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O ponto de discórdia na indústria de software: existe pirataria justa?

17 anos atrás

Um carro possui toda uma engenharia por trás do seu funcionamento, mas para ela ser funcional, é preciso gastar com materiais e montagem. Então, o carro está para a informática como o computador propriamente dito, o hardware. A capacidade de criar o carro, o intelecto usado para projetá-lo seria o "software": um amontoado de metais, plásticos, vidro e silício organizados de uma maneira que pode virar um Fiat 147 ou um Mercedes.

O software possui uma complexidade enorme. Dependendo do que estivermos falando, o hardware não serve de absolutamente nada sem a engenharia de software para controlar o hardware. O PC como um todo, sem um sistema operacional, hoje em dia, é menos útil que uma torradeira. E não vamos esquecer dos caças de milhões de dólares que voariam tão bem quanto tijolos, sem o software.

Só que toda essa complexidade possui um fator único em relação a outras indústrias: o custo de replicá-lo é ínfimo em relação ao custo de produzir a primeira cópia. E por esse motivo, começam as discórdias.

Alguém lucrar com o software pirateado sem pagar as devidas licenças é um criminoso, um bandido. Todo mundo concorda nesse ponto. Roubou o trabalho alheio e está parasitando outra empresa em benefício próprio e ponto final. A Lei diz que piratear é errado, de qualquer forma, não havendo uma "desculpa" para usar um software sem pagar a licença pedida pelo fabricante. Mas um estudante ou recém-formado, que precisa estudar uma tecnologia tem poucas saídas: ou paga um curso caríssimo, ou não compra o software com o dinheiro que ele não tem (ou seja, fica chupando dedo) ou compra o programa por 10 reais e baixa tutoriais na internet para estudar e conseguir um emprego.

Um dia esse mesmo estudante pode ser o responsável pela compra dos softwares da empresa onde ele trabalha. Se o mercado não adota soluções livres, como inserir esse profissional no mercado? Como melhorar suas chances de emprego? Por exemplo, o SAP é usado em várias grandes empresas, no mundo inteiro. Os custos de treinamento são muito caros. Se o indivíduo não ganha o treinamento, mas quer melhorar de vida e sair do salário de programador júnior, para onde correr?

O Adobe Flash, hoje, chegou não apenas ao mainstream, mas grandes empresas o adotaram como recurso quase indispensável. Antes era visto como moda passageira de designers. Hoje em dia, temos aplicativos inteiros sendo criados com ele. Será que a Adobe considera perdas nas suas vendas o adolescente que começa a aprender Flash, usando cópias "alternativas"? Ou até mesmo o profissional que gostaria de aprender mais para melhorar o currículo e a empregabilidade? E se os conhecimentos forem apenas para saber das possibilidades, mas nunca realmente usar todo o potencial do software?

O assunto é complexo, mas algumas empresas reconhecem que existem usuários que precisam usar o software, mas ainda estão fora do seu "mercado". Dois exemplos do que deveria ser padrão:
- Microsoft, com as versões do Visual Studio Express gratuitas.
- Autodesk, com o Maya Learning Edition para uso não comercial.

Um caso real foi o de um conhecido que fez uma cópia do Computer Associates ERWin para estudar em casa as funcionalidades do programa, que custa 7 mil dólares. Será que a CA considera essa cópia uma perda desse valor para o mercado pirata? Notou como o assunto é complexo?

Existe a questão de cultura também. Mesmo com ofertas gratuitas, pessoas ainda compram versões "piratas" ou fazem downloads e usam "cracks legítimos" para destravar o software. Ainda assim, a indústria não deveria considerá-los todos como mercado e contabilizar milhões de dólares em perdas, já que não possuem o perfil ou o poder aquisitivo para comprar seus produtos.

Jogos são um caso à parte. Mesmo que jogos originais custassem 50 reais, ainda haveria pirataria. Duvida? Só passear pelo Pirate Bay ou Isohunt e verá a quantidade de "opções" oferecidas e são websites estrangeiros, sendo que o primeiro fica na civilizada Suécia. Jogos oferecidos por 9 dólares continuam sendo copiados e descarregados. Aqui no Brasil, pessoas que possuem o poder aquisitivo para pagar por um jogo nem consideram comprar o original, pensam logo em cópias piratas, chaves para destravar servidores e outros truques para jogar de graça.

O que vocês acham? Será que a indústria irá encontrar um ponto de equilíbrio e reduzir suas perdas, que são reais, mas que no modelo atual, tratam todos como bandidos? Se o profissional vende serviços usando o Adobe Photoshop pirata, ele é culpado de crime, na sua opinião? Ou por cobrar barato ele fica isento de pagar o preço pedido pela Adobe? O poder aquisitivo de um país é motivo para piratear software?

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