nada saturadas (é possível ajustar a intensidade das mesmas) e um nível de brilho que permite o uso do Zenfone 5 até debaixo de Sol forte. Ela é bastante agradável para assistir vídeos e ler textos, bom um bom tamanho e aproveitamento que permite até curtir um filme inteiro sem problemas.
Por fim, temos um sistema de som de qualidade e saída P2 para fones de ouvido (o par que acompanha o Zenfone 5 é bom) e uma porta USB 2.0, com conector Type-C 1.0.
Com 128 GB de espaço interno o Zenfone 5 permite abrir mão totalmente de um cartão de memória, possibilitando o uso de dois chips SIM simultâneos sem drama (infelizmente a bandeja a híbrida); a combinação do Snapdragon 636 com 4 GB de RAM ainda não é potente o suficiente para fazer deste um smartphone premium, mas o bom trabalho da ASUS fez com que ele seja capaz de dar conta de tarefas mais pesadas.
Com ressalvas, claro.
O uso de navegadores, redes sociais e aplicativos como pacote Office é fluído, já com games e softwares mais pesados ele sofre com travamentos; no geral, títulos exigentes rodarão com comprometimento e aqueles que permitem ajustes serão executados em configurações gráficas mais baixas.
O mesmo pode se dizer do multitarefa: algumas travadinhas foram observadas conforme a quantidade de aplicativos abertos aumentava. Se você não forçar a barra, poderá usufruir do Zenfone 5 sem problemas, mas do contrário, o recurso AI Boost dá um gás no SoC e aumenta a performance em situações extremas. Convém utiliza-lo apenas para rodar programas mais pesados ou games mais exigentes, já que a ferramenta aumenta o consumo de energia.
Por isso muitos diriam que o ponto fraco do gadget é a bateria, que com 3.300 mAh não aguentaria o tranco, mas não foi isso que se viu: em testes realizados tirando o smartphone da tomada às 8:00 e utilizando redes sociais por duas horas, Google Chrome por duas horas, streaming de música por 90 minutos e games ocasionais, com o brilho ajustado no automático ela chegava ao fim do dia com uma marca entre 27% e 33%, subindo para 32% e 39% em um dia sem rodar games.
Se você conseguir ficar sem energia, o carregador compatível com Quick Charge 3.0 leva o Zenfone 5 de 0% a 100% de carga em 105 minutos; o recurso AI Charging limita o carregamento a até 80% durante a noite, injetando o restante na parte da manhã.
Uma das explicações para a boa performance da bateria pode ser a decisão da ASUS de finalmente remover a maior parte dos antigos apps proprietários que atochavam os smartphones da linha Zenfone, e que querendo ou não consumiam recursos constantemente; ainda que a interface ZenUI tenha sido novamente implementada, desta vez sobre o Android 8.0 Oreo neste ano ela está bastante comportada e até bastante "clean", por assim dizer.
O software importa algumas soluções de design vistas em dispositivos especialmente da Samsung, mas com características próprias: gravador de chamadas, o recurso Twin Apps (que permite o uso de duas contas em apps de mensagens como WhatsApp) e um excelente Gerenciador de Arquivos, bastante preciso e cheio de recursos.
Até o notch tem sua utilidade, influenciando a forma como a Área de Notificações opera: ao puxa-lo pelo lado esquerdo do entalhe exibe informações resumidas, enquanto que fazê-lo à direita mostra mais conteúdos e detalhes.
Primeiro, um disclaimer: no inicio as câmeras do Zenfone 5 tinham alguns problemas de foco e definição, mas depois que a ASUS liberou um combo de atualizações de software, a perfomance melhorou e muito. As observações a seguir são baseadas no comportamento pós-update.
O conjunto principal possui duas câmeras, de 12 e 8 megapixels com aberturas f/1,8 e f/2,2 respectivamente; a primeira possui estabilizador óptico de imagens enquanto a segunda oferece uma lente Grande Angular de 120º. No geral, em situações corriqueiras você conseguirá tirar fotos com excelente definição em ambientes abertos, sem cores lavadas e com muito pouco ou nenhum pós-processamento, com uma grande quantidade de detalhe de perto e de longe.
Os ajustes do HDR também são muito bons e não pesam a mão na saturação, e o usuário pode até mesmo se dar ao trabalho de deixar tudo no automático.
As coisas mudam conforme a luz diminui. Em ambientes fechados ou à noite a qualidade cai consideravelmente, a quantidade de ruído é bastante alta mas no geral, é algo esperado em smartphones intermediários. É bom frisar que o sensor presente no Zenfone 5 é inferior ao instalado no Zenfone 5Z, que apresenta uma melhor performance nesse quesito.
Já a Grande Angular serve mais para fazer graça do que para entregar fotos de qualidade: a definição é bem inferior, as aberrações cromáticas aparecem com força e é quase impraticável utilizar o recurso em situações com pouca luz.
A ASUS não fez um trabalho ruim no entanto: a câmera do Zenfone 5 é o típico "pau para toda obra", boa para usos casuais e oferece ajustes finos para os fotógrafos mais experientes, mas para situações mais específicas convém utilizar um smartphone mais poderoso. Ou uma DSLR, claro.
Para todas as demais situações, o conjunto presente não faz feio.
A câmera selfie, com 8 MP e abertura f/2,0 possui boa performance tanto em ambientes externos, mantendo a definição de imagens e internos, com uma quantidade suportável de ruído; já o efeito que desfoca o fundo, presente em smartphones com conjuntos duplos não é tão apurado, e costuma selecionar elementos errados na hora de destacar ou borrar. No geral, como sempre não é uma boa tirar selfies em situações com pouca luz.
Há tembém os efeitos e gimmicks AI Beautification faz uma leitura 2D do rosto através de 365 pontos pré-definidos (não há um projetor de pontos 3D no notch como ocorre no iPhone X), de modo a aplicar efeitos de embelezamento; e os ZeniMojis, a versão da ASUS para os Animojis da Apple (que a Samsung também copiou) com menos fluidez e desenvoltura. Para compensar a ASUS Brasil fechou uma parceria com a Mauricio de Sousa Produções, e você pode criar emojis animados com os personagens da Turma da Mônica.
Confira as fotos originais no Flickr.
A ASUS aprendeu muita coisa após cinco gerações de smartphones; o Zenfone 5 está bem à frente em termos de design do Zenfone 4, que envelheceu rapidamente, seguindo a tendência de bordas finas e mesmo o famigerado notch não chega a incomodar tanto assim, até porque ele pode ser escondido.
O hardware é consideravelmente potente para a categoria de dispositivos intermediários e o software é bastante enxuto, a fabricante fez o dever de casa e expurgou boa parte dos bloatwares que infestavam as versões anteriores.
O Zenfone 5 concorre diretamente com o Galaxy A8+ da Samsung e o Moto Z3 Play da Motorola, e ambos possuem vantagens: o primeiro possui um SoC mais poderoso (o octa-core proprietário Exynos 7885) e certificação IP68, enquanto o segundo oferece a opção dos Moto Snaps para recursos adicionais e uma experiência Android quase pura.
A seu favor o Zenfone 5 conta com câmeras mais capazes que ambos os modelos, ainda que não sejam perfeitas, e um bom preço, custando R$ 1.999,00, no modelo com 64 GB de espaço interno. No entanto, ele sofrerá concorrência de dispositivos premium de 2017 como o Galaxy S8 ou o Moto Z2 Force, que já podem ser encontrados por preços similares e oferecem especificações superiores.
Ainda assim, o Zenfone 5 é um intermediário premium com um bom equilíbrio entre design, performance e faixa de preço, sendo uma opção interessante entre os lançamentos de 2018.
Agradecimentos à ASUS por gentilmente nos ceder o Zenfone 5 para testes.