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75 anos da Batalha de Midway

75 anos atrás, 6 meses após Pearl Harbor os ventos da Guerra começavam a mudar. Um ataque decisivo iria abrir o caminho do Japão para invadir o Hawaii e a costa oeste dos EUA. Em seu caminho uma frota numericamente inferior, mas extremamente preparada, graças aos magos da criptografia.

7 anos atrás

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No começo de maio de 1942 a situação estava ruim para as forças americanas no Pacífico. Os japoneses intensificavam sua campanha, invadindo mais e mais ilhas, colocando em risco direto o Hawaii e, em última análise, a Costa Oeste dos EUA. A tentativa de deter essa expansão foi a Batalha do Mar de Coral, e foi um desastre.

As duas forças estavam praticamente equiparadas, os EUA tinham um avião a mais que os japoneses, mas muito menos experiência. Ao final cada um dos lados perdeu um dos dois porta-aviões de suas frotas. Para o fundo do mar foi o USS Lexington.

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O USS Yorktown sobreviveu, mas foi muito danificado, seu convés de vôo foi destruído, bombas explodiram depósitos de combustível, várias das caldeiras estavam fora de operação. Ele rastejou de volta para Pearl Harbor, rezando para nenhum submarino japonês aparecer e terminar o serviço, seguindo a longa trilha de óleo vazando dos tanques avariados.

Na matemática a batalha foi um empate, na prática o Japão iria continuar, com ataques que incluiriam as Aleutas, com a Batalha de Dutch Harbor, a 0 milhas de Dutch Harbor.

No meio do caminho, havia Midway, um atol que é pouco mais que um conjunto de pistas de pouso, mas estrategicamente essencial tanto para atacar o Japão quanto para defender o Hawaii:

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A certeza de que Midway seria o alvo veio de um erro japonês: durante o ataque a Pearl Harbor, quando bombardearam o USS Tennessee não mataram um dos tripulantes, este cara aqui:

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Ele é o tenente-comandante Joseph Finnegan, o mais genial do grupo de desajustados da Estação Hypo, um grupo de criptografia da Marinha dos EUA, especializados nas cifras usadas pelos japoneses.

A grande dificuldade, além da criptografia em si, era que muitas das informações eram pré-criptografadas, assim se um número ou lugar era mencionado, eles usavam um código gerado por outra cifra. Na época eles só conseguiam decifrar 15% das mensagens japonesas, mas um golpe de sorte ajudou.

Com uma tabuladora de cartões perfurados da IBM Finnegan descobriu um código em especial, AF. Um piloto japonês avisou por rádio que estava passando por AF. Calculando o tempo de vôo, condições climáticas e vários outros fatores, por eliminação AF só poderia se referir a Midway.

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O tráfego de rádio japonês estava aumentando bastante, sinal de que algo estava sendo planejado. Finnegan precisava confirmar que AF era, de fato Midway. Fizeram com que uma estação da ilha transmitisse uma mensagem de rotina, sem código, dizendo que os dessalinizadores de Midway estavam quebrados.

No dia seguinte uma mensagem japonesa foi interceptada. Falava que precisavam incluir dessalinizadores no material a ser levado para AF.

Quando veio a mensagem marcando o dia do ataque, Finnegan já havia conseguido decriptar o pré-código japonês para datas. Seria entre 4 e 5 de junho de 1942.

O Almirante Chester Nimitz decidiu que o Almirante Yamamoto não faria de Midway um novo Pearl Harbor, mas as condições de batalha eram extremas. Os japoneses estavam com 4 porta-aviões, o Akagi, o Kaga, o Soryu e o Hiryu. Os americanos só tinham disponíveis o USS Hornet e o USS Enterprise.

Nesse momento entrou em ação a inventividade e capacidade industrial dos EUA. O Yorktown estava chegando ao porto, as melhores estimativas previam 3 meses de reparos para que ele voltasse a ter condições de combate. Nimitz achou isso inaceitável.

Foram mobilizados 1.500 trabalhadores, todo mundo disponível foi alocado a uma unidade de reparos. O Yorktown foi colocado em condições de combate em 24 horas, uma empreitada completamente insana, o tipo de situação heroicamente desesperada que só acontece em guerras.

Com três porta-aviões, Nimitz mobilizou a frota a nordeste de Midway, para emboscar os japoneses.

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A ilha foi fortificada, mais de 100 bombardeiros foram transferidos secretamente, tudo que pudesse atirar estava apontado para cima. A estratégia era esperar o ataque japonês, lançar os bombardeiros antes que o inimigo chegasse na ilha e encontrar os porta-aviões com os conveses repletos de aviões da segunda leva, carregados de bombas e combustível.

O problema agora era achar os japas. Em 1942 não havia satélites nem celulares pra algum idiota instagramar que está prestes a atacar os EUA. O problema aliás era mútuo. Os japoneses achavam que tinham o elemento-surpresa, mas por precaução lançaram aviões de reconhecimento. Só que lançaram apenas 7, para cobrir uma área de quase meio milhão de quilômetros quadrados.

Os americanos lançaram aviões da frota em alto mar E de Midway, só da Ilha foram mais de 20 do venerável PBY Catalina, lotados de tanques de combustível extras para aumentar a autonomia.

Acompanhar a frota japonesa agora era mais simples, e quando lançaram o ataque Midway respondeu lançando um contra-ataque, mas uma frota de pilotos novatos e terem se perdido dos caças de escolta foi uma combinação fatal. Os torpedeiros precisavam voar baixo e nivelado para atacar os porta-aviões, se tornando alvos ideias para os japoneses. Praticamente nenhum avião voltou. Nenhum navio japonês foi atingido. Houve UM único sobrevivente, o Alferes George Gay, o da direita:

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Nesse ponto a sorte japonesa começou a mudar. A segunda leva estava preparada para lançar mais bombas em Midway, mas os aviões indicavam que havia porta-aviões inimigos. Foi decidido gastar meia-hora trocando as bombas por torpedos.

Um avião japonês avistou a esquadra americana, mas seu rádio deu defeito, não conseguiram alertar o Comando. Os aviões começaram a decolar, desfechando ataques decisivos contra a frota imperial. Quer dizer, quando tinham bombas. Uma falha nos disparadores elétricos fez com que boa parte dos caças do Yorktown jogassem as bombas no mar, em vez de só armá-las.

Nesse ponto o Almirante Nagumo, mesmo tendo uma visão bem mais detalhada do que Yamamoto, 400 km atrás, no Yamato mudou de idéia de novo e decidiu prosseguir com a missão. Agora os aviões levariam bombas e voltariam a atacar Midway.

Quando o avião de reconhecimento perdido finalmente chegou ao alcance do rádio convencional e avisou da frota, Nagumo mudou de idéia de novo e mandou os aviões atacarem os navios americanos, com o que quer que estivessem levando, torpedos ou bombas.

O ataque americano não foi muito bom, principalmente por falta de experiência, o Yorktown estava nos trinques mas o Enterprise e o Hornet ficaram abaixo das expectativas. Eles levaram uma hora para colocar no ar 117 aviões. A frota japonesa lançou 108 caças em menos de 7 minutos.

Para piorar o torpedeiro dos EUA, o TBD Devastator se mostrou um lixo. TODOS os 15 do primeiro ataque foram destruídos. Depois perderam 10 de 14 lançados, e mais 10 de de um grupo de 12. Nenhum torpedo causou dano, os poucos que atingiram o alvo não explodiram. Foi o fim da carreira do Devastador na Marinha dos EUA.

O ataque continuou, dessa vez com bombas. O tenente-comandante Best conseguiu sua Estrela da Morte, ao lançar sua única bomba contra o porta-aviões Akagi. Ele atingiu a borda do elevador principal, a bomba penetrou no hangar e explodiu, levando junto dezenas de aviões armados e abastecidos. Os japoneses ficaram perdidos, por não praticarem… controle de danos.

A filosofia da marinha imperial tratava engenheiros como figuras inferiores: não havia honra em consertar danos de combate, isso era trabalho de funcionários de estaleiro, todas as tropas eram concentradas em combate. O objetivo era vencer, e rápido. A hierarquia altamente estratificada impedia inciativas individuais, o que é essencial nessas situações. Foi isso que salvou o Yorktown da primeira vez.

A frota americana agora batia em retirada, três porta-aviões japoneses em chamas, afundando. Somente o Hiryū permanecia inteiro, e lançou um contra-ataque. Seus aviões localizaram o Yorktown, miraculosamente funcionando com seus reparos feitos em 24 h. Três bombas acertaram o convés, destruíram caldeiras e causaram danos extensos, a ponto do Almirante Fletcher mudar sua nau capitânea para o cruzador USS Astoria.

As turmas de reparos, provavelmente comandadas por um sujeito chamado Scotty começaram a trabalhar, em uma hora o Yorktown estava navegando a 19 nós, parte das caldeiras reparadas e o deck pronto para lançar novos aviões.

A segunda leva de aviões japoneses apareceu, e atacaram com tudo que tinham o pobre Yorktown. Dois torpedos o atingiram, acabando com sua propulsão, ele se tornou um alvo estático, fazendo água com uma inclinação de 23 graus. Metade dos aviões japoneses foi derrubada nesse ataque, mas era hora de abandonar o navio.

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Mesmo em sua morte o Yorktown deu um último golpe nos japas: as turmas de reparo foram tão eficientes que quando a segunda leva atacou, acharam que era outro porta-aviões, então reportaram que haviam afundado dois, portanto os americanos só teriam um navio restante.

O pior de tudo é que eles estavam tecnicamente certos. O Hornet se confundiu com as comunicações, acabou lançando os aviões tarde demais. Era hora de mais uma vez garantir que o mundo nunca se esqueça do nome ENTERPRISE!

Complementado pelos aviões órfãos do Yorktown, o Enterprise lançou 24 bombardeiros contra o Hiryu, que enfrentaram 12 caças Zero protegendo o porta-aviões inimigo, as baterias anti-aéreas e todos os navios menores em volta, e conseguiram acertar nada menos que cinco bombas.

Ferido de morte o Hiryu resistiu em chamas por toda a noite, mas no dia seguinte foi declarado perda total. Soaram os avisos de abandonar o navio. O contra-almirante Yamaguchi e o capitão do Hiryu, Tomeo Kaku tomaram a mais honrada e mais difícil das decisões, e afundaram junto com o Hiryu.

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Midway foi uma batalha onde a tática, a estratégia, a inteligência e a iniciativa individual venceram a força bruta. O plano do Almirante Yamamoto dependia de surpresa estratégica, e não tinha uma contingência caso o inimigo soubesse de tudo. Os americanos por sua vez tiveram a iniciativa, o que é sempre bom, mas erraram muito tanto na falta de treinamento quanto nos problemas técnicos.

No final o Japão perdeu quatro de seus dois principais porta-aviões, e para piorar também foram enxotados de Dutch Harbor, onde nem com dois porta-aviões conseguiram invadir o porto.

Grandes Batalhas Navais com certeza ocorrerão no futuro, mas em tempos de mísseis, drones e railguns, serão por demais impessoais. Longe de mim desmerecer gamers mas não é preciso muita coragem para pilotar um drone em batalha, estando a 5.000 km da linha de frente.

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