Carlos Cardoso 8 anos atrás
Armas nucleares são coisas excelentes. Se você tem uma consegue respeito internacional, fiador, ingresso pro Rock in Rio sem ágio e comprar Coca com casco de Pepsi, mas se sua bomba explode acidentalmente, isso acaba com o seu dia, sem falar que seus vizinhos nunca mais vão te chamar pro churrasco.
Os projetistas de armas nucleares pensaram nisso, mesmo a bomba de Hiroshima já tinha vários mecanismos de segurança. De lá pra cá até a forma com que as bombas são desenhadas tentam impedir detonações acidentais. Uma das técnicas usadas se chama Segurança de Ponto Único. A idéia é que uma bomba nuclear precisa de uma implosão precisa, comprimindo uma esfera de material físsil até que ela atinja massa crítica.
Se somente uma das cargas explosivas é acionada, a detonação é incompleta, a bomba não explode ou explode com potência bem menor. Isso em teoria, na prática não foi bem assim, e isso levou à criação do objeto mais veloz da História da Humanidade.
A única forma de testar esses mecanismos de segurança é explodindo bombas, e por muito tempo por esse e outros motivos bombas nucleares eram testadas em explosões subterrâneas. Você cava um poço de algumas centenas de metros, coloca uma bomba no fundo, tampa, enche de medidores e faz cabum. É algo muito interessante, veja este teste no Alaska, na ilha de Amchitka, a 993 km 607 milhas de Dutch Harbor:
Um desses testes, codinome Pascal-B aconteceu dia 27 de agosto de 1957, na área secreta de testes nucleares no deserto de Nevada, mais precisamente nas coordenadas 37° 2′ 56,51″ N; 116° 2′ 4,92″ W. O objetivo era provocar uma detonação assimétrica, validando o design da ogiva.
Para o teste a bomba é colocada no fundo de um poço com 150 metros de profundidade. Em alguns casos ele é deixado aberto, o racional é que com a detonação as paredes desabam e pouco ou nenhum material radioativo escapa. No caso de Pascal-B decidiram colocar uma “rolha” de concreto, contendo diversos instrumentos, e fechar com uma tampa de bueiro, com pouco mais de 1 m de diâmetro, 10 cm de espessura e 900 kg de peso.
Quando a bomba foi detonada, algo deu errado. Pascal-A explodiu com o equivalente a 55 toneladas de TNT, como planejado. Pascal-B explodiu com potência de 300 toneladas de TNT, ou mais, deu chabu. A rolha de concreto foi vaporizada, e subitamente o poço se transformou em um canhão nuclear.
Não este mas também é legal.
Uma câmera de alta velocidade só conseguiu captar a tampa de bueiro em um frame, um dos cientistas descreveu como um morcego saindo do Inferno. A tampa foi acelerada a 6× a velocidade de escape da Terra, alguns cálculos estimam sua velocidade em 66 km/segundo, 237.600 km/h.
Três coisas podem ter acontecido:
1 — a tampa de bueiro virou um meteoro invertido, queimando e se desintegrando na atmosfera, pois estava na maior velocidade nas regiões mais densas.
2 — a tampa sobreviveu mas perdeu energia por causa da atmosfera e caiu, em um raio de algumas centenas de quilômetros.
E a terceira, melhor e minha preferida hipótese:
3 — a tampa foi para o espaço, e como a velocidade de escape da Terra é de 11 km/s e do Sistema Solar na nossa posição é de 42 km/s, a tampa tem velocidade de sobra e segue para os confins do Cosmos. Um dia, milhares, talvez milhões de anos no futuro um Exoarqueólogo encontrará a tampa quando ela passar pelas cercanias de alguma colônia do Império Galáctico, e isso gerará discussões intermináveis.
No final chegarão à conclusão de que aquela tampa de bueiro tinha… propósitos rituais.