Ronaldo Gogoni 6 anos atrás
Quando o streaming chegou para desbancar a farra das operadoras de TV a cabo, que vendiam pacotes de canais diferenciados e exigiam outros planos para liberar o filé, todo mundo viu na Netflix e similares uma opção para assistir suas séries, filmes, documentários e outras atrações num só lugar a um preço camarada.
Só que a realidade é cruel. Os estúdios perceberam que ao invés de licenciar suas produções para os serviços de terceiros é muito melhor elas próprias criarem seus canais, mantendo suas pratas da casa sob seu controle direto, e assim a balcanização da TV migrou para a internet.
Hoje além dos agregadores Netflix, Hulu e Amazon Prime Video os principais estúdios possuem seus canais de distribuição online, que conservam suas produções e de vez em quando negociam as obras com terceiros. A Fox possui um canal só para Os Simpsons e outro, o Fox Now para suas demais produções e que são ligados aos planos de assinatura dos pacotes de TV. A Sony possui na PSN o seu canal de streaming (Powers) e a CBS também tem o seu, que exibirá Star Trek: Discovery (quando estrear, o que ainda não tem data; é complicado); a Microsoft teria o seu serviço com produções próprias, mas desistiu.
A HBO, que possui o Now recentemente desatrelou o serviço da assinatura da TV, e por isso mesmo começou a considerar a possibilidade de trancar suas séries exclusivamente e concorrer com os demais pelo conteúdo exclusivo e de qualidade. O problema: muitas de suas obras estavam disponíveis no Amazon Prime Video, algo que não era lá muito bom para os negócios.
Assim sendo, o CEO da HBO Richard Plepler confirmou em uma reunião com acionistas sobre os resultados financeiros do primeiro trimestre que a partir de maio de 2018, suas séries não mais estarão disponíveis no serviço do agora concorrente Jeff Bezos e permanecerão exclusivas do canal e dos serviços Now e convenientemente, DirecTV Now (a Time Warner, dona da HBO foi adquirida pela AT&T, que também possui o referido canal).
Esse não é um movimento isolado: a Fox também não renovou contrato com a Netflix e séries como How I Met Your Mother, Prison Break e Sons of Anarchy, entre outras deixarão o serviço de Reed Hastings em breve. Embora o motivo não seja claro em ambas as ocasiões é evidente que os estúdios desejam acima de tudo colocar todos os ovos numa cesta só e promover suas próprias soluções de streaming; em fevereiro o HBO Now atingiu a marca de 800 mil assinantes e olha que ele não é global, já que poder assistir Game of Thrones ou Westworld em qualquer ocasião é algo que muita gente adoraria.
Claro que há exceções: a Disney por exemplo mantém um contrato de exclusividade com a Netflix nos Estados Unidos mas a regra hoje são os serviços de streaming investirem em produções próprias, exatamente para não ficarem sem conteúdo por conta de uma mudança de humor dos parceiros. A Amazon Prime Video possui um excelente catálogo, indo de The Grand Tour a O Homem no Castelo Alto, já a Netflix nem se fala e tanto uma quanto a outra estão investindo pesado em novas séries, filmes, shows e documentários.
O grande problema é que isso não é um cenário ideal para o consumidor. Ao invés de contar com apenas um serviço ele será obrigado a assinar uma série deles para assistir o que quer, vai ter gente pagando o tio Bezos só para assistir os três patetas petrolheads ou à HBO para ver a Dolores, algo não muito diferente de quando pagávamos um extra para a operadora de TV liberar o sinal da Sony ou da só por um outro show.
Em última análise nem todo mundo tem tanto dinheiro assim, e a balcanização ao invés de prestigiar os canais das produtoras acabará levando ao aumento da frequência de visitações à Locadora do Paulo Coelho. Os usuários manterão nas finanças um, no máximo dois serviços e apelarão para fontes alternativas para consumir as atrações dos demais. Pode até ser que a estratégia de trancar tudo até potencialize as assinaturas entre aqueles que não querem as complicações da pirataria, mas que o número de downloads ilegais vai aumentar é certo.
Fonte: Digital Trends.