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O incrível caso do submarino gordo que só afunda uma vez

Essa história é quase inacreditável: um show de incompetência conseguiu fazer com que a Espanha construísse submarinos pesados demais pra flutuar e grandes demais pra caber na garagem.

6 anos atrás

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Como diz o Lito do Aviões e Músicas, senta que lá vem história. Esse causo é inacreditável em muitos níveis, o maior deles é não ter acontecido no Brasil. Envolve incompetência, burrice, provavelmente um tiquinho de corrupção e empurroterapia.

Tudo começou nos anos 80, quando o mundo assim como hoje estava à beira de uma guerra nuclear, com a diferença que não seria iniciada por um idiota com um tweet. A França resolveu modernizar sua frota de submarinos, e contratou a DCNS — Direction des Constructions Navales, uma empresa pra lá de antiga (387 anos) no ramo.

Eles começaram a desenvolver o que seria a Classe Scorpène, um projeto bem legal de submarino diesel-elétrico, tão bom que é vendido até hoje e o Brasil tem 4 na fila sendo construídos aqui, o primeiro, o S40 Riachuelo está quase pronto.

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Na época a Espanha também começou a desenvolver um submarino próprio, e quando o projeto começou a ficar muito parecido com o S-80, o modelo específico do Scorpène, a Navantia espanhola se aproximou da DCNS francesa e propôs uma parceria.

O submarino passou a ser desenvolvido em conjunto, mas com o fim da Guerra Fria a verba secou e o primeiro só foi ao mar em 2003, vendido para a Marinha do Chile.

No mesmo ano a Marinha Espanhola encomendou quatro submarinos, num valor de 1,75 bilhão de euros, mas antes mesmo que as damas que trocam favores por dinheiro nos bordéis franceses e espanhóis terminassem de trocar suas roupas por algo mais confortável, os celulares dos executivos tocaram avisando que a Espanha havia mudado de idéia.

A encomenda passaria a ser de quatro submarinos S-80 e seriam construídos inteiramente pela Navantia. Os franceses subiram nas tamancas, a parceria foi pro espaço, e cada um seguiu pro seu lado.

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Os espanhóis então começaram a construir os submarinos, mas segundo algumas fontes eles tinham mais disposição do que experiência, e o trabalho pesado era todo francês. O projeto do S-80 atrasou, e vários sistemas simplesmente não conseguiram ser desenvolvidos. Uma das tecnologias, a chamada AIP (Air-Independent Propulsion) deveria permitir que o submarino funcionasse sem emergir por 28 dias só conseguia funcionar por 21.

Como resultado a AIP foi abandonada e só será instalada no terceiro submarino da classe.

Calma que piora.

Um belo dia, com o submarino basicamente pronto, alguém resolveu verificar as contas e descobriu que os números não batiam. Originalmente o S-80 deveria ter 71 metros de comprimento e pesar 2.200 toneladas, mas ele estava 100 toneladas mais pesado.

Em algum lugar lá no início do projeto um técnico espanhol trocou uma vírgula de lugar e o submarino acabou ficando muito mais pesado do que o planejado. O suficiente para que se ele tentasse submergir, afundaria direto pro fundo do oceano. Isso foi descoberto em 2013.

Sem saber o que fazer, apelaram para a Electric Boat, a empresa que faz os submarinos da Marinha dos EUA. US$ 14 milhões em consultoria depois, veio a resposta: estica o bicho. A um custo de 7,5 milhões de euros. Por metro.

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De 71 metros e 2.200 toneladas a versão nova agora tinha 3.000 toneladas e 80,81 metros, ficou mais pesado mas graças a Arquimedes ganhou mais flutuabilidade, o que resolveu o problema. Por um preço.

O primeiro submarino deveria ter sido entregue em 2011.

lembra que eu falei lá atrás que o projeto para os 4 submarinos era de 1,75 bilhões de euros? Esse valor já está em 3,9 bilhões, e subindo.

Agora a cereja do bolo: SÓ AGORA perceberam um detalhe: os submarinos não poderão atracar nos piers da Base Naval de Cartagena, onde os outros submarinos espanhóis são baseados. O novo S-80 tem 81 metros. O píer todo tem 76.

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A reforma já foi orçada em 16 milhões de euros, o que é troco de pinga, agora que o custo individual de cada submarino já chegou a US$ 1,17 bilhão. Lembrando  que são submarinos convencionais de 3.000 toneladas. Um submarino nuclear de ataque Classe Los Angeles, de 7.000 toneladas custava, em valores corrigidos, US$ 1,5 bilhão.

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Pelo menos os bonés já estão prontos.

Pelo menos vão ter tempo, agora o S-81 Isaac Peral, primeiro submarino da Classe S-80 feito na Espanha tem data prevista para ir ao mar em 2021. Apenas 16 anos depois de sua construção ter sido iniciada.

Nem dá mais vergonha da obra de igreja que é o submarino nuclear brasileiro.

Fonte: The Drive.

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