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VLS em vias de cancelamento — Brasil só vai matar pinguins com foguetes dos outros

Para surpresa de ninguém o o vice-diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica (DCTA) declarou que o tal foguete brasileiro não vai sair do papel, que dirá do chão, e que vamos investir em OUUUUTRO foguete (não o ucraniano, aquele morreu também). Pra piorar a FAB correu para desmentir, mas é complicado um programa espacial sem verba. Boas intenções pavimentam o caminho para o inferno, não para o céu.

9 anos atrás

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Sim, um programa de TV cancelado tem um programa espacial melhor que o nosso.

Se há algo que podemos dizer do Programa Espacial Brasileiro é que ele é consistente, em termos de jogar dinheiro fora, começando projetos e não acabando. Tanto que em 2014 avisamos que o R$ 1 bilhão enterrados no foguete conjunto com a Ucrânia provavelmente iria pra vala, e efetivamente foi.

Correndo em paralelo havia a esperança (não minha) do projeto do VLS — Veículo Lançador de Satélite ir adiante. O VLS, você sabe, é aquele foguete que já nasceria obsoleto, com características modestas. 300 kg de carga útil para órbitas baixas é bonitinho mas um Falcon 9 tem carga útil de 13 toneladas.

O Brasil vem arrastando seu programa espacial faz tempo. Mesmo descontando TUDO feito antes, e lá se vão uns 50 anos, a Agência Espacial Brasileira foi fundada em 1994. Nunca disse a que veio. A SpaceX foi fundada em 2002 e está pensando a sério em mandar humanos pra Marte.

O VLS sofreu um grande baque em 2003 quando um acidente dizimou 21 engenheiros e técnicos. Aparentemente o foguete impaciente não quis explodir no ar, como os anteriores, e aproveitando uma carga eletrostática acionou um dos motores de combustível sólido, causando a tragédia.

Foi ruim? Foi, mas faz parte, acidentes acontecem, Werner Von Braun sabe disso, o pessoal da Apollo I sabe disso, vários cosmonautas sabem disso, só não sabem disso revistas irresponsáveis espalhando teorias conspiratórias.

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O que não é aceitável é a justificativa de que por causa do acidente é aceitável que em 2015 o VLS continue parado. Já vi gente batendo pé que não há mão de obra. Como assim? Só 21 pessoas fizeram engenharia aeroespacial na História do Brasil? Não havia mais ninguém nas faculdades em 2003 e de lá pra cá ninguém mais se interessou? Como a Avibrás e a Embraer contratam profissionais?

A desculpa da falta de verba também é bem usada. Não tem foguete porque não tem verba e não tem verba porque não tem foguete pra mostrar o resultado do investimento.

Agora parece que saímos desse loop Tostines. Wander Golfetto, vice-diretor do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica) declarou que por falta de verba o programa não será mais concluído.

Querem testar no final do ano que vem somente o primeiro estágio, e depois se focar no VLM — Veículo Lançador de micro-satélites, como se 300 kg fosse outra coisa.

Segundo Golfetto teriam percebido que o mercado está saturado, um foguete brasileiro como o VLS não teria clientes, e é mais barato contratar o lançamento de fornecedores externos. O dinheiro estaria em um foguete especializado em micro e nano-satélites.

Só que não está, meu caro. Esses cubesats vão como carga em Cápsulas de abastecimento para a ISS ou vão de carona em lançamentos normais. Um foguete dedicado a micro-satélites seria caro demais, não teria como competir com um lançamento que já foi pago por uma DirectTV da vida.

Não que esse programa vá sair do chão também, o VLM teve verba alocada de R$ 126,9 milhões; até agora recebeu R$ 10 milhões, quase tudo provavelmente gasto em Liquid Paper e fitas de Remington.

Estamos construindo outro foguete que ninguém quer, e em nossa postura pobres mas orgulhosos a FAB esclareceu as declarações de Wander Golfetto, explicando que não é bem assim, que não vão abandonar o VLS-1, estão planejando também o VLS-Alpha e o VLS-Beta, além do VLM.

Palmas pra dedicação, mas no caso de jogar dinheiro fora mantendo vivo um programa espacial que não passa de uma piada, não podemos dizer que sonhar não custa nada. Custa sim, dinheiro do contribuinte.

Uma pena que nossa capacidade tecnológica não seja do nível de nossa capacidade de inventar desculpas para nossos fracassos. Se fosse teríamos chegado em Marte bem antes dos indianos.

Fonte: BOL.

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