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Indústria de Tecnologia e Windows Vista - In Microsoft We Trust

17 anos e meio atrás

Muitos consumidores jamais percebem como todo um movimento de indústria é orquestrado para que uma geração de produtos e tecnologias seja introduzida em massa, estimulando vendas por anos a fio.

Apesar de ser a empresa mais exposta, a Microsoft não é a única a ganhar com o lançamento de uma nova versão do Windows. A indústria de tecnologia inteira está com ela, tenha certeza disso. Em breve, softwares e drivers para Windows XP simplesmente deixam de existir. A culpa é da Microsoft?

Sem rodeios, não. Todo lançamento de sistema operacional da MS, uma série de novos requerimentos de hardware são criados, gerando uma demanda que faz a felicidade dos fornecedores de processadores, placas de vídeo, memória e mais ainda dos fornecedores das peças que compõe esses equipamentos. A demanda por resistores, capacitores, placas de silício, maquinário de produção, energia, mão de obra especializada e outras centenas de combinações que chega até os fornecedores de matérias-primas, passando por transportes e seguros.

Fui muito rápido na analogia? Então vou começar explicando a fonte de inspiração desse artigo.

Ontem fui na página da ATI procurando alguns drivers específicos para uma placa de vídeo e reparei no hotsite
Windows Vista Get Ready.
Essencialmente, eles usam o lançamento do novo sistema operacional como forma de promover suas placas de vídeo. Ao
clicar nesse link, é feita a pergunta: Are You Windows Vista Ready? (Você está pronto para o Windows Vista?). Em
seguida, há um link para instalar uma ferramenta de teste de hardware e definir se o seu equipamento está pronto ou
não.

A nVidia não está longe da ATI e na página principal há um botão
com os dizeres Get Ready for Windows Vista. O
link leva para um hotsite informando como o Vista é o primeiro sistema operacional Windows a fazer uso direto de uma
GPU: Windows Vista™ is the first Windows operating system that directly utilizes the power of a dedicated GPU
(graphics processing unit).
Logo depois anunciam que as placas de vídeo da empresa atendem a demanda de 10 vezes
mais processamento em relação aos SOs anteriores. E links para desenvolver para o DirectX 10 (Windows Graphics
Foundation 2.0) e GPUs com poder de processamento para fazer uso da tecnologia.

O meu PC Frank 2003¹ é uma máquina razoável. É possível jogar Half-Life 2 e World of Warcraft nele, mas para ter o
Vista, segundo a ferramenta da ATI, ela possui apenas os requerimentos mínimos. A placa de vídeo é uma Radeon 9700
128 MB Professional e ela não possui as tecnologias embarcadas necessárias para uma experiência completa com o Aero,
como Pixel Shader 3.0. Essa placa é superior a muitos equipamentos disponíveis no mercado e qualquer jogo criado até
2004 ela roda sem problemas. A maioria das pessoas que conheço, exceto um ou outro entusiasta, jamais pagaria o preço
necessário por uma placa de vídeo mais "parruda". O investimento normalmente vai para CPUs mais velozes ou
RAM.

Então a indústria de GPUs, com nVidia e ATI (agora da AMD) e Intel agradecem! Milhões de novas placas de vídeo e
chipsets embarcados serão vendidos por causa do Vista. A Dell, por exemplo, irá vender computadores com Windows XP e
Windows Vista. Eles ganham com a venda do hardware e não do software. Como o Vista irá demandar equipamentos mais
caros, a Dell ganha com as vendas. E HP, Lenovo, Toshiba com seus notebooks equipados com o Vista. Até mesmo a Apple
pode levar um naco, alegando que o Vista é ruim e pesadão e conquistando usuários com seu MacOS, rodando na
plataforma PC.

E ganham também os dois principais fabricantes de processadores para computadores desktop, Intel e AMD, que estão
lançando processadores muito poderosos, rodando o Windows XP com uma facilidade imensa. Se não há uma demanda de
base, o tempo para upgrade aumenta. Para escritórios, qualquer processador da linha X2 da AMD chega a ser um exagero.
Os Core 2 Duo, então, para rodar Word e Excel e assistir vídeos no YouTube? Um Pentium III 800Mhz faz isso
tranquilamente. E como processadores novos demandam chipsets novos, ASUS, Gigabyte, MSI, Abit e vários outros
fabricantes de placas-mãe colocarão um selo "Vista Ready" ou coisa parecida.

Hitachi, Hynix (antiga Hitachi), Micron, Mitsubishi, Samsung e outros
fabricantes de semicondutores também terão sua fatia. Os novos discos rígidos com memória Flash, mais cache, upgrades
de RAM, placas de vídeo, etc. Onde for necessário um upgrade, normalmente memória está incluso e todas essas empresas
faturam com isso.

E centenas, milhares de empresas em conjunto irão divulgar novos equipamentos e periféricos para o novo Windows. Por
exemplo, você resolve comprar um scanner de 200 reais e do lado, um outro modelo do mesmo fabricante por 250 com o
selo "Vista Ready" ou "Supported by Vista". Qual é o mais vantajoso? Correr o risco do scanner
ficar obsoleto em termos de drivers 6 meses depois ou adquirir o modelo "novo", com suporte ao novo SO?

O objetivo desse artigo é justamente alertar que os interesses por trás de um lançamento passam longe da discussão
Software Livre x Software Proprietário. Na verdade o assunto é apenas diversão para as massas. Enquanto estamos
distraídos qual a melhor distro de Linux ou se o Vista requer mundos e fundos de hardware para rodar a interface
gráfica com todos os badulaques e penduricalhos, iremos ler reviews e benchmarks de websites conceituados no Vista.

Vamos rever por alto alguns upgrades feitos há 10 anos? DOS para Windows 3.11: 4 MB de RAM era o padrão, com
processadores 386 e os entusiastas colocavam 8 MB de RAM. O Windows 95 marca uma fase radical na era dos upgrades. O
"mínimo" passa a ser 8 MB de RAM com o 386 ficando na distância. O computador padrão passou a ser o 486 DX2
66 MHz. Foi um agressivo choque de upgrades, principalmente quando a Microsoft lançou o DirectX e as primeiras
Diamond Monster começaram a chegar. O Windows 95 e o Vista ocupam a mesma posição: são sistemas operacionais de
choque e transição. O produto final do Win95 foi o Win98, que exigia 32 MB de RAM, mas já não era tão traumático,
pois os preços haviam caído consideravelmente, deixando de ser a parte mais cara de um PC. O processador da classe
Pentium 200 MHz ou melhor torna-se padrão. Começa a migração para o Pentium II e por volta de 2000, Pentium III, com
o lançamento do Windows 2000.

O Windows XP foi, na época, considerado um bloatware absolutamente ridículo: 128 MB no mínimo com 256 MB para usá-lo
de forma satisfatória. Na verdade, até hoje muitos o consideram demasiadamente pesado para realizar tarefas que o
Windows 98 faz consumindo 1/5 dos recursos. O XP foi um choque de performance para usuários caseiros mas quem usava o
Windows 2000 achou maravilhoso não precisar dar um boot com 3 minutos de duração, por causa das exigências de
hardware. A maioria das máquinas ainda usava menos de 128 MB de memória e o número mágico para ele é 256 MB de RAM ou
mais.

Em 2010, quando os computadores de 2006 serão considerados carroças, o Windows Vista encontrará sua maturidade (o
equivalente ao Windows 98) e aí sim, 2 GB de RAM e processadores dual-core bem baratos serão mais do que suficientes
para rodar ele e as aplicações, justamente na época que o Windows Óculo² será anunciado, com rumores que será
necessário um AMD Octhlon² ou um Intel Octocore² da vida, repetindo o ciclo de upgrades.

¹ Especificações do PCFrank 2003 (upgrade no processador em 2004 de um Athlon 2000+):

AMD Athlon 2500+ Barton Core

1GB de RAM

ATI Radeon 9700 128 MB Professional

3 HDs de 7200RPM com 250GB no total

Sound Blaster Live! 5.1

² Nome meramente poético. ;o)

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