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2012–A Maior Aposta da Microsoft

12 anos atrás

Roulette Table & Wheel

Quem tem muitos carnavais no currículo, quem viu muita água debaixo da ponte está acostumado com o sobe e desce do mercado. Nós vimos cloud computing na época em que se chamava Cliente/Servidor, vimos essa onda de servidores virtuais na época em que ainda eram coisa de mainframes (mas já existiam) e vimos o Internet Explorer sair da irrelevância para salvador da pátria, virar vilão e agora disputar com o Opera o posto de melhor navegador que ninguém usa.

Eu vi a Microsoft na época em que ainda disputava espaço com o CP/M, mexi no Windows quando ainda era uma curiosidade, e todo mundo preferia o DOS, acompanhei quando a empresa ignorou solenemente a Internet por tempo demais, até Bill Gates soltar seu memorando clássico, uma das mais importantes peças da História da indústria de TI do Século XX. Em 3 meses a Microsoft se reestruturou e o Windows conseguiu permanecer relevante em um mundo que não deveria mais ser dele.

Mesmo assim em todos esses anos nessa indústria vital nunca vi um momento em que a Microsoft tivesse mais apostas no ar. Pela primeira vez até a próxima versão do Windows é uma incógnita. Estão investindo pesado em áreas onde não tiveram sucesso antes, estão investindo em áreas que ainda –a rigor- não existem e em áreas saturadas, mas com produtos repletos de potencial.

Vejamos algumas das áreas onde a Microsoft está apostando o tudo ou nada:

 

 

Windows Phone

windowsphone

Talvez a maior unanimidade dos últimos anos. Mesmo fãs da Apple dão o braço a torcer e admitem que o Windows Phone é bonito, rápido, elegante e uma metáfora totalmente diferente do iOS e do Android. A crítica especializada tece elogios fervorosos ao sistema, nos eventos o pessoal da assessoria de imprensa da Microsoft é cercado por gente PEDINDO smartphones para testar, gente que costuma esnobar celular enviado por fabricante (eu vi isso).

O problema: O Windows Phone chegou muito tarde. Todos os formadores de opinião, geeks, tecnófilos e heavy users já estão felizes e contentes com seus celulares. Trocar de sistema não é algo trivial, por mais que aquele linuxeiro mala insista em responder “instala Linux” quando alguém reclama de um driver de Windows em um fórum.

O público-alvo do Windows Phone passa a ser o novo usuário de smartphone, o jovem migrando do dumbphone, a empresa contratando um pacote de serviços agregados, o desenvolvedor WP.

A simples existência de um excelente produto não é suficiente para garantir seu sucesso em um mercado saturado, por isso a Microsoft está investindo MUITO, tanto em propaganda quanto em incentivos a desenvolvedores. Estão contratando softhouses para portarem seus produtos populares para a plataforma e estão dando excelentes condições na loja online. Acordos estão garantindo conteúdo exclusivo e os próprios vendedores das operadoras ganham comissão quando vendem um WP.

Se a Microsoft não for bem-sucedida terá abandonado o Windows Mobile e alienado seu pequeno mas fiel mercado corporativo, perderá uma boa fração de US$1 bilhão entre marketing e P&D, e –pior ainda- deixará de ser um player no mundo mobile, dependendo da Apple para garantir a existência do Bing em dispositivos móveis.

Quais as chances reais da Microsoft? NÃO SEI. Eu gostaria muito que o WP desse certo, o número ideal de SOs mobile é três, o suficiente para gerar competição sem que a fragmentação iniba a inovação.

 

Windows 8

windows8

Windows é Windows. Desde tempos imemoriais (ou Década de 80, como preferir) as pessoas estão acostumadas com ele, tudo está mais ou menos no mesmo lugar, 26 anos de aprimoramento em usabilidade criaram um ambiente estável, familiar e não-agressivo.

Uma versão nova do Windows significa que você terá novos recursos para aprender a usar, mas o dia-a-dia, o feijão com arroz continua o mesmo. O Windows 8 muda tudo.

A Microsoft vai tentar um sistema operacional com duas interfaces distintas, mas muito mais distintas que qualquer Linux brigando entre KDE e Gnome. A Metro é linda, é limpa, é inteligente e produtiva, mas é profundamente diferente de tudo que já existiu no desktop. É uma interface de filme, não de realidade.

Apostar no Windows 8 com Metro é zerar o placar, a Microsoft está abrindo mão de 26 anos de familiaridade do usuário. Mais ainda: Está apostando no formato de App Store, que nem no Mac está dando muito certo. É, isso mesmo. A quantidade de programas na App Store do OSX deixa muito a desejar.

A Microsoft quer que o usuário aprenda uma interface nova, aprenda uma nova forma de adquirir softwares, quer que os desenvolvedores criem programas muito mais restritos e bem-comportados do que estão acostumados a fazer, e isso tudo sem nenhum dado real de adoção do Windows 8.

Claro, a interface antiga continuará existindo e os programas rodarão normalmente, mas aí a Microsoft terá um sistema operacional com duas interfaces, das quais uma não será utilizada. Sem incentivo ninguém escreverá nada para Metro, e ela só ocupará espaço.

Worst Case Scenario, os fabricantes vendem computadores com Metro como default e os consumidores entopem os canais de suporte, exigindo devolução do dinheiro, pois o computador não é “Windows”.

Redmond terá que gastar uma tonelada épica de dinheiro divulgando o Windows 8, para que quando ele chegue ao mercado o consumidor e os desenvolvedores já estejam familiarizados com o conceito. É possível? Talvez. A Apple soltou tantos comerciais e vídeos do iPhone que quando ele chegou nas mãos dos usuários todo mundo já sabia como funcionava, e ficou com a ilusão de que era absolutamente intuitivo.

O Windows 8 terá a vantagem de entrar sem nenhuma concorrência, mas por outro lado pode ser ignorado e usado como um Windows 7S. Em um mercado cada vez mais hostil a desktops e notebooks. O que nos leva aos…

Tablets

Até agora existem dois modelos de tablets conhecidos no mercado: O iPad e o iPad Killer da Semana que falhará miseravelmente. Isso, claro, não vai durar. Da mesma forma que com os netbooks os usuários estão exigindo mais e mais poder de processamento. Apps como o Garage Band estão sendo usadas a sério, o consumidor quer o tablet que acha que merece, não o que precisa.

O Windows 8 foi todo pensado para ser esse tablet, e pode ocupar esse nicho, pois tem o poder do Windows, rodará as mesmas aplicações Metro do desktop e fugirá do estigma Android, de ser um iPad kibado que não roda Apps de iPad.

Isso, claro, se os fabricantes conseguirem projetar um hardware decente a preço competitivo. Se o Tablet Windows custar US$1200, mesmo que venha com cafeteira e Glory Hole, não venderá.

Também há o grave problema dos tablets Windows 8 ARM não rodarem aplicações nativas x86. Significa que a vantagem estratégica da imensa biblioteca de programas Windows existentes sai da mesa.

Se os tablets não vingarem a estratégia da Microsoft de estar em todas as telas perderá boa parte de sua força, o que é péssimo para a próxima grande aposta da empresa:

 

XBox

telejogo

Que a Microsoft vai lançar um novo console, todo mundo sabe, mas as opiniões se dividem quanto ao “formato”. Há quem diga que virá com BluRay, outros que irá abandonar totalmente a mídia física, mas o que é quase certo é que a parte videogame deixará de ser o foco, ele se tornará o centro multimídia de entretenimento da casa, como o Windows Home Server deveria ser.

Toda CES, toda E3, toda Feira dos Paraíbas tem um keynote da Microsoft mostrando como o dashboard do XBox está mais moderno, acessando (isso tudo na civilização, claro) mais e mais conteúdo, Netflix, Hulu, ESPN, o escambau a quatro. O Kinect está sendo transformado em um controle remoto futurista, já dá para apenas falar e pedir música no XBox, e nem é preciso fazer o gol mais bonito da semana.

Só que isso tudo é MUITO caro, os produtores de conteúdo estão metendo a faca pois sabem que essa mídia é um caminho sem volta, e a Microsoft ficará com a parte do leão quando começar a veicular publicidade no XBox.

A Apple tem sua Apple TV, o Google tem a Google TV e nenhum dos dois fez mais que marola, mas uma hora alguém vai desvendar o segredo do Graal. Reza a lenda que a última criação de Steve Jobs foi ALGO que abrirá esse mercado para a Apple. Eu não boto fé.

O XBox não estará sozinho, também terá competição nas Smart TVs e nas próprias operadoras de cabo, ao contrário do Brasil lá fora a maioria já disponibiliza interfaces inteligentes (estou olhando pra você, Sky!).

Para ter sucesso nesse mercado a Microsoft terá que oferecer um excelente pacote de conteúdo e –principalmente- vender a idéia de que o XBox é mais que um brinquedo ao mesmo tempo em que não é exagero pra quem quer somente assistir TV.

O tempo normal de amortização de um console novo é bem longo. O XBox360 foi lançado em 2005. Seu primeiro lucro operacional apareceu somente em 2008. Em 2007 a Divisão XBox da Microsoft reportava perdas de US$2 bilhões. Um novo console nessas condições é um salto para trás, que pode ser praticamente anulado se o 360 se tornar um agregador de conteúdo televisivo.

Só que para isso a Microsoft terá que desvendar o código que nem Steve Jobs desvendou, e vender aos consumidores algo que na melhor das hipóteses eles não sabem que querem.

Conclusão

A Microsoft só tem segurança em uma das 3 telas principais, o desktop. A Apple tem hegemonia no Tablet e uma boa cabeça de ponte no celular. O Android é fragmentado demais para dominar o celular, mas isso pode mudar com a estratégia do Google. Com a entrada na TV na jogada passaremos a uma disputa por 4 telas.

Isso já foi demonstrado de forma quase didática nas apresentações da Microsoft, eles estão cientes dos riscos e das recompensas, mas nunca enfrentaram uma guerra em tantas frentes simultâneas.

Se lograrem sucesso serão a grande força dos próximos 20 anos, mas se 2012 não der certo as coisas se complicarão. É razoável apostar que Steve Ballmer cairá, se isso acontecer. Não duvido sequer de uma eventual volta de Bill Gates ao comando.

2012 é o ano, e Redmond sabe disso. Acompanhemos.

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